No dia seguinte ao debate entre os presidenciáveis, na Band, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lamentou aquilo que classificou como “domínio do país pelo ódio”. Para o petista, episódios de ataques a religiosos por pregarem a compaixão pelos pobres são o principal exemplo dessa escalada.
“Nunca tinha visto o Brasil tomado pelo ódio. Tenho ouvido falar sobre padres que estão sendo atacados porque estão falando da fome, por que estão falando da pobreza”, lamentou, acrescentando que se trata de um problema mundial, tanto que lembrou a eleição de Giorgia Meloni para primeira-ministra da Itália.
O petista voltou a se encontrar com religiosos da Igreja Católica, mostrando que o tema tomou uma grande dimensão na campanha — mais cedo, ele fez campanha em São Mateus, zona leste da capital paulista, ao lado do vice Geraldo Alckmin, do candidato do PT ao governo do estado, Fernando Haddad, e do deputado federal eleito Guilherme Boulos (PSol). Entre os que estiveram com Lula, na Casa de Portugal — no bairro da Liberdade, na capital paulista —, marcaram presença sacerdotes católicos dos coletivos “Padres da caminhada” e “Padres contra o fascismo”, que, somados, reúnem mais de 500 religiosos de diversas dioceses. O petista conclamou-os a realizar conferências para discutir temas a serem incluídos no orçamento da União.
PIB
Se Lula e Alckmin procuraram estreitar os laços com os religiosos, em outra direção foram a senadora Simone Tebet (MDB-MS), o economista Armínio Fraga e a deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP). O trio se reuniu, também ontem, com cerca de 650 empresários, banqueiros, CEOs e economistas para tentar convencê-los a votar na chapa do petista, no dia 30. O principal argumento apresentado por eles foi o risco que consideram representar a reeleição de Jair Bolsonaro (PL) para a democracia no Brasil.
Os organizadores salientaram que o encontro não era uma manifestação de apoio a Lula, mas sim uma tentativa de conseguir novos apoios à chapa para derrotar o presidente que tenta a reeleição.
Simone sugeriu que caso Bolsonaro consiga novo mandato, poderá tentar um terceiro para se manter no poder. “A democracia já está fragilizada desde o primeiro dia do governo Bolsonaro. Eu estava lá em Brasília. O governo coloca uma instituição contra outra. E hoje já domina o Legislativo com o orçamento secreto. Poderá aumentar o número de ministros do Supremo Tribunal Federal e concentrar mais poder, acovardar os ministros do STF e, talvez, até implantar um terceiro mandato”, alertou.
O encontro foi organizado na casa da ambientalista Teresa Bracher e de seu marido, o banqueiro Cândido Bracher, mesmo lugar onde Simone começou sua campanha no primeiro turno. O evento também teve como organizadores Marisa Moreira Salles, Neca Setubal, a advogada Maria Stella Gregori, o editor Tomas Alvim e Ana Paula Guerra.
Fraga explicou o motivo de fechar com Lula. “A realidade do bolsonarismo acabou se impondo. A mudança do meu voto espelha o medo da deterioração da democracia. Se havia alguma dúvida, isso desapareceu. Vou votar no Lula sem qualquer condição”, disse.
Já Marina destacou ter três razões para votar no petista: compromisso com a democracia, o “imperativo ético” de combate às desigualdades e a possibilidade de estabelecer um processo de mudança para um modelo de desenvolvimento sustentável com a transição para uma economia de baixo carbono.
Estiveram com Fraga, Marina e Simone diretores e CEOs de empresas como Bloomberg, BMG, Safra, Siemens, Suzano, Grupo Europa, Standard Bank Group, Grupo Ultra, Thyssenkrupp South America, Santander e outros gigantes, além de economistas e empresários.