OPINIÃO: OAB pede cassação de Fidelix. Valeria também para Feliciano?

Por LUIZ FLÁVIO GOMES*

Levy Fidelix, no último debate, disse: “Pelo que eu vi na vida, dois iguais não fazem filho. E digo mais. Digo mais. Desculpe, mas aparelho excretor não reproduz (…) Prefiro não ter esses votos, mas ser um pai, um avô, que tem vergonha na cara, que instrua seu filho, que instrua seu neto. E vamos acabar com essa historinha (…) Que façam um bom proveito que querem fazer e continuar como estão. Mas eu, presidente da República, não vou estimular. Se está na lei, que fique como está. Mas estimular, jamais, a união homoafetiva (…) Se começarmos a estimular isso daí, daqui a pouquinho vai reduzir para 100 [milhões]. É… Vai para a [avenida] Paulista e anda lá e vê. É feio o negócio, né? Então, gente, vamos ter coragem somos maioria. Vamos enfrentar essa minoria”.

A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) pediu ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a cassação da candidatura de Levy Fidelix (PRTB) em virtude das declarações homofóbicas ditas pelo candidato durante debate ocorrido na “TV Record” na noite de 29/9/14. Se o TSE acolher essa iniciativa, vários candidatos correrão risco de cassação.

Marco Feliciano, por exemplo, deputado e pastor evangélico (que será um dos cinco mais votados em SP, conforme pesquisa do Ibope), quando presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, condenou publicamente a homossexualidade (várias vezes) e ainda afirmou que os negros foram alvo de uma “maldição” de Noé. Quando criticado, ratificou todas as suas declarações, afirmando: “muitos dos fieis da sua Igreja deixaram de ser homossexuais graças à ajuda espiritual”; “o amor entre pessoas do mesmo sexo leva ao ódio, ao crime e à rejeição; cabe atacar o casamento gay, não oficializado no Brasil, embora existam projetos neste sentido no Congresso”.

“O problema é que depois do casamento religioso, eles podem querer, como já brigam pela adoção de crianças. E nós sabemos, a própria psicologia diz, que a criança criada por dois homens ou criada por duas mulheres tem uma problemática sem tamanho”, declarou Feliciano para Folha de S. Paulo.

Sobre os negros e africanos, Feliciano (PSC-SP) sustentou que são alvo de uma “maldição; Citando a Bíblia (…), africanos descendem de Cão (ou Cam), filho de Noé. E, como cristãos, cremos em bênçãos e, portanto, não podemos ignorar as maldições”, declarou, em defesa protocolada no STF após denúncia da Procuradoria Geral da República. Feliciano afirmou que isso não representa racismo, mas um apego a suas crenças religiosas e, além disso, diz que “milhares de africanos” se “curaram” dessa “maldição” ao “se entregarem ao caminho de Deus”.

A Constituição brasileira assegura a todos a liberdade de crença e de religião e ainda a liberdade de expressão do pensamento (art. 5º). Ao mesmo, a mesma Constituiçãodiz que ninguém pode ser discriminado em razão da raça, cor, origem, sexo (orientação sexual), procedência, crença religiosa etc.

Quando dois direitos constitucionais colidem, resolve-se cada caso pela ponderação dos fatos e valores em jogo (aqui entra o princípio da proporcionalidade). No caso de Levy Fidelix, quais devem preponderar? Os direitos do primeiro grupo ou os do segundo? Cabe sublinhar que se o TSE entender (1) que houve abuso da liberdade de expressão e (2) que isso gera a cassação da candidatura, seu precedente poderia alcançar outros candidatos que porventura incorressem no mesmo abuso.

*Luiz Flávio Gomes é jurista e diretor-presidente do Instituto Avante Brasil

Artigo: Um final de ano cheio de oportunidades profissionais

Por Erik Penna 

Para muita gente, a melhor época do ano está chegando e, junto com ela, muitas oportunidades para se dar bem. Uma estimativa da CNC (Confederação Nacional do Comércio) aponta que o comércio irá oferecer 138,7 mil vagas temporárias neste final de ano.

