PT pressionado a bater o martelo sobre a saída de Lula da campanha

O Partido dos Trabalhadores vive um conflito interno para definir a chapa do partido nas eleições deste ano. Condenado e preso em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta em uma semana decisiva para a participação na campanha. Uma ala influente da legenda pressiona para que o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad seja lançado logo como cabeça de chapa. Dirigentes petistas querem que a situação seja resolvida até o próximo debate presidencial na tevê, na sexta-feira. Amanhã termina o prazo para registro de candidatura. No dia seguinte, a Justiça Eleitoral começa a analisar a situação do petista.

De acordo com a legislação, o PT pode trocar de candidato a presidente com até 20 dias de antecedência da votação, desde que ele saia da disputa por ter candidatura impugnada. Após o registro, porém, uma série de regras dificultam a ascensão de Haddad no pleito. Para começar, ele não poderá usar o dinheiro da vaquinha virtual para a campanha de Lula, que já soma R$ 550 mil. Outro entrave é em relação ao horário eleitoral gratuito. O ex-prefeito também enfrenta resistência política dentro da sigla, mas está definido que ele vai percorrer o país em nome de Lula.

Se Lula, hoje inelegível pela Lei da Ficha Limpa, for barrado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), será possível recorrer ao Supremo. Enquanto o recurso estiver tramitando, caso o PT não lance outro candidato, o espaço de 2 minutos e 22 segundos destinados ao partido no rádio e na TV serão preenchidos com um aviso de que a propaganda do PT foi barrada pela Justiça Eleitoral. O horário eleitoral começa em 31 deste mês. Até que tenha o caso avaliado pelo TSE, Lula poderia fazer campanha, mas a realização de gravações dentro da sala onde está preso, na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, dependem de autorização — que vendo sendo negado pela Justiça.

DATAS

Para a professora coordenadora da especialização de direito eleitoral na Faculdade de Direito do IDP/SP, Karina Kufa, o TSE deve julgar a candidatura de Lula no início de setembro, antes do prazo final para trocar a chapa eleitoral. “Depois de aberto um edital de divulgação com o nome dos candidatos, vem o prazo para julgar a impugnação e para a defesa agir. Esse trâmite demora. Por isso, a Justiça dá 20 dias antes das eleições para fazer a troca”, justifica. Há chance de o STF julgar a candidatura petista antes do TSE, mas Kufa acredita que isso não deve ocorrer.

A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, afirmou que o registro de candidatura de Lula está mantido. Ela acredita que pode ocorrer um entendimento favorável. “Não é justificável deixar Lula fora do processo eleitoral. Os julgadores do TSE são historicamente a favor da candidatura porque entendem que o povo é quem tem que decidir”, afirmou.

MST pronto para protesto no TSE

Há dois dias do registro de candidatura dos presidenciáveis, o PT tenta unir forças em prol da elegibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — condenado a 12 anos de reclusão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Com a manifestação programada para amanhã, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) chegaram ao DF com a intenção de unir 5 mil pessoas em frente ao TSE.

Organizado em três colunas nomeadas como Ligas Camponesas, Tereza de Benguela e Prestes, as passeatas se concentraram em regiões há cerca de 50km da capital e percorreram as vias da cidade na manhã de ontem. Com cerca de 1,5 mil pessoas em cada grupo, o deslocamento ocorreu pelas BR-020, BR-040 e BR-060. As colunas farão a manifestação em frente ao TSE, amanhã.

Para diminuir o impacto dos engarrafamentos, o DER e o Detran liberaram a circulação dos carros de passeio nas faixas exclusivas da EPTG, do EPNB, das W3 Sul e Norte e do Setor Policial, entre 0h e 23h59 de hoje.

De acordo com o cientista político da Arko Advice Cristiano Noronha, a passeata é uma estratégia do PT para criar apelo popular à candidatura de Lula. “Ele (Lula) está em uma posição difícil e tenta criar estratégias com apelo social, mas a Justiça não se importa com isso”, analisou. O clima seco de Brasília abalou o agricultor alagoano Augusto Lima da Silva, da Coluna Ligas Camponesas. Mesmo assim, ele luta para reverter os efeitos do impeachment da Dilma. “Não foi um golpe só na Dilma, mas também na classe trabalhadora”.

Sete militantes do MST participam de uma greve de fome. Desde 31 de julho, eles estariam ingerindo apenas soro e água. Os manifestantes também recebem massagens terapêuticas para aliviar a fadiga muscular, e acompanhamento médico. A Coluna Prestes também recebeu o ganhador do Nobel da Paz de 1980, Adolfo Pérez Esquivel. Ele enxerga a manifestação como “fantástica”. “A união da América Latina é uma forma de luta”, disse.

Correio Braziliense

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *