Por MENELAU JÚNIOR
Em sua edição de 11 de fevereiro de 2012, o Jornal do Commercio publicou, no caderno “Cidades”, matéria com o seguinte título: “Mais força e agilidade em blitzes da lei seca”. A questão é a seguinte: qual o verdadeiro plural de “blitz”?
Inicialmente, é preciso considerarmos que a palavra não pertence ao léxico da língua portuguesa – aliás, nem aparece no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras.
“Blitz” é uma redução de “Blitzkrieg”, uma união das palavras alemãs “krieg” (“guerra”) e “blitz” (“relâmpago”). A palavra passou a ser usada durante a Segunda Guerra Mundial para designar os devastadores ataques do exército alemão. Por extensão de sentido, passou a significar uma batida policial inesperada, geralmente mobilizando grande aparato.
Em alemão, existem duas formas de indicar o plural para essa palavra: “blitze” e “blitzen”. Aliás, dois dos mais importantes dicionários do país, o Aurélio e o Houaiss, registram como “blitze” o plural de “blitz”. Portanto, deveríamos escrever “duas blitze”.
O problema é que, para alguns autores, a palavra já estaria aportuguesada (ainda que seja muito estranho o encontro consonantal “tz”). Por causa disso, seu plural deveria obedecer às normas da língua portuguesa. No caso, pluralizamos as palavras terminadas em “Z” com o acréscimo de “-es”. “Juiz” tem como plural “juízes”; “raiz” tem “raízes” e “blitz”, portanto, “blitzes”.
A forma usada pelo supracitado jornal recorre, pois, a um plural aportuguesado – talvez até mesmo porque não aparece o artigo antes da palavra. Para a maioria dos leitores, a forma “blitze” seria realmente estranha, já que não temos palavras pluralizadas com o acréscimo apenas da letra “e”. “Blitzes” tem mais a cara do nosso idioma.
Entretanto, no mesmo dia em que o Jornal do Commercio publicou o título acima, o Tribuna da Bahia escreveu em seu site: “Por conta da falta de policiamento, a Superintendência de Trânsito e Transporte do Salvador (Transalvador) suspendeu as blitze de alcoolemia…”. Já o site do G1 (Globo.com) publicara, um dia antes, matéria com o seguinte título: “Blitze da Lei Seca terão mais mobilidade no Grande Recife”.
Portanto, se você quer usar uma forma incontestável, use “as blitze”. É estranho, mas segue a etimologia da palavra. Quem escreve “as blitzes” pode até estar usando a forma adequada à língua portuguesa, mas é bom lembrar que esse plural contraria a recomendação de importantes dicionários e de boa parte da imprensa.
Até a próxima semana.
Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br