Ciente destes dados, é pertinente analisar três elementos diretamente envolvidos:

1- Temporário

A grande chance tão esperada chegou a este funcionário e, com ela, uma pergunta poderá estar em sua mente: É mais difícil chegar ou se manter no emprego?

Uma dica importante é você não aceitar qualquer serviço apenas focando o salário no final do mês, pois dificilmente terá um alto desempenho se não gostar do que faz. Encare como uma oportunidade única de mostrar o seu potencial e dê o melhor de si, tendo em mente que você se diferenciará se decidir não apenas em atender o cliente, mas sim, em encantá-lo ao superar suas expectativas.

Lembre-se, ainda, que o melhor currículo que você pode mostrar a alguém é apresentar um serviço de excelência, atuar com sorriso no rosto, boa vontade, muita disposição para aprender, capricho em todos os detalhes e um otimismo contagiante. Afinal, quem não gosta de ter pessoas com esse perfil ao seu redor?

2- Efetivo

Inicialmente, como um bom colega, acolha bem o novo colaborador, imaginando como você gostaria de ser recebido chegando como novato num ambiente desconhecido.

Lembre-se que a concorrência aumentou, portanto, é hora de arregaçar as mangas, atuar com a paixão do começo e aumentar ainda mais a sua performance, pois nivelar por cima é um grande negócio.

Não espere perder o emprego para depois decidir dar o melhor de si. Aliás, isso me fez lembrar a história de um amigo que, outro dia, veio até mim e contou que a sua mulher o havia largado. Por isso, agora ele tinha mudado seu jeito de ser. Disse que havia entrado numa academia de ginástica, emagrecido cinco quilos, pintado o cabelo e andava mais simpático e alegre com as pessoas. Eu pensei: “Por que ele não fez tudo isso quando ainda estava junto da mulher”? Quem sabe, assim, manteria a relação que ele tanto apreciava!

Perceba que há funcionários que só se preocupam em se qualificar e dar o máximo de si quando perdem o emprego.

3- Gestor

É uma oportunidade ímpar para identificar e reter talentos na sua organização. Esteja ciente que o cliente avalia e forma a imagem da sua empresa baseado no atendimento que ele recebe de seus funcionários.

É um tipo de atendimento prestado por muitos temporários nesta época do ano. Desta forma, não coloque ninguém para atuar sem antes falar o que se espera dele e deixá-lo conhecer toda empresa, os produtos e serviços a serem ofertados. Atenção para o que Antoine de Saint-Exupéry, no livro O Pequeno Príncipe, escreveu: “Ninguém ama aquilo que não conhece”.

Aproveite esse período para promover um belo treinamento, reascendendo a chama de toda equipe com muita motivação e ensinando técnicas de encantamento de clientes.

Eu acredito na frase do grande empreendedor Bill Marriot: “Só conquistaremos a excelência com treinamento”.

O final do ano se aproxima, portanto, mãos à obra!

Erik Penna é especialista em vendas, consultor, palestrante e autor dos livros “A Divertida Arte de Vender” e “Motivação Nota 10”. Site: www.erikpenna.com.br .

Artigo: Cultura forte atrai profissionais fortes

Por Alexandre Slivnik

Organizações com colaboradores engajados e motivados apresentam uma cultura bem definida e respeitada não só pelos clientes internos, como também pelos clientes externos. Segundo uma pesquisa feita pela revista Carta Capital, em 2013, as empresas mais admiradas no brasil são: Natura, Apple, Ambev, Google, Itaú, Nestlé…e no mundo, de acordo com a revista Fortune, em 2013, são: Apple, Google, Amazon, Coca-Cola, Starbucks, Disney. Cada uma, à sua maneira, tem uma identidade marcante e clara, tanto para os funcionários como para o consumidor.

Para conseguir manter uma imagem forte, que ultrapassa os muros da organização, os colaboradores precisam estar em total sintonia com a cultura da empresa, ou ela não será praticada por eles. Uma organização, com missão definida, que cria processos condizentes com ela, ganha credibilidade com o seu time, pois terá mais do que um discurso, terá ações reais que provam o que fala. Por exemplo, se sua organização se diz aberta a receber as ideias de seus colaboradores, precisa realmente dar voz a eles. Se os líderes não dão liberdade para que os colaboradores falem abertamente, a cultura da sua organização não está sendo praticada e talvez você não esteja enxergando isto.

