A corrida pela Presidência da Câmara dos Deputados e do Senado vai definir os rumos de postos fundamentais para o andamento das pautas do último biênio do governo Bolsonaro e igualmente importantes para o equilíbrio de forças entre os poderes diante de um Executivo por vezes imprevisível e afeito a atos autoritários. Os escolhidos terão de lidar também com incertezas na economia. A pauta da área já está travada em razão de disputas políticas. Somam-se ao cenário de desafios dos próximos presidentes das Casas os efeitos da pandemia da Covid-19.
O compasso de espera teve fim com a decisão do Supremo Tribunal Federal de impedir a reeleição dos presidentes das Casas e, apesar das eleições ocorrerem apenas no dia 1° de fevereiro, de antemão, já testam, ao mesmo tempo, o poder de articulação do governo, após a aproximação dos últimos meses com o Centrão e, no caso da Câmara, a capacidade do atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ) de dar prosseguimento a uma agenda de protagonismo do Legislativo. Enquanto no Senado o atual presidente Davi Alcolumbre (DEM-AP) afirma ter acordo com o presidente para que o seu candidato tenha apoio do Planalto, Maia atua na costura de um contraponto a Arthur Lira (PP-AL), nome, até aqui, abraçado por Bolsonaro para vencer o pleito da Câmara.
“O posto de presidente da Câmara tem importância para dentro do Congresso, para conseguir construir uma concertação política. O governo Bolsonaro está indo para a sua segunda metade e ter o líder da Câmara ao seu lado seria meio caminho andado para a continuidade da agenda. Além disso, a construção de alianças para viabilizar a vitória do candidato do governo já pode significar uniões para 2022, seria uma construção política importante para Bolsonaro, sobretudo quando estamos em uma crise preocupante e há sinais de formação de uma coalizão de forças visando derrotá-lo”, avalia Priscila Lapa, cientista política e professora da Faculdade de Ciência Humanas de Olinda (Facho).
Ela acrescenta que esta disputa é completamente diferente de outras eleições. “A coerência passa distante da questão mais ideológica. O que se visualiza são os ganhos internos que o partido pode ter, os deputados podem ter. Então há um olhar dos parlamentares para dentro, uma visão corporativista”, pontua.
Arthur Lira (PP-AL) esteve, na última segunda, reunido com o governador Paulo Câmara (PSB) e parlamentares pernambucanos, no Palácio do Campo das Princesas. Na última quarta, ainda sem caráter de definição de posição, a maioria da bancada do PSB decidiu pelo apoio à sua candidatura, entretanto, ontem, de forma unânime, o Diretório Nacional do partido recomendou que os parlamentares socialistas não apoiem Arthur ou qualquer outro nome apoiado pelo Planalto.
“É uma recomendação, não é fechamento de questão, nem uma decisão que imponha a bancada a agir. Naturalmente, o partido não pode ignorar uma recomendação do seu diretório nacional. Claramente, uma decisão que tem menos a ver com a candidatura e mais com a vinculação com o governo”, destacou o deputado Tadeu Alencar (PSB).
Lira oficializou a sua candidatura na última quarta-feira. Líder do PP na Casa e também do centrão, o deputado afirma contar, até aqui, com cerca de 170 votos oriundos de parlamentares do PP, PL, PSD, Solidariedade, Avante, PSC, PTB, PROS e Patriota. Os apoios, porém, não são garantidos, uma vez que os nomes especulados para formalizar candidaturas são diversos.
Os pernambucanos Luciano Bivar (PSL) e Fernando Filho estão entre eles, e teriam apoio de Maia. O segundo, tem seu nome especulado, desde o ano passado, para ser sucessor do atual presidente. Já Bivar, preside o PSL, que conta com 41 parlamentares, apesar da fragmentação gerada pela saída do presidente.
“O PSL não é um ator irrelevante. Apesar de ser disperso, pode ser fiel da balança pelo tamanho da sua bancada. Quando Bivar se lança candidato, sabe o que está fazendo, sabe que tem poderio de articulação política, principalmente com os mais distantes do núcleo duro do governo. É um nome forte pelo poder que pode ter, então quem quiser ganhar, precisa olhar para o PSL com muito carinho”, avalia Priscila Lapa. Além do DEM, integrariam o bloco do candidato que vier a ser formalizado por Maia, o MDB, PSDB, PV, Cidadania e PSL. Juntos, esses partidos reúnem 157 deputados, porém nem todos os parlamentares devem aderir à candidatura.
Também são colocados como possíveis candidatos Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Baleia Rossi (MDB-SP), Capitão Augusto (PL-SP), Elmar Nascimento (DEM-BA), Fábio Ramalho (MDB-MG) e Marcos Pereira (Republicanos -SP). Este último é o atual 1° vice – presidente da Câmara dos Deputados.
“Nossa bancada do Republicanos e do Podemos tem o entendimento de lançar Marcos Pereira e estamos trabalhando nessa direção, dialogando com outros partidos e na próxima terça-feira vamos fazer uma reunião de trabalho para uma avaliação do cenário da disputa. Nosso foco é trabalhar pelo fortalecimento da candidatura, que tem compromisso com a agenda de reformas (Tributária, Administrativa e Pacto Federativo). Estamos conversando com PT, PSB, PDT e outros partidos”, aponta o deputado Silvio Costa Filho (Republicanos).
Quem também deve se reunir na próxima terça-feira para discutir as eleições da Câmara é o Solidariedade. O deputado Augusto Coutinho (SD), entende que, neste momento, a candidatura de Arthur Lira “está tomando corpo”. “A movimentação que houve semana passada, com o processo do Supremo impedindo a candidatura de Rodrigo Maia fragilizou ele um pouco.
Na medida que ele não pode, precisa de uma alternativo, isso fragiliza, mas é tudo muito dinâmico. Ainda estamos em dezembro, a eleição é em 1° de fevereiro, tem muita água pra rolar, os partidos se movimentam. Arthur tem a qualidade de ser visto como um cara que cumpre seus compromissos e tem por trás dele um partido que é forte, mas ainda há muito a ser discutido”, enfatiza Coutinho.
Senado
A sucessão de Davi Alcolumbre, por enquanto, é debatida apenas nos bastidores. Ainda não há candidaturas formalizadas, ou definições dos partidos. Dono da maior bancada do Senado, o MDB surge com o líder do governo na Casa, o pernambucano Fernando Bezerra Coelho, como um dos nomes especulados para a disputa.
Outros emedebistas, no entanto, também são colocados, como Eduardo Gomes (MDB-TO), líder do governo no Congresso; Eduardo Braga (MDB-AM), líder do partido no Senado; e Simone Tabet (MDB-MS), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Também surgem entre os especulados, o senador Antonio Anastasia (PSD-MG), atual vice-presidente da Casa, e Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
Na última quinta, o grupo Muda Senado, formalizou a intenção de seis nomes em concorrerem à Presidência da Casa: Major Olimpio (PSL-SP), Jorge Kajuru (Cidadania-GO), Mara Gabrili (PSDB-SP), Alvaro Dias (Podemos-PR), Lasier Martins (Podemos-RS) e Alessandro Vieira (Cidadania-SE).
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