Obras paralisadas também fazem parte do cenário local

Obras do Hospital da Mulher se encontram paralisadas Foto: Pedro Augusto

Hospital São Sebastião

Pedro Augusto

De acordo com o levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que foi divulgado no último mês e tomou como parâmetro os dados do Ministério do Planejamento, hoje existem 2.796 obras paralisadas em todo o país. Segundo ainda o estudo, a crise econômica piorou a situação, mas não justifica “tantas obras paradas Brasil afora, tampouco essa é uma situação nova no território nacional”. Incluída neste contexto, na Capital do Agreste pelo menos três obras inacabadas permanecem sem prazo de conclusão evidenciando ainda mais a má utilização do dinheiro público: o Complexo da Polícia Científica, o Hospital da Mulher e o Hospital São Sebastião.

Tendo como responsáveis o Governo do Estado, as intervenções dos três empreendimentos permanecem se arrastando ou totalmente paralisados, já há longos anos, acarretando na falta de prestação de serviços importantes para a população de Caruaru e de toda a região Agreste. Em visita esta semana aos endereços dos espaços citados, a equipe de reportagem do VANGUARDA comprovou o cenário de abandono que tem se sobressaído nas unidades que ainda não foram inauguradas ou reinaugurada – esta última se referindo ao São Sebastião – pelo governo.

Nelas, o mato, o lixo e a fedentina já são “inquilinos” de longas datas, causando ainda mais revolta nos populares que residem, trabalham e transitam pelas suas imediações. O feirante José das Garças, que comercializa frutas e verduras na Avenida Brasil, no Bairro Universitário, onde deveria já estar funcionando há tempos o Complexo da Polícia Científica, foi um dos a criticar esta obra parada.

“Isso é um absurdo! Não só a população em geral, mas, principalmente, os órgãos de segurança vêm se prejudicando bastante devido a não inauguração deste espaço. Se não fosse a visita constante de alguns policiais aposentados, o local já estaria sendo utilizado como ponto de drogas há muitos anos! Soube pelos próprios policiais que o governo deixou de pagar à construtora que vinha tocando as obras e ela acabou dando no pé!”, criticou José. O ambulante reside há mais de 10 anos no bairro vizinho, São João da Escócia, e vem acompanhando o arrastar das obras do complexo há pelo menos sete.

Elas foram iniciadas em outubro de 2011 e, de acordo com o cronograma do Governo do Estado, deveriam ter sido finalizadas no prazo máximo de 300 dias. No espaço, deveriam estar sendo prestados, desde esta época, os serviços do Instituto de Criminalística, do Instituto Médico Legal e do Instituto Tavares Buril. De acordo com a pesquisa feita pelo VANGUARDA, desde 2013 que nenhum investimento tem sido empregado no local. De início, a construção do complexo iria custar R$ 4 milhões ao governo. Ele seria a solução para os problemas enfrentados pela Polícia Científica, já há décadas, no tocante a melhores condições de trabalho.

Hospital da Mulher

Com a sua construção iniciada no dia 13 de maio de 2013, o Hospital da Mulher de Caruaru, na Avenida José Rodrigues de Jesus, no Bairro Indianópolis, estava previsto para ser inaugurado, de acordo com a estimativa do Governo do Estado, no dia 7 de julho de 2014. Se já estivesse funcionando, a unidade ofereceria os serviços de urgência e emergência 24h, em média e alta complexidade, nas especialidades de ginecologia e obstetrícia. Em paralelo, ainda disponibilizaria atendimentos ambulatoriais nas especialidades de ginecologia, mastologia, oncologia, obstetrícia, pediatria e neonatologia.

Segundo um vigilante, que trabalha no local e preferiu não ter o nome revelado, uma construtora chegou a dar andamento às obras no ano passado, porém as paralisou também devido à falta de pagamento por parte do Governo do Estado. “Já faz muito tempo que este espaço se encontra assim: praticamente abandonado. Se não fosse o nosso trabalho como segurança, o local já teria sido invadido. Se não há dinheiro, não há obra. Daqui a pouco, o governo vai ter de construir outra estrutura, porque essa de agora já está entregue ao mato e cada vez mais desgastada. Uma verdadeira vergonha para o governador Paulo Câmara!”, afirmou.