Uma empresa de cultura forte se preocupa em fazer com que seus valores sejam praticados em todos os momentos – nunca abandona seus funcionários. Está lá, junto com eles, mostrando que existe uma coerência nos processos. Tudo fala a mesma língua e funciona de maneira única: a contratação, o treinamento, a seleção, a relação com os funcionários, a entrega para o cliente.

A Disney, por exemplo, entre suas maiores preocupações estão a organização e a limpeza. Portanto, isso começa na mesa de trabalho de cada funcionário e vai até a entrada do parque. Quando um colaborador enxerga harmonia entre a teoria e a prática, ele fica mais engajado pela causa. E ter uma causa traz motivação e vontade de participar. Isso explica a paixão dos funcionários da Disney: eles trabalham felizes porque praticam todos os dias algo maior do que apenas sua função. Faz parte da essência cumprir a missão.

Outro case: A Apple. Todos sabem que essa empresa tem mais do que clientes, tem fãs apaixonados. Isso é ouro para qualquer corporação. Quem é “applemaníaco” veste a camisa com o símbolo da maçã no peito, tal qual torcer veste a camisa do time do coração. Tente falar mal da Apple para ele! Pode gerar uma discussão acalorada, digna de roda de futebol. E note o feito da Apple: o consumidor não ganha nada para falar bem dela, pelo contrário, ele paga. O que essa empresa tem de diferente? Será que o seu Iphone faz coisas que o Android não consegue? Pode ser que o Android faça até mais coisas! Entretanto, quando você vai a uma loja da Apple, começa a entender a diferença.

O colaborador dessa organização se enche de orgulho ao falar dos produtos e vende ideais de que você está comprando algo muito especial. A experiência de compra na Apple é maravilhosa, porque o vendedor não tem discurso pronto – ele de fato acredita naquilo.  Uma foto publicada em uma rede social quando a Apple inaugurou sua primeira loja no brasil, na cidade do Rio de Janeiro, simboliza muito bem o que estou afirmando. A imagem mostra um cliente portador de necessidades especiais conversando com o vendedor. O cliente não tinha as pernas e estava sentado em um skate. O vendedor não teve dúvidas: sentou-se no chão para atender melhor o comprador. Um atendimento atencioso como esse é reflexo de uma cultura definida e disseminada.

Talvez, a empresa não tenha funcionários apaixonados como os da Apple e da Disney. Muito pelo contrário! Eles estão insatisfeitos. Ou cabe a reflexão: “ nosso ambiente de trabalho não é tão pró-funcionário quanto o da Google… o que faço para reverter isso? “ Nesse caso, a primeira pergunta que você tem de fazer a si mesmo é se seu trabalho na organização o ajuda a cumprir sua missão pessoal, ou seja, se você se sente feliz trabalhando nela. Se a resposta for negativa, o melhor é começar a procurar um lugar que combine mais com você, ou começar a ser o agente de mudança na empresa. Se a resposta for: “ Sim, eu me sinto feliz trabalhando nessa corporação”, há maneiras de ajudar a empresa a se ajustar a um modelo de gestão de felicidade.

Antes de mais nada, é preciso saber que uma mudança efetiva só acontece quando ela é “top-down”, isto é, o líder dos líderes da organização, “ o cara” da empresa precisa acreditar nessa mudança de cultura. Se o cara topo, o dono, o principal executivo não acreditar, a mudança dificilmente acontecerá, pois as pessoas precisam de referências e de coerência.

Valores são transmitidos e assimilados pelas atitudes que temos. Se o líder máximo não cumpre prazos, o restante da empresa se sentirá livre para não cumpri-los também. Contudo, se o cara que está  no topo preza pelo atendimento ao cliente, acima de tudo, e se for preciso ligará para um consumidor para dar uma satisfação sobre um problema, os colaboradores da empresa se sentirão inspirados a fazer o mesmo. O líder acredita na mudança? Então, o líder precisa fazer com que seus diretores acreditem, e assim por diante, é um efeito cascata.

Este artigo é parte integrante do livro “ O Poder de Ser Você”, que estará a venda em todas as livrarias a partir de setembro.

Alexandre Slivnik é autor do best-seller O Poder da Atitude, sócio-diretor do Instituto de Desenvolvimento Profissional (IDEPRO), diretor-executivo da Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD) e diretor geral do Congresso Brasileiro de Treinamento e Desenvolvimento (CBTD). Palestrante e profissional com 17 anos de experiência na área de RH e treinamento, é formado em educação física pela Universidade Mackenzie, com ênfase em qualidade de vida empresarial. É atualmente um dos maiores especialistas em excelência Disney no Brasil, tendo visitado e estudado profundamente os parques e feito os treinamentos do Disney Institute sobre os temas excelência em liderança, inovação e criatividade, qualidade em serviços e excelência em negócios. Leva periodicamente vários grupos de executivos brasileiros para treinamentos in loco nos bastidores do complexo Disney, em Orlando, nos Estados Unidos, para estudar e ensinar como as empresas podem incorporar a mesma excelência e felicidade, o que é também tema de suas palestras, cursos, treinamentos e seminários. 

Artigo: Fux “pressiona” por nomeação de filha como Desembargadora

Por LUIZ FLÁVIO GOMES

A nomeação de alguém para ser juiz (pela responsabilidade que o cargo implica), fora dos concursos públicos, deve ser fruto de um criterioso processo de seleção, fundado em marcos de referência muito claros. O candidato deve apresentar um relato e um curriculum substanciosos, que vão muito além da mera indicação ou da mera “força política” (que lembra tudo do Brasil-colônia).

Vivemos numa sociedade conflitiva, impregnada de subjetividades e interesses totalmente antagônicos. Se o processo de seleção de pessoas não se revestir de objetividade (pública e transparente), tudo fica ao sabor de quem manda mais, de quem influencia mais, de quem comanda mais. Criticamos a velha política e isso significa praticar a velha política.

O título deste artigo foi dado pela Folha de S. Paulo. Estaria havendo “constrangimento no meio jurídico” em razão da campanha do ministro em favor da sua filha, advogada, para ocupar uma cadeira no Tribunal de Justiça do RJ (pelo chamado quinto constitucional, que significa reserva de vagas para membros da advocacia/defensoria e do Ministério Público).

O tema do quinto constitucional é polêmico. Sou favorável a essa ideia, mas devemos reconhecer que o processo de escolha vigente está completamente ultrapassado (sendo mesmo até imoral, em alguns casos). Não há nada de errado que a filha ou filho de um ministro queira ser indicada ou indicado (para ser desembargador). A questão não é o “quem”, sim, o “como”. E o “como” passa pela modernização do processo.

Nas sociedades democráticas todos os procedimentos que decorrem de pura indicação, filiação, origem, cor de pelé etc. São cada vez mais contestados. Odeia-se, a cada dia com mais intensidade, sobretudo em sociedades extremamente desiguais como a nossa, a oligarquia, a plutocracia, o nepotismo, o filhotismo etc. A essência do cargo público deve residir na meritocracia (ou na eleição por voto direto do povo).

Tanto a escolha dos ministros dos tribunais superiores como a dos interessados no quinto constitucional deve ser modernizada, com ingredientes típicos da meritocracia, o que significa aferição de conhecimentos por meio de provas (ou formas substitutivas) e títulos.

Deveríamos pensar em sabatinas públicas honestas e transparentes (como a luz do sol) realizadas pelo Judiciário e pelo Legislativo, antes da nomeação pelo Executivo (que também deveria sabatinar o interessado publicamente). A própria OAB e o Ministério Público, na seleção dos melhores para o quinto constitucional, deveriam abrir um processo de sabatina pública, onde tudo poderia ser perguntado, para se aferir as competências e habilidades dos candidatos (conhecimento jurídico e reputação ilibada).

Constitui um atraso incomensurável conceber que alguém vai para a “folha do Estado” por meio de um mero processo de indicação ou nomeação direta de quem manda (tal como ocorria na colônia). O processo de escolha dos juízes, que não se submetem a concursos públicos, jamais deveria ser meramente burocrático ou procedimental (comprovação de tantos anos de advocacia ou de Ministério Público e “força política” de cada candidato).

Desde o Iluminismo prepondera a razão subjetiva (ou instrumental ou individualista) sobre a objetiva (ética e moralmente irrefutável). No caso brasileiro, essa razão subjetiva se tornou deplorável porque normalmente quem detém o poder detém também o poder de indicar, de nomear, de eleger, de sufragar (veja o que os inescrupulosos agentes econômicos e financeiros fazem com os corrompidos políticos).

LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista e diretor-presidente do Instituto Avante Brasil.

Artigo: Administração escolar no Brasil

Por Alexei Esteves

O estudo da história da educação brasileira revela que o tema da democratização, associado ao da universalização do ensino, salvo em alguns momentos de enfraquecimento, vem traduzindo-se em uma preocupação constante nos debates educacionais. A discussão sobre a qualidade, por sua vez, apesar de estar presente, de alguma forma, desde o “otimismo”, manifestou-se de forma mais explícita em movimentos específicos (Escola Nova e Tecnicismo), até atingir seu ápice nos anos 1990.

Nessa década, dentro de uma ótica progressista, a qualidade será mais um elemento pelo qual se deve lutar, portanto como uma extensão de direitos, em que se defende uma escola pública, gratuita e democrática. Porém, sob a inspiração de uma pedagogia de caráter neotecnicista, decorrente das idéias neoliberais que iriam desaguar com maior ímpeto, nesse ínterim, a problematização acerca da qualidade, assumida pelo discurso de cunho neoliberal, irá embotar a preocupação com a democratização da educação e da sociedade.

O problema da qualidade será aí compreendido dentro da lógica produtiva empresarial. Segundo esse prisma, não há falta de vagas e nem de recursos, mas uma ineficiência da administração escolar pública.

Ambas as posições, porém, irão reconhecer a importância da gestão educacional, e mais especificamente, da gestão escolar, como uma das formas de concretizar essa qualidade. Os setores progressistas, entendendo a qualidade dentro de uma concepção mais ampla, lutarão por formas mais justas de organização escolar. Os setores conservadores, contudo, irão proclamar por novas formas de gestão com o objetivo de promover a eficiência no campo educacional.

Assim, se no movimento escolanovista a qualidade esteve relacionada aos meios de aprendizagem, e no tecnicismo às técnicas implementadas no processo de ensino, na década de 1990, essa dimensão estará associada, entre outros aspectos, à gestão escolar, ou melhor, à gestão democrática escolar. Há que se alertar que a importância conferida à administração não pode ser considerada como um fenômeno circunstancial ou uma simples corrente acadêmica. Na verdade, a atenção concedida a ela, atualmente, deve ser compreendida como uma questão dotada de historicidade, pois, como se viu, tem sido objeto de investigação sistemática desde a década de 1960.

A idéia é que a ênfase na gestão democrática da unidade escolar é influenciada pela dinâmica dos movimentos que a antecederam – analisados aqui sob as categorias democratização e qualidade escolar. Contudo, é preciso elucidar que a importância que irá adquirir a temática gestão democrática no meio acadêmico e no campo das políticas públicas educacionais fará com que esta problemática seja mais do que um desdobramento das categorias acima referidas e se consubstancie em um outro movimento de suma importância nos debates educacionais.

Esse movimento está relacionado com uma dinâmica de focalização da escola, que se apresenta nitidamente, no Brasil, a partir da década de 1980. A valorização da organização escolar implicará o reconhecimento das unidades de ensino como locais dotados de uma margem de autonomia pedagógica e administrativa. Sob a orientação dessa valorização, a gestão escolar passará a ser objeto de atenção dos sujeitos envolvidos, direta ou indiretamente, com a educação.

OPINIÃO: Instrumentação cirúrgica: quem paga esta conta?

Por CADRI MASSUDA*

Nos últimos anos, a instrumentação cirúrgica vem situando-se como peça importante na equipe para a realização de procedimentos médicos. Apesar de ter alcançado este reconhecimento, ainda há muito o que ser ajustado.

