Pedro Augusto
Com tantos problemas, dificuldades e males enfrentados no cotidiano, em certos momentos da vida, a esperança e a fé em dias melhores acabam ficando de lado. Entretanto, como se fosse – por que não? – uma providência divina, alguns exemplos de superação e vitória acabam invadindo as mentes dos calejados reoxigenando os seus pulmões com o ar da perseverança. Esta semana, o Jornal VANGUARDA, apurou mais uma daquelas histórias que costumam ficar por muito tempo guardada na memória dos leitores servindo de vitrine e inspiração. O protagonista da narrativa em cenário real atende pelo nome de Renato José de Moura Silva, de 31 anos.
Ele não é nenhum atleta ou artista famoso tampouco ganhou recentemente na loteria. Longe disso. Apenas apostou com todas as suas fichas naquela ferramenta que costuma modificar o mundo, mas que também em certos momentos da vida é deixada para trás: a educação. Filho de agricultores na circunvizinha Toritama, no Agreste do Estado, Renato precisou trocar logo cedo as salas de aula pelos campos empoeirados das plantações. A mudança, indesejável, se deu por questão de sobrevivência mesmo, assim como ocorreu com os oito irmãos. “Se não fôssemos para a lida, não tínhamos o que comer. Desta forma, nos afastamos da escola, uns de vez, outros não”, relembrou Renato.
Ele foi um dos poucos que teimaram em driblar as adversidades permanecendo acreditando no poder da educação. Ainda que de forma muito tardia, mas já nobre haja vista a sua dura realidade, Renato conseguiu terminar o ensino fundamental com 18 anos. E foi justamente neste período que ele acabou conhecendo Ayane Beatriz – hoje com 29 anos – aquela que seria a sua principal incentivadora para colocar novamente a ‘cara nos livros’. “Quando começamos a namorar precisei submetê-lo a uma condição: que retomasse os estudos, pois ele havia parado no ensino fundamental devido justamente às dificuldades financeiras. Nesta época, ele já estava trabalhando num fabrico e de cara aceitou a proposta”, contou Ayane.
O tempo se encarregou em demonstrar que a decisão de Renato foi correta. Depois de ter penado bastante para conseguir concluir o ensino médio através do sistema EJA (Educação de Jovens e Adultos), ele acabou se tornando o primeiro integrante da família a ingressar numa faculdade. “Cheguei a cursar análise de sistemas por alguns períodos, porém decidi fazer outro vestibular, porque não havia me identificado com a graduação. Hoje, faço enfermagem no Unifavip com os recursos repassados pelo FIES”, explicou. Mas engana-se aquele que a perseverança por dias melhores de Renato José ficaria restrita apenas ao território regional.
Após ter colocado em prática, no exame do Enem, tudo aquilo que até então havia aprendido nas salas de aula, o jovem promissor acabou colhendo como consequência uma das melhores notícias da sua vida. “Foi exatamente na semana passada. Até tinha me esquecido que havia me inscrito, mas graças a Deus a boa notícia chegou: fui aprovado pela nota do Enem em terceiro lugar no curso de enfermagem do Instituto Politécnico do Município da Guarda, em Portugal. Na hora em que recebi o email com a confirmação da minha aprovação quase não acreditei, mas era verdade. Realmente valeu a pena tanto esforço em meio a todas essas dificuldades. As aulas começarão no próximo mês de setembro”, acrescentou Renato.
Até lá, ele tentará encontrar a melhor opção para se manter nas terras lusitanas. “Pelas as informações que colhi na internet, Guarda é um município voltado para o turismo, sendo assim, tentarei arranjar emprego em um restaurante ou em um hotel. Por tudo que já passei na vida, estudar e trabalhar no exterior não será de um mal. Pelo contrário. Lá terei oportunidade de adquirir mais conhecimentos para garantir um futuro melhor para a minha esposa Ayane e para a minha filhinha Sara. Enquanto a mudança provisória não vem, continuarei trabalhando no escritório contábil dela e curtindo bastante a filhota”, disse Renato. Por conta da criação da menina, Ayane permanecerá residindo em solo pernambucano.
Quando incentivado a deixar uma mensagem para aqueles leitores que neste exato momento estão passando por problemas ou adversidades, ele usou da humildade a que lhe caracteriza. “Lute! Nunca desista. Por mais que as dificuldades te levem a pensar o contrário, você não pode deixar de sonhar e lutar pelos os seus objetivos. Quem não acredita que a educação pode mudar o mundo, bom, com muita humildade, peço licença para citar o meu exemplo”, finalizou Renato José. Ele ainda não sabe por quanto tempo ficará estudando em Portugal.