Petrobras sofre novas perdas e Planalto defende controle sobre estatal

Em mais um dia de perdas para a Petrobras, os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e de Minas e Energia, Alexandre Silveira, deram, nesta segunda-feira (11), um recado claro a investidores que aplicam na empresa: o governo, controlador da estatal, decide sobre como distribuir os seus dividendos. Haddad e Silveira falaram com jornalistas logo após reunião, que durou mais de três horas, no Palácio do Planalto, entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e integrantes do conselho.

Aos jornalistas, Silveira afirmou que os investidores da Petrobras “sabem que o governo é o controlador” da empresa. Questionado se a estatal pode mudar de ideia sobre a forma de pagamento, Silveira apontou que a “questão é dinâmica” e confirmou possibilidade de revisão. “O governo do presidente Lula tem trabalhado com muito cuidado no respeito à governança da Petrobras. Todos os investidores, eu sempre destaquei isso, sabem, quando compram ações da Petrobras, que o governo é controlador, o governo tem a maioria do conselho”, afirmou Silveira.

O ministro ressaltou que “os dividendos ordinários foram cumpridos rigorosamente, dando total segurança ao investidor” e que a decisão do Conselho, na semana passada, em relação aos R$ 43 bilhões de dividendos extraordinários foi de depositar na conta de contingência, conforme é permitido pelo estatuto da empresa. Haddad, por sua vez, disse que o pagamento dos dividendos extraordinários será feito “quando e como” o Conselho de Administração da empresa considerar adequado. “A Fazenda, às vezes, é provocada a dizer se entende que a distribuição pode prejudicar o plano de investimento da companhia. Agora, o conselho é soberano para pedir informações. É normal isso. [O dinheiro] está numa conta reservada de remuneração de capital, cuja destinação é a distribuição. O ‘quando’ e ‘como’ vão ser julgados à luz das informações”, afirmou Haddad.

O titular da Fazenda completou que a decisão do conselho foi de que a distribuição dos lucros extraordinários seriam feitos à medida que ficar claro para o conselho que a partilha não comprometa o plano de investimento da companhia. “Ao invés de fazer a distribuição de 100% dos dividendos extraordinários ou de 0%, se julgou conveniente, à luz dos desdobramentos dos investimentos nas próximas semanas e meses, que o conselho volte a se reunir para julgar a conveniência de fazê-lo e de quando fazê-lo. Esse tipo de decisão não tem nenhum problema”, completou Haddad.

O ministro Silveira também voltou a dizer que os lucros poderão ser distribuídos oportunamente. Especulação Silveira destacou, ainda, que rumores sobre uma possível demissão do presidente da Petrobras são “especulação”. “Em nenhum momento isso foi cogitado. O que foi feito, hoje (ontem), foi uma reunião extremamente produtiva para falar de transição energética e transição ecológica que é uma grande janela de oportunidades”, alegou. Antes da reunião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu abertamente que os recursos oriundos dos lucros da Petrobras sejam revertidos para investimentos. Em entrevista à TV SBT, o presidente disse que a estatal não pode pensar apenas nos acionistas e se for atender a “apenas a choradeira do mercado”, não é possível fazer nada, sacrificando investimentos.

A fala do presidente contribuiu para a queda de 1,92% nas ações ordinárias e de 1,30% nas preferenciais da empresa na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo. No início do dia, os papeis vinham se recuperando do tombo de R$ 55,3 bilhões, na última sexta-feira (8), quando foi anunciado que os dividendos extraordinários não seriam repassados aos acionistas. Mas voltaram a cair após a entrevista de Lula. “Se for atender apenas à choradeira do mercado, não se faz nada. O mercado é um dinossauro voraz, quer tudo para ele e nada para o povo”, afirmou, no programa SBT Brasil. “Porque a Petrobras tem que pensar no investimento, tem que pensar em 200 milhões de brasileiros que são donos dessa empresa ou são sócios dessa empresa. O que não é correto é a Petrobras, que tinha que distribuir R$ 45 bilhões de dividendos, querer distribuir R$ 80 bilhões. E R$ 40 bilhões a mais que poderia ter sido colocado para investimento, para fazer mais pesquisa para fazer, para fazer mais navio, para fazer mais sonda e não foi feito”, acrescentou.

As informações são do Correio Braziliense.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.