Assim como cresce o trabalho deste profissional na equipe, os problemas em relação a ele têm aumentado, principalmente porque não há ainda uma forma adequada de remuneração. As tabelas de honorários médicos (CHPM ou AMB) que são adotadas pela maioria dos convênios médicos, não contemplam estes pagamentos.

Há alguns anos atrás, a Associação Médica Brasileira tentou normatizar, indicando que o valor deveria ser de 10% do valor da cirurgia. Entretanto, há uma insatisfação do profissional quanto a estes valores, pois em alguns casos é uma remuneração não condizente com o trabalho realizado e isto faz com que ninguém o pratique.

Essa ausência de regulamentação resulta em grandes discrepâncias de cobranças e falta de padronização. Alguns exigem pagamento antes do procedimento, outros permitem que seja após. Em determinados casos, o médico recebe os honorários referentes à instrumentação, em outros, é o hospital. E os valores variam de forma absurda: há profissionais que cobram até 400% a mais do que outros.

Muitas vezes, cirurgias são desmarcadas ou adiadas porque o paciente – segurado de um plano de saúde – não acha justo este pagamento. E então, ocorre o conflito “instrumentador x segurado x plano de saúde”. Na maioria dos casos, o beneficiário realiza o pagamento para depois ser reembolsado pelo convênio.

Entretanto, a falta de regulamentação prejudica a todos os envolvidos neste processo: operadoras de planos de saúde que não podem contar com a uniformidade dos valores cobrados, os próprios instrumentadores que não têm legislação que garanta seus direitos e pacientes, que precisam arcar com despesas obrigatórias mesmo contando com plano de saúde.

É necessário que ANS, associações médicas e entidades de classe que representam os profissionais de instrumentação cirúrgica entrem em acordo para que a lacuna seja preenchida e que haja regulamentação. Assim, as operadoras de saúde poderão fazer o pagamento devido a esses profissionais que são fundamentais na rotina médica e os pacientes poderão ficar tranquilos de que não terão despesas extras na hora de realizar um procedimento cirúrgico.

*Cadri Massuda é presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo Regional Paraná e Santa Catarina

OPINIÃO: Os deficientes também precisam se divertir!

Por DOLORES AFFONSO*

Muito se fala na empregabilidade da pessoa com deficiência, na educação inclusiva, na sexualidade, na acessibilidade e mobilidade urbana, no acesso à saúde e até nas adaptações veiculares. Vemos a todo momento notícias sobre o desrespeito aos direitos das pessoas com deficiência mas, muitas vezes, nos esquecemos de que são seres humanos e possuem desejos, necessidades, medos e alegrias como qualquer outra pessoa. Somos assunto, tema de debates, passeatas e de tratados internacionais, mas queremos ser mais do que isso!

Já diziam os Titãs: “Você tem fome de quê? A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte!”. Sim, queremos acesso também ao esporte, à cultura, ao turismo e ao lazer. Os deficientes também precisam se divertir! Para se ter uma vida plena, é fundamental que isso aconteça.

Ainda há muito o que se fazer quando falamos em esporte adaptado. Não me refiro aqui somente ao esporte na escola ou nos centros e clubes esportivos. Sabemos que precisam ser revistos e investimentos devem ser feitos para que ofereçam a prática real do esporte e possam receber e promover a inclusão pelo esporte. Também não estou me referindo ao esporte profissional ou olímpico, pois é notória a capacidade dos deficientes; basta observarmos as paraolimpíadas e os grandes esportistas que temos no Brasil e no mundo. Na última olimpíada vimos, inclusive, deficientes competindo com pessoas sem deficiência como o sul-coreano Dong Hyun Im, de 26 anos, deficiente visual (baixa visão), que competiu no tiro com arco.

De uma forma geral, é preciso reconhecer a importância do esporte não somente como caminho para a reabilitação, mas como fonte de prazer, diversão. Isso inclui todos os tipos de atividades, artes marciais, esportes radicais etc. Muitas pessoas acham que, por sermos deficientes, não podemos praticar tais esportes. Bom, eu mesma já fiz arvorismo e mergulho e conheço vários deficientes que praticam surf, canoagem, escalada etc.