São Sebastião

Diferentemente das duas unidades citadas, o Hospital São Sebastião chegou a ser inaugurado funcionando por vários anos na Avenida Agamenon Magalhães, no Bairro Maurício de Nassau. Mas desde 2004, quando foi iniciada uma série de reformas, que ele se encontra de portas fechadas. No intuito de garantir a reabertura, em agosto do ano passado, a Prefeitura de Caruaru chegou a solicitar, junto ao governo, a municipalização do espaço. Porém, tal proposta acabou sendo rechaçada com a justificativa de que uma Organização Social ficaria à frente da gestão do São Sebastião.

O HSS, segundo a estimativa da Secretaria Estadual de Saúde, deveria ter sido reinaugurado no último mês de dezembro. Entretanto, passados todos esses meses, o que se vê no local são portas fechadas, entulhos acumulados e menores utilizando drogas no seu entorno. Um mototaxista, que atua numa praça em frente ao hospital e também preferiu não ter o nome revelado, disse que não é de hoje que a unidade só tem contado com a atuação de vigilantes. “Essa história de que tem havido reparos no local é balela! O governo atual, simplesmente, deu às costas para o São Sebastião e a população é que se vire para buscar os serviços de saúde nas unidades superlotadas”, criticou.

Sabedor da situação de descaso do São Sebastião, no último dia 9 de julho o Ministério Público de Caruaru, através da 4ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania, ingressou, junto à Justiça, a Ação Civil Pública nº 0004817-64.2018.8.17.248 contra o Governo do Estado, com o objetivo de garantir a reabertura e, consequentemente, o funcionamento desta unidade que não presta serviços à população há 14 anos. A ação solicita ainda ao governo o saneamento de inúmeras irregularidades estruturais, administrativas e higiênico-sanitárias do Hospital Regional do Agreste. Até o fechamento desta matéria, ambos os envolvidos aguardavam o pronunciamento do Judiciário.

Respostas

Por meio de nota, a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco se pronunciou a respeito do Complexo da Polícia Científica de Caruaru. “A SDS informa que a entrega do complexo à população está prevista para 2019. Atualmente, está sendo realizada uma readequação no projeto da unidade, no intuito de alinhá-lo às novas tecnologias existentes, garantindo o melhor funcionamento dos serviços prestados pela Polícia Científica. A expectativa é que, assim que finalizado o novo projeto, seja lançado edital visando à conclusão das obras. Essa licitação ocorrerá neste segundo semestre de 2018.”

“Também é importante ressaltar que o Instituto de Medicina Legal (IML) de Caruaru, ampliado no início do ano, está funcionando normalmente, assim como o Instituto de Criminalística da cidade. Ambos, inclusive, receberam reforço de novos policiais oriundos do último concurso, ampliando a quantidade de equipes nas ruas e o atendimento às ocorrências”, finalizou o texto da SDS.

Já no que diz respeito às não conclusões das obras do Hospital da Mulher e do São Sebastião, também por meio de nota, a Secretaria Estadual de Saúde justificou que: “Caruaru, polo e referência em Saúde para as outras cidades do Agreste pernambucano, vem recebendo, nos últimos anos, o maior investimento em saúde pública da região. A cidade recebeu, dentro do planejamento da rede de assistência do Agreste, a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), inaugurada em 2010; a Unidade Pernambucana de Atenção Especializada (UPAE), em 2013; e o Hospital Mestre Vitalino (HMV), a maior e mais moderna unidade de saúde do Interior, inaugurado em 2014. Ao todo, essas obras receberam investimentos de mais de R$ 135 milhões.”

“A Secretaria Estadual de Saúde (SES) está trabalhando para colocar em funcionamento o Hospital São Sebastião e o Hospital da Mulher do Agreste. A SES esclarece, ainda, que diante da grave crise que atinge todo o país, a prioridade foi a manutenção e qualificação dos serviços já ofertados à população. O Estado, que tem uma das maiores redes próprias do país, garantiu o funcionamento de todas as unidades de saúde, inclusive com incremento nos atendimentos à população. Importante destacar que Pernambuco é um dos estados que mais investem recursos próprios na saúde, ocupando o 1° lugar do Nordeste em investimentos estaduais no setor”, complementou o texto.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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