Um vulcão extinto há milhões de anos, topo de uma cadeia de montanhas submersas nas águas do Oceano Atlântico, hoje é um dos lugares mais bonitos e encantadores do mundo, segundo informações do IBGE. Formado por 21 ilhas, ilhotas e rochedos, Fernando de Noronha ocupa uma área de 26km². Distante 545 km da cidade do Recife (PE), possui entre seis e oito voos, dependendo do dia e da demanda (saindo da capital pernambucana), com 1 hora e 30 minutos, em média, de duração, através das companhias aéreas Azul e Voepass.
O arquipélago principal é o único habitado, com cerca de 3.140 habitantes, entre permanentes e temporários, segundo dados do último censo do IBGE, de 2021. Nos 17km² de extensão, concentram-se todas as atividades socioeconômicas da ilha. Em função da sua geografia, habitualmente divide-se a ilha em duas partes: Mar de Dentro e Mar de Fora. O de Dentro tem a face voltada para o Brasil e abrange 11 praias: Porto, Cachorro, Meio, Conceição, Boldró, Americano, Bode, Quixabinha, Cacimba do Padre, Baía dos Porcos e Sancho) e onde se encontra também a Baía dos Golfinhos. Já o Mar de Fora é voltado para o continente africano e conta com quatro praias: a Sueste, Atalaia, Caieira e Leão.
Passado e presente se fundem em uma história rica de acontecimentos marcantes
O arquipélago foi descoberto em 1503, pelo navegador Américo Vespúcio, durante a Segunda Expedição Exploradora da costa brasileira, comandada por Gonçalo Coelho, e, posteriormente, foi doado ao financiador da viagem, o fidalgo português Fernão de Loronha, daí a origem do nome. Com a doação, tornou-se a primeira Capitania Hereditária do Brasil. Abandonada pelo donatário, a ilha sofreu vários ataques de piratas. Os holandeses também viveram nesse paraíso ecológico de 1629 a 1654, e os franceses, de 1736 a 1737, chamando-a de “Isle Delphine”.
Temendo novas investidas, o Reino de Portugal, pela Capitania de Pernambuco, ocupou Fernando de Noronha em 1737, implantando um sistema defensivo composto por dez fortes, localizados acima de todas as praias onde fosse possível o desembarque. Foi implantado também pelo Governo Português uma Colônia Correcional (presídio) para presos comuns de Pernambuco e, eventualmente, recebia presos políticos dos grandes conflitos ocorridos no Brasil.
Em 1938, o arquipélago passa a ser administrado pelo Governo Federal brasileiro, que instala, oficialmente, um presídio político na ilha. Em 1942, transforma-se em Território Federal, administrado pelo Exército até 1981, pela Aeronáutica até 1986 e pelo Estado Maior das Forças Armadas (Emfa) até 1987, quando teve início o primeiro governo civil, subordinado ao Ministério do Interior. Com a Constituição de 1988, o arquipélago é reintegrado ao Território de Pernambuco e passa a ser o único Distrito Estadual do País.
Edificações históricas da ilha que permitem uma viagem no tempo
Noronha conta com edificações de grande valor histórico, situadas, em sua maioria, na Vila dos Remédios, principal núcleo urbano do arquipélago, desde o século XVIII. Na época, funcionavam armazéns, residências, oficinas, presídios, igrejas, espaços para curral, pastos, hortas, jardins e a Administração. Toda a área foi calçada em pedra, e as edificações foram sempre de grande porte. Devido ao sistema carcerário no local, a vila foi construída de forma estratégica, para não ser vista do mar.
Com o passar do tempo, algumas construções se tornaram ruínas e outras foram recuperadas, como o Palácio São Miguel, a Igreja Nossa Senhora dos Remédios, ruínas da Antiga Escola – atualmente agência bancária, e o Forte Nossa Senhora dos Remédios.
As fortificações e o conjunto urbano da Vila dos Remédios, incluindo algumas das suas edificações históricas, foram tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Palácio São Miguel
Sede da administração de Fernando de Noronha, o Palácio foi edificado na década de 40, sobre as ruínas da antiga “Diretoria do Presídio”. O casarão colonial teve sua construção executada com mão de obra da própria ilha e, em alguns períodos, foi residência do governador militar (administrador). Atualmente, no local, há vestígios da construção passada em uma das paredes das salas no térreo. Foi tombado pelo Iphan em 2017.