Outro ponto importante se refere ao turismo. É fundamental que haja rotas turísticas com adaptações, empresas especializadas e cidades preparadas para receber e atender, com qualidade, pessoas com deficiência, tanto nos hotéis e restaurantes, como nos passeios e demais eventos. Como, por exemplo, a cidade de Socorro, em São Paulo, premiada até por órgãos internacionais. Não é perfeita, é verdade, mas está no caminho certo!

Governantes, empresários e a sociedade em geral precisam se dar conta de que as pessoas com deficiência são cidadãos, contribuintes, consumidores e clientes como qualquer um. Viajam, apreciam a gastronomia, o teatro, o cinema, a música e a dança como qualquer pessoa.

Neste contexto, devemos ter atenção aos diversos tipos e opções de lazer, desde o cultural, ou seja, oferecer salas de cinema, peças teatrais, espetáculos, exposições etc. acessíveis, até os mais comuns, como passeios pela natureza e pela noite, como bares, boates etc.

Todos os espaços precisam ser acessíveis. Isso é bem difícil de se ver por aqui. No Brasil, é raro encontrar um museu onde haja possibilidades de um deficiente visual tocar as peças para conhecê-las ou ter audiodescrição das obras expostas, além da falta de acessibilidade física já conhecida nos espaços culturais.

No Congresso de Acessibilidade, evento gratuito e online com mais de 30 palestras e entrevistas que ocorre de 21 a 27 de setembro, discutiremos estes temas como forma de promover a qualidade de vida e a inclusão da pessoa com deficiência na sociedade. Participe! Dê sua opinião!

*Dolores Affonso é coach, palestrante, consultora, designer instrucional, professora e idealizadora do portal Congresso de Acessibilidade.

OPINIÃO: Tem graça?

Por KATIELLY DE LIMA MACEDO*

O humor é um tipo de entretenimento que permite, por sua capacidade de propagar o riso, o descompromisso com a seriedade. Isso tem gerado algumas discussões a respeito do que pode ou não ser objeto de brincadeira, já que muitas vezes o que parece engraçado  para alguns, para outros é constrangedor e discriminatório.

Por isso, o humor tem limite e deve estar ao lado do respeito. Não pode ser insultante, fazer apologia à intolerância, tampouco servir como instrumento de humilhação. Piadas são, na maioria das vezes, estereotipadas, ou seja, expressam generalizações. Assim, devem ser feitas com cuidado, pois muitas vezes são versões distorcidas ou exageradas da realidade e acabam ofendendo.

Negros, cristãos (principalmente evangélicos) e homossexuais são, quase sempre, relatados de forma preconceituosa. Por isso, é preciso certo policiamento dos comediantes ao comentar sobre esses grupos. Afinal, o argumento “É só uma piada!” não é válido para qualquer circunstância. Isso não é defender a censura, é cuidar para que a liberdade de expressão não seja usada para incentivar machismo, homofobia, xenofobia e discriminações étnicas.

Chamar alguém de “macaco” por conta da cor da pele não é engraçado, assim como não tem graça dizer que uma moça fora dos padrões de beleza tem sorte em ser estuprada. Comentários como esses são desumanos e oprimem minorias sociais (negros, gordos, mulheres e idosos). Rir disso é aceitar e propagar uma cultura violenta.

Portanto, só o respeito pode regrar o humor sem torná-lo chato. A comédia não vai deixar de ser hilariante se os humoristas tiverem um pouco mais de cautela com o que dizem. A consciência humana pede um novo tipo de espetáculo, mostrando que a postura preconceituosa é ridícula e que ser diferente não é anormal. É tempo de um humor mais instigante e menos depreciativo.

*Katielly de Lima Macedo é estudante e aluna de Menelau Júnior

OPINIÃO: Por que Marina?

Por CRISTOVAM BUARQUE*

Porque o modelo do país dos últimos 20 anos se esgotou. Seus quatro pilares, que atravessaram os governos do PT e do PSDB coadjuvados pelo PMDB, entraram em fadiga.

A democracia do fisiologismo, da falta de princípios e ética, do caos partidário, já não satisfaz e o povo mostrou isso nas ruas.

A estabilidade monetária está ameaçada pelo descontrole nos gastos públicos e pela incerteza dos pacotes e da administração de preços. As transferências de renda não criaram portas de saída.

