Congresso em Foco
A Polícia Federal (PF) diz haver indícios de que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), recebeu dinheiro não contabilizado em suas campanhas via “caixa três”, que é como os investigadores denominam o repasse irregular de dinheiro, por empresas não apontadas na prestação de contas, por meio de uma empresa com papel central no financiamento eleitoral – no caso, a empreiteira Odebrecht. A informação consta de um dos inquéritos que têm Maia como alvo no Supremo Tribunal Federal (STF).
Apelidado de “Botafogo” nas famigeradas planilhas de pagamento de propina da Odebrecht, Maia teve um repasse suspeito de R$ 200 mil detectado em sua prestação de contas relativa ao pleito de 2004, que o reconduziu à Câmara pela quarta vez consecutiva (ele está no quinto mandato). A doação foi feita pela empresa Praiamar Indústria Comércio e Distribuição LTDA ao diretório nacional do DEM, que repassou o dinheiro ao deputado.
Ligada à Cervejaria Petrópolis, a Praiamar está indiretamente envolvida no esquema delatado por executivos da Odebrecht e que resultaram em quase 80 delações premiadas homologadas no Supremo, envolvendo mais de 80 senadores, deputados, governadores e ministros de Estado, como este site mostrou em março. Segundo os colaboradores da Odebrecht, a Petrópolis era a principal parceira da empreiteira no financiamento de campanhas via caixa três.
A empreiteira, que negocia acordo de leniência (espécie de delação feira por empresas) com a Operação Lava Jato, a cervejaria Petrópolis fez doações eleitorais nos últimos dez anos, nas eleições de 2008, 2010, 2012 e 2014 – deflagrada em março deste ano, a Lava Jato inibiu esquemas de repasses ilícitos para campanhas eleitorais. A pedido da Odebrecht, foram cerca de R$ 120 milhões destinados a alimentar as campanhas de inúmeros candidatos. Nesse processo, outras duas empresas com negócios com a Petrópolis foram utilizadas na dissimulação de doações. Em 2014, diz a PF, a Cervejaria Petrópolis doou R$ 6,1 milhões ao diretório nacional do DEM.
A investigação revela que a campanha de Maia para a Câmara em 2010 recebeu R$ 389 mil via diretório estadual do DEM. Naquele ano, o sistema de tecnologia da informação da Justiça eleitoral não detectava a fonte primária de recursos que, tendo passado pelos diretórios estaduais, desembocariam nas campanhas dos principais candidatos, caso de Maia. Nesse sentido, aponta a PF, os recursos para o deputado podem ter saído “das referidas empresas parceiras da Odebrecht [Praiamar e Leyroz]“. Também ligada à Petrópolis, a Leyroz Caxias Indústria Comércio e Logística LTDA é apontada como a responsável pelo repasse de R$ 80 mil ao diretório do DEM fluminense, em 2010.
Maia é apontado como ator importante nas eleições presidenciais de 2018 – o DEM, segundo informou ontem (segunda, 25) o repórter Igor Gadelha, no site do jornal O Estado de S.Paulo, já marcou para 6 de fevereiro, data da convenção nacional do partido, o anúncio da pré-candidatura. O deputado se defende das acusações de caixa três dizendo que todas as suas doações foram operadas regularmente e devidamente informadas à Justiça eleitoral. “Maia reitera que confia na Justiça e está à disposição das autoridades, pois tem interesse que tudo seja esclarecido com a maior brevidade possível”, diz o parlamentar por meio de sua assessoria, em nota encaminhada ao jornal Folha de S.Paulo.
O jornal paulista lembra que, entre julho e novembro, a Polícia Federal tentou ouvir Maia no inquérito sobre o esquema de caixa três envolvendo empresas fluminense e a Odebrecht. Com argumentos como o de não haver conexão dessa apuração com a Lava Jato, a defesa chegou a pedir que o inquérito fosse retirado do relator do petrolão, ministro Edson Fachin, mas não obteve êxito na demanda. Os advogados do deputado conseguiram que fossem desmarcados três depoimentos, mas dizem não estar em curso uma estratégia de protelação do processo. À Folha, o advogado Danilo Bonfim disse que a PF já ouviu Maia.