OPINIÃO: Chegou o mês de junho!

Por DANIEL FINIZOLA

Se analisarmos as origens de Caruaru, veremos que a conexão entre o rural e urbano foi fundamental na construção de aspectos marcantes da nossa cultura. Vamos lembrar que o ciclo junino começa no dia de São José. O agricultor conforta a semente de milho no solo esperando a chuva. À noite, o homem do campo admira a fogueira que arde na frente da casa. Os olhos encantados pelas chamas brilham sonhando com a colheita do milho que vai virar canjica, pamonha, mungunzá.

Quando junho chega, é hora de colher. Levar pra Feira de Caruaru o fruto de muito trabalho e prece. O diálogo entre a zona rural e urbana sempre teve a feira como ponto de convergência. Além do milho, é na feira que encontramos os fogos da meninada, o vestido matuto, o pé de moleque. É como se, em junho, as cidades do Nordeste ficassem mais rurais e brejeiras, abraçadas pela chuva e pelo frio.

Santo Antônio inaugura os festejos alimentando o sonho das meninas. Faca no tronco da bananeira, pingo de vela na água, vale tudo pra achar a tampa certa da sua chaleira. Para os corações que já acharam seu par, é tempo de trocar presentes, dançar um forró pegado, namorar, renovar os votos de carinho, amizade e amor.

Logo depois, vem o santo quente da festa. Aquele que, segundo a música, bateu um papo com São José pra mandar a chuva que vai gerar 20 espigas de milho em cada pé, lembra? Essa é a noite em que as fogueiras ganham as ruas. Os mais velhos esperam a lenha queimar pra descascar o milho e aproveitar a brasa. A meninada afoita puxa logo um tição pra acender o traque de sala, a chuvinha, o “musquito”, o vulcão e a tão temida bomba – aquela que a vizinhança adora!

Lá pelo finzinho do mês, vem São Pedro. Esse tem a chave do céu nas mãos. Foi o primeiro papa da Igreja, mas hoje o que ele consegue mesmo é deixar muita saudade do período que marca as manifestações mais telúricas do Nordeste, onde o religioso e o profano se confundem, constituindo os símbolos que marcam a religiosidade e a cultura nordestina.

Infelizmente, muitas das cenas que descrevemos estão ficando cada vez mais raras. As cidades do interior do Nordeste estão ganhando cada vez mais importância econômica, social e política. O progresso vai conectando os lugares, deixando os seus cidadãos à mercê da globalização, que geralmente impõe mais que dialoga, pondo em xeque as suas identidades locais. Não há nada de errado na troca cultural, mas é preciso identificar a natureza dessas relações e analisar quais as consequências que ela pode gerar.

Até semana que vem!

daniel finizola

 

@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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