O crescimento econômico se apequenou e não mudou a cara do PIB que continua baseado em bens primários. E porque ela traz confiança e esperança.

Confiança de responsabilidade com a gestão econômica ao defender o Banco Central independente e o tripé da estabilidade fiscal. Certeza de que não haverá retrocesso nos avanços sociais, desde a transferências de renda enquanto forem necessárias, passando pelas cotas e os reajustes do salário mínimo acima da média dos salários.

Esperança de uma nova forma de diálogo com os políticos. Embora isso possa trazer riscos em um quadro onde as lideranças se acostumaram em vender apoio de forma fisiológica e corrupta, não é mais possível adiar esta nova postura na gestão pública.

Esperança na construção de mecanismos para libertar as populações pobres da necessidade de assistência. Assegurar que enquanto uma família precisar, receberá bolsas, mas o governo não descansará enquanto uma família ainda precisar delas.

Esperança na possibilidade de uma inflexão no modelo de desenvolvimento em direção não apenas à retomada do crescimento, mas também na construção de um novo perfil para o PIB, reorientado para bens e serviços modernos de alta tecnologia, e com sustentabilidade ecológica.

Convicção de que o vetor central para este novo tempo será a realização do sonho de Eduardo Campos resumido na frase que ele disse e repetia de que o Brasil só será um país como desejamos quando os filhos dos pobres estudarem nas mesmas escolas em que estudam os filhos dos ricos.

*Cristovam Buarque é professor da UnB e senador pelo PDT-DF

Secret: Liberdade de expressão ou covardia anônima? .

Por Menelau Júnior

O aplicativo Secret, criado na Califórnia em janeiro deste ano, chegou ao Brasil em junho e, agora, foi proibido pela justiça. Por meio dele, seus usuários podiam postar, sob um suposto anonimato, o que bem entendessem. Nem é preciso dizer que o Secret se tornou, no Brasil, um instrumento a serviço da covardia e do mau-caratismo. Pessoas passaram a ser difamadas, insultadas e caluniadas por gente que simplesmente se sente no direito de escrever o que pensa – se é que essa gente pensa…

A proibição judicial já fez com que o Secret fosse retirado de algumas lojas virtuais. Em delegacias especializadas em crimes virtuais, ele foi o centro das atenções este mês. E para aqueles que escreveram o que veio à cabeça, uma péssima notícia: hackers americanos “quebraram” o sigilo do Secret e prometem espalhar pela internet a forma de saber quem escreveu o quê. Os adolescentes brasileiros que aderiram à moda e praticaram bullying cibernético da pior espécie já devem se preocupar.

Não é a primeira vez nem será a última que as novas tecnologias são usadas a serviço de intrigas e crimes de toda natureza.

Mas condenar o aplicativo é uma forma tão burra de pensar quanto achar que a violência no trânsito é reflexo da potência dos carros. O problema é a índole do indivíduo, sua educação, sua percepção de membro da sociedade. Esconder-se atrás do (suposto) anonimato para caluniar, difamar, injuriar, propagar preconceitos e praticar outros crimes é prova de covardia, de mau-caratismo, de perversão. Pessoas inteligentes discutem ideias; aos maldosos resta a satisfação de falar da vida alheia.

Como sociedade global, ainda estamos aprendendo a lidar com a internet. Do ponto de vista ético, precisamos evoluir muito. Mas, claro, isso só se consegue com educação. E, quando falo em educação, não estou me referindo apenas a escolas de péssima qualidade, que servem muito mais como depósito de crianças e adolescentes do que centros de formação intelectual.

O papel da família é imprescindível na busca por cidadãos mais íntegros. O Secret, não é segredo para ninguém, já está com os dias contados. Mas deve deixar uma lição a todos nós: é o que fazemos e dizemos quando ninguém nos vê que revela, de fato, quem nós somos. Entre frases engraçadas e futilidades do dia a dia, o Secret também trouxe a vergonha e a humilhação públicas. Que os covardes paguem pelo que escreveram. Numa democracia civilizada, não se pode – nem se deve – confundir liberdade de expressão com covardia anônima.

Menelau Júnior é professor de língua portuguesa.