Protestos

Por Maurício Assuero, economista e professor

Neste domingo (15), ensaia-se uma mobilização popular contra o governo da presidente Dilma. Seu pronunciamento, no último domingo, 08.03, foi marcado por protestos em várias cidades (luzes apagadas e panelaço) e, embora, a presidente tenha tentado passar uma imagem de que tem tudo sob controle, a realidade mostra exatamente o contrário. A inflação não é uma “brincadeirinha” visto que a cada pesquisa de preços vemos as estimativas se modificarem, sempre para cima. A taxa de juros está fixada em 12,75% ao ano e isso serve de redutor para o investimento e para o consumo, fatos que afetam diretamente o PIB. Não bastasse tudo isso, o ministro Joaquim Levy chamou de “brincadeira” a desoneração da folha proposta pelo governo que previa redução na alíquota previdenciária. Enfim: todas as variáveis que justificam o protesto nacional estão postas.

O comportamento do dólar – que chegou a valer R$ 3,12 durante a semana – não é a última pá de cal. O dólar serve, além de moeda comercial – para justificar a falta de credibilidade dos investidores na condução da política econômica. Quanto mais alto o dólar, menor a credibilidade na política econômica. Mas, por um lado, a desvalorização do Real deveria provocar um impacto positiva na balança comercial, mas não é isso que se vê. Por outro lado é um transtorno para quem tem dívida em moeda estrangeira, para quem pretende viajar, para quem projetou comprar tecnologia, etc.

A sinalização é que, ao contrário do que prega a presidente Dilma, é maior dificuldade econômica nos próximos meses. Na verdade, não há um só indicativo de que economia vai melhorar no curto prazo, todavia, há inúmeros que mostram o nível do arrojo pelo qual vamos passar. Adicione-se, agora, dois ingredientes que servem como estopim da bomba: combustível e energia.

Nenhuma economia anda sem combustível. Associado a ele tem o preços dos produtos que dependem de frete, tem o transporte de pessoas; depois vem a energia. Nenhuma economia sobrevive sem energia. A produção industrial depende de energia (comércio, também) e se por um lado os governos estaduais irão comemorar porque o preço do combustível subiu (com ele sobe a arrecadação do ICMS), a população não consegue mais processar a razão de tanto aumento. Note-se que o governo ainda está acanhado em relação ao corte na própria carne porque preferiu cortar de questões importantes (como educação) e deixou outras passar ao longe (a Universidade Federal do Rio de Janeiro adiou por duas ocasiões o início do semestre letivo porque não tem verba para manter a instituição funcionando) despesas menos importante (a maioria afeta o setor privado).

O custo da geração de superávit primário está além da capacidade das empresas e das pessoas. O governo agiu de uma forma correta em tentar controlar os gastos, no entanto, trata-se de uma ação tardia porque antes preferiu uma solução contábil, isto é, mexeu na contabilidade para justificar-se. Finalmente, cabe lembrar que muitas vezes uma pessoa está na pior ganha um prêmio da MegaSena acumulada. Nem essa chance o governo tem e se tivesse precisaria de muitos prêmios.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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