Por Diogo Taranto
O cenário já é dramático. Os Estados do Sudeste e Centro Oeste vivem a pior seca dos últimos 91 anos. Os aumentos na tarifa de energia elétrica já são realidades que impactam a inflação, onerando famílias em todo o país. Os riscos de um novo apagão e até de desabastecimento no fornecimento de água para a população e no setor produtivo, provocam insônias em gestores públicos e do setor privado. A tão almejada recuperação econômica sofre reais ameaças de um céu quase árido, que parece ter ficado indiferente às nossas ambiciosas necessidades.
Resta-nos buscar soluções efetivas que minimizem a emergência climática. Além de seguirmos na missão global de descarbonizar o planeta, embora não possamos controlar os desígnios da natureza, temos a obrigação de trabalhar na melhor gestão do consumo e na aplicação de tecnologias que tornem nossa sociedade mais limpa e sustentável. No caso da escassez de água, o reúso é um dos protagonistas.
Não há como abrirmos mão deste instrumento tão eficaz. Tecnologias já consolidadas e disponíveis no mercado como as membranas de ultrafiltração e de osmose reversa fornecem resultados impressionantes e extremamente seguros, produzindo água com elevados teores de pureza, garantindo a eliminação inclusive de bactérias e vírus, e até de contaminantes não tratados atualmente nos sistemas convencionais de abastecimento público.
No caso das indústrias, grandes complexos urbanos e centros comerciais, que ao final são os grandes consumidores de água, os benefícios do reúso, além de ambientais, se traduz em economia direta, sendo possível reduzir em cerca de 50% o valor gasto com água oriunda de concessionárias públicas. Ganha a empresa e a sociedade que terá maior disponibilidade, sofrendo menos com riscos de desabastecimento.
De acordo com o Portal Trata Brasil, as perdas na distribuição são gigantescas. Para cada 100 litros de água captada, tratada e potável, quase 40 litros não chegam de forma oficial a ninguém, o que equivale a mais de 7 mil piscinas olímpicas de água perdidas diariamente e representam mais de R$ 12 bilhões em prejuízos financeiros.
Embora o Novo Marco do Saneamento, aprovado pelo Congresso Nacional no ano passado, seja uma ótima notícia para o setor – com injeção de algo em torno de R$ 700 bilhões até 2033 – o Brasil ainda carece de melhores legislações sobre o reúso de água, em todas as esferas governamentais.
Já há bons cases de aplicações de reúso e busca de fontes alternativas para abastecimento nos mais diversos segmentos. Contudo, em um universo de mais de 20 milhões de empresas existentes no País, a prática ainda é baixíssima, realizada de forma pontual e desordenada.
Faltam impulsos e incentivos, além de campanhas efetivas de conscientização de reúso que precisa se tornar uma cultura nacional. O fato de termos cerca de 12% da água potável do mundo cria uma errônea sensação de que o recurso é abundante, infinito. A retórica além de equivocada, contribui para alimentar práticas de displicência danosas e às vezes irresponsáveis.
Nesta época do ano vemos a mídia cumprindo seu papel de alertar para os baixos níveis de reservatórios estratégicos como o Sistema Cantareira (SP), por exemplo. Pela imensidão geográfica do Brasil, nos acostumamos a ver as poucas chuvas que surgem em algumas regiões, caírem em locais não tão urgentes. Todos os anos, assistimos a nuvens que erram o alvo, em um triste e irônico dilema.
A chamada ‘disponibilidade de água’ é desafio de todos. Carrega admiráveis predicados de ser uma prática sustentável, mas é uma ação que não dá margem à opção. Ela é essencial e ao mesmo tempo estratégica, principalmente para os grandes empreendimentos comerciais e industriais.
Quando olhamos para debates em torno dos valores de ESG – Governança Ambiental, Social e Corporativa, a água surge como bem fundamental a ser preservado. O descontrole climático que enfrentamos hoje no mundo nos dá a certeza de que cada gota reutilizada fará diferença em nosso futuro.