OPINIÃO — Palavra de Tombinni

Por Maurício Assuero

O assunto da semana foi, sem sombra de dúvidas, o texto divulgado pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombinni, um dia antes da reunião do COPOM – Conselho de Política Monetária sobre a questão da taxa de juros, a taxa SELIC, que é a referência do custo do dinheiro no Brasil. A questão versava sobre aumentar a SELIC ou manter no índice de 14,25% ao ano. O mercado esperava um aumento de 0,25 ou 0,5 pontos percentuais e aí vem Tombinni e faz uma referência pública a um relatório do FMI que indica uma queda da ordem de 3,5% no PIB brasileiro este ano.

Tendo como objetivo a volta da inflação para meta (diga-se de passagem que esta metodologia da meta inflacionária é devida ao competente funcionário do Banco Central, Alexandre Tombinni), notadamente o interesse do presidente do Banco Central (vamos fazer uma distinção entre o funcionário do Banco Central que é competente e o presidente que é subserviente a presidente Dilma até de ter dito algo parecido com “eu mando no Banco Central, mas a Dilma manda em mim”) era um aumento na taxa SELIC para tentar, em 2017, uma inflação baixa, próxima a 4,5% ao ano.

O mercado não acreditou numa profunda rendição do último baluarte da economia. É como, numa batalha, um dos lados notar que não tem mais munição. O resultado imediato foi o aumento da falta de credibilidade no governo. A questão da inflação é antiga e de uma forma absoluta equivocada o governo fez tudo que podia para manter a inflação em valores baixos usando artifícios que prejudicaram suficiente o próprio governo. Por exemplo: a manutenção dos preços dos combustíveis quando o mercado internacional sinalizava alta do petróleo; a prática irresponsável de conceder redução da ordem de 28% nas contas de luz, transferido o rombo provocado no sistema Eletrobrás para o “lombo” da população, dentre outras. O resultado de tantas sandices tem como consequência este momento econômico insuportável.

A relação entre Banco Central e governo existe e deve ser relação de independência. Dilma diz, aos quatros cantos, que o Banco Central é autônomo, mas na prática (basta ver o que disse seu presidente) o Banco Central faz aquilo que é do interesse do governo e não da economia. Nos Estados Unidos, por exemplo, apesar do presidente do FED – Federal Reserve (o Banco Central americano) ser nomeação do presidente de república, a postura tem se pautar a política monetária no interesse da economia e não do governo. Como o Banco Central tem a responsabilidade de operacionalizar a política monetária, então seria muito importante que Tombinni procurasse razões para explicar porque a taxa de juros está alta, o desemprego está aumentando, o produto caindo e a inflação continua fora da meta. Seria bom que ele não consultasse Dilma.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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