PIB se mantém em queda pelo décimo primeiro trimestre consecutivo

O PIB (Produto Interno Bruto) da economia brasileira vem apresentando queda desde o segundo trimestre de 2014. Levando-se em consideração os últimos 11 trimestres, o PIB real brasileiro registrou variação negativa de 7,64%. No quarto trimestre de 2016, a variação foi de -2,46% em relação ao mesmo trimestre de 2015. Por setor, indústria e serviços apresentaram variação negativa similar, -2,45% e -2,36% respectivamente, enquanto a agropecuária apresentou a maior queda, de 4,97%.

Acumulando as variações trimestrais, verifica-se uma queda de 3,59% para o PIB em 2016. Agropecuária, indústria e serviços tiveram variação anual de -6,36%, -3,83% e -2,70%, respectivamente. Em valores correntes, o PIB chegou a R$ 6,267 trilhões no ano passado e o PIB per capita ficou em 30.407 reais, o que significa uma redução real de 4,4% em relação a 2015.

O setor agropecuário, com 4,71% de participação no PIB em 2016 – que até o último trimestre de 2015 era o único segmento cujo produto variou positivamente –, passou a apresentar forte retração a partir do primeiro trimestre de 2016. “Tal fenômeno ocorreu, principalmente, pela perda de produtividade da produção de soja e a queda na produção de algumas culturas como milho e fumo, visto que soja e milho são produtos de grande importância na produção agrícola brasileira”, analisa o pesquisador do Ceper e coordenador do Boletim Conjuntura Econômica, Luciano Nakabashi.

O resultado negativo da indústria, que representou 18,35% de participação no PIB em 2016, foi decorrente, em grande medida, da variação da indústria de transformação e da construção civil. A primeira foi marcada pela redução do volume de fabricação de máquinas, equipamentos, veículos, entre outros itens. Na construção civil, destaca-se o impacto da redução do investimento público.

Dentre os itens que compõem o segmento de serviços, que em 2016 representou 63,34% do PIB brasileiro, destacam-se as variações de -7,1% de transporte, armazenagem e correio, -6,3% do comércio, -3,0%, dos serviços de informação e -2,8% da intermediação financeira e seguros.

Analisando os componentes de demanda do PIB (consumo das famílias e do governo, investimento, exportações e importações), a variação percentual acumulada nos anos 2015 e 2016 mostra que houve forte retração da formação de capital fixo (investimentos público e privado): -13,9% e -10,2%, respectivamente, refletindo a aguda crise econômica brasileira. A queda da importação de bens de capital (-14,1%) foi um dos principais motivos para a forte retração das importações brasileiras (-10,3%,).

As exportações foi o único componente de demanda que apresentou expansão em 2015 e 2016 – de 6,3% e 1,9%, respectivamente – devido, principalmente, ao aumento das exportações de petróleo, gás natural, açúcar e automóveis. O consumo das famílias, impactado negativamente pelos altos juros, alto desemprego, restrição ao crédito e queda da renda, caiu 4,2% em 2016. Já o consumo do governo registrou retração de 0,6%.

Taxa de desemprego permanece alta – A taxa de desemprego no Brasil, que vem aumentando desde janeiro de 2015, atingiu 13,2% em fevereiro deste ano, o que reflete a baixa atividade econômica do País. O rendimento médio real do brasileiro caiu quase R$ 100,00 entre janeiro de 2015 e junho de 2016. A partir de então, mesmo com o desemprego aumentando, voltou a subir e fechou fevereiro de 2017 em R$ 2068,00, R$ 46,00 acima do valor de junho, o que, segundo Nakabashi, pode visto como reflexo de uma retração maior nos empregos de menor qualificação.

Baixa atividade na indústria – Analisando a evolução nos últimos quatro anos da utilização da capacidade instalada da indústria, calculada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV), do início de 2013 ao início de 2016, ocorreu uma tendência negativa, com uma redução de 6,3 pontos percentuais entre abril de 2013 e fevereiro de 2016. A partir de então, a utilização da capacidade oscilou entre 82% e 83%, fechando março deste ano em 82,2%.

“Com o aumento do desemprego, era esperada uma diminuição da utilização da capacidade industrial instalada. Entretanto, verifica-se que a utilização da capacidade instalada cai mesmo antes do início da forte alta do desemprego, o que evidencia que a atividade econômica já estava baixa ao longo de 2014 e que o desemprego demorou mais para responder”, explica o pesquisador.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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