OPINIÃO: Distante dos fatos

Por MAURÍCIO ASSUERO*

Se a instabilidade econômica já é uma realidade, devemos nos preparar para vivenciar um momento de instabilidade política. As ações do governo afetam diretamente a economia. A Bolsa cai ou sobe se o presidente “espirrar”, quanto mais se o presidente está ameaçado de impedimento ou de renúncia. As esperanças do Brasil para sair da crise econômica se apoiam em dois pilares (isso é que incomoda mesmo: temos apenas dois pilares!), que são o aumento de exportações e o sucesso do ajuste fiscal.
O ajuste fiscal implica, necessariamente, num esforço supremo da sociedade em suportar juros altos, desemprego em alta, crescimento econômico baixo e inflação alta.

Em vários momentos aqui, já alertamos que a inflação real difere da inflação oficial. O governo trabalha com uma inflação de 9% ao ano, no entanto, a inflação de baixa renda já está em 9,5% ao ano. Isso ocorre porque as pessoas de renda alta têm uma variabilidade de consumo muito diferente daqueles de renda baixa. Quem ganha um salário mínimo, por exemplo, tem pouca flexibilidade para formar sua cesta de consumo e por isso acaba penalizado. No fundo, se você guardou sua nota de compras do supermercado dos meses anteriores, basta comparar os preços agora.

O controle da inflação é feito, geralmente, através do controle da oferta de moeda. Reduzindo a oferta de moeda (entenda-se os meios de pagamentos), a taxa de juros aumenta e as pessoas deixam de consumir para aplicar em títulos. Com isso, os preços cairão. Outra forma, mais cruel, é através do aumento do desemprego. Se a renda cai, o consumo cai e os preços seguem o mesmo movimento. É uma forma cruel de controlar a inflação e o mais chocante é que o governo está fazendo as duas coisas.

Estamos falando de pessoas com responsabilidades (colégio, aluguel, casa própria etc.) e, quando essas pessoas se tornam inadimplentes, obviamente que elas afetam as demais empresas. Por exemplo: a indústria de papel que faz embalagens está demitindo pessoas porque a demanda pelos seus produtos caiu, ou seja, como as vendas caíram, os comerciantes deixam de demandar tais produtos. A cadeia produtiva é afetada como um todo.

Aumentar as exportações tem como premissa a competitividade dos preços dos nossos produtos em relação ao mercado internacional. Então a forma de aumentar essa competitividade é desvalorizando a moeda. Com isso, o dólar fica mais caro para que os brasileiros se aventurem em compras no exterior e isso favorece a produção doméstica. Tem o inconveniente de comprometer as empresas que importam matérias-primas ou que tenham endividamento em moeda estrangeira.

O maior problema de tudo isso é a situação política. O governo não tem mais qualquer condição de mobilizar a sociedade em defesa dos seus propósitos. A aprovação da presidente Dilma chegou a 9% e todas as forças politicas, inclusive as que estão na base aliada, estão trabalhando para cortar as cordas do balanço que embala o governo. Qualquer um que tente salvar essa situação precisa estar disposto a esclarecer, ponto a ponto, todos os desmandos que geraram este nível de corrupção muito visto em países ditatoriais, não numa democracia como a nossa.

*Maurício Assuero é economista e professor da UFPE

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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