Igreja Nossa Senhora dos Remédios
Atualmente, elevada à categoria de paróquia pela Diocese do Recife e Olinda, a igreja foi construída em 1784 e é o principal templo católico do local. O nome escolhido foi em homenagem a Nossa Senhora dos Remédios, que foi tomada como Padroeira do presídio desde 1768. No mês de agosto é comemorada a Festa da Padroeira, um dos momentos mais esperados pela população noronhense. O evento é marcado por missa e rezas de terço.
Fortaleza Nossa Senhora dos Remédios
Localizada sobre uma colina a 45 metros acima do nível do mar, entre o Porto de Santo Antônio e a Praia do Cachorro, a Fortaleza Nossa Senhora dos Remédios é a mais importante das dez fortificações erguidas no século XVII para defender a ilha. A construção tem o formato irregular, configurando uma estrela com 12 angulações.
Na época, o Forte abrigou correcionais (espaços criados com objetivos de aplicar correção, espécie de prisão, comparando-se aos tempos atuais), no tempo do presídio comum e do presídio político. Desde a sua construção, o Forte dos Remédios sofreu várias intervenções e ampliações. Recentemente, o espaço foi reestruturado com museu interativo e museu a céu aberto, auditório e sala multifuncional, para eventos e convenções, shows, exposições, restaurante e bar, mirante e projetos socioambientais.
Ruínas da Antiga Escola
Na Vila dos Remédios também funcionou uma escola, inicialmente para adultos analfabetos, entre os séculos XVIII e XIX, conhecida como Escola Noturna. Ainda no século XIX, edificações simples foram erguidas no mesmo local para serem residências, depois improvisadas para a educação de meninos e meninas. Já no século XX, uma edificação foi construída especialmente com essa finalidade, recebendo o nome de Escola ABC, com duas salas de aula (classe feminina e classe masculina) e a diretoria escolar. No período da II Guerra Mundial, o local foi usado como sede da Rádio PTI. Em 1953, outra escola maior foi construída em lugar diferente, ficando a antiga casa abandonada. Até que foi ocupada novamente, desta vez pelo Banco Real, que restaurou o imóvel e inaugurou uma agência. Atualmente, no espaço, funciona uma agência de um banco privado.
Cacimba do Padre
Nome de umas das praias mais frequentadas da ilha, a Cacimba do Padre tem esse nome porque no local ficava uma fonte de nove metros de profundidade, de onde se tirava água potável. O local foi construído no século XIX, com a mão-de-obra dos prisioneiros, a pedido do capelão de Noronha, o padre Francisco Adelino de Britto Dantas. Na época, a água daquele poço era reservada somente para os doentes. Padre Adelino imortalizou-se na praia, que passou a ser chamada assim. Conta-se até que o padre virou lenda, na qual o sacerdote virou fantasma na ilha.
Capela de São Pedro dos Pescadores
A caminho da Air France, no alto da colina, está a capela dedicada a São Pedro, o padroeiro dos pescadores, edificada na primeira metade do século XX. Fechada durante todo o ano, somente no dia dos festejos, a São Pedro é aberta, acolhendo a festa que começa no seu entorno e termina na bela procissão marítima que se forma a partir do Porto de Santo Antônio.
Para a historiadora Graziele Rodrigues, a história de um lugar é muito importante dentro da cadeia do turismo. “Em Noronha existe um potencial incrível para o turismo cultural e histórico. Para que o visitante se interesse por isso, nós precisamos cuidar do patrimônio arquitetônico de Fernando de Noronha, pois como a cultura não é algo estático, ela acompanha a história em si, trabalha-se muito com o visual, com a imagem. Então, quando a gente vai contar a história para aquele visitante, espera-se que ele tenha interesse em saber do que está sendo narrado, alimentando a criatividade do visitante e estimulando a curiosidade dele em saber mais”, afirmou.
Já o escritor Ikaro Silvester destaca a relevância da história do arquipélago. “A importância da história da ilha para a comunidade se deve ao fato da preservação da sua identidade, da sua memória, tradições e costumes, com o intuito de não permitir que se perca no tempo. A presença de um historiador in loco, preservando essa memória do povo, faz com que ele, com a colaboração dos próprios noronhenses, mantenha viva a essência da ilha, assim como a sua jornada pelo tempo”, conclui.