Artigo: Controle social e participação: O conselho de promoção da igualdade racial

POR: Aristóteles Veloso 

Já faz mais de dois anos que a agenda da promoção da igualdade racial toma forma em Caruaru. Começamos com as mulheres de terreiros na Conferência da Mulher e ampliamos a participação para outros segmentos, como o público LGBT. A principal bandeira no início do processo era o preconceito religioso contra as tradições de matriz africana. Tentamos envolver novos atores e novos temas em torno da promoção da igualdade racial, mas a pauta em torno das matrizes africanas, impossibilitaram a agregação de alguns atores que viam na agenda uma programação de religião específica em detrimento da causa racial. A pauta dos terreiros ainda era o tema central do debate, buscamos visibilizar esse grupo específico que há séculos vem sofrendo uma enorme repressão do Estado e da sociedade. Os avanços nas reuniões, encontros, debates, seminários, exposições e caminhadas, atividades marcada pela participação e pelo diálogo aberto e transparente, foram interessantes no sentido de os atores que estavam de fora do debate e que vez ou outra participavam das ações perceberam que poderiam ampliar a agenda da promoção da igualdade racial. Começaram a participar e demandar ações ampliadas nas diversas temáticas, como a saúde da população negra, o racismo institucional, a lei 10.639/ 2003 – que versa sobre a cultura e história da áfrica e afro-brasileira -, a cultura, através dos grupos de capoeira, entre outras. Esses novos atores qualificaram e muito os debates.

 A culminância dessas demandas e debates ocorreu na 1º Semana da consciência negra onde ampliamos as ações e discussões para além da pauta das religiões de matriz africana e afro-brasileira. A visibilização deste debate a provocação da sociedade e de seus diversos atores e segmentos levaram a ampliação da participação e do debate na cidade colocando a pauta da promoção da igualdade racial e do respeito religioso como agenda institucional da Secretaria da Mulher e de Direitos Humanos, com a institucionalização de uma assessoria para promoção da igualdade racial ligada diretamente a gerência de Direitos Humanos.

A consolidação desta agenda se deu na construção e realização da 1º conferência Municipal de promoção da Igualdade Étnico-racial onde os segmentos da cultura, educação, justiça, religião, saúde, LGBT´s, juventude e mulheres proporcionaram um debate qualificado e demandaram ao poder público municipal a execução de demandas legitimas levantadas nas 09 pré-conferências e na conferência magna. Dessas demandas resultaram em um caderno de propostas que serviram de orientação no planejamento e execução de um plano de gestão para pauta. O fruto de todo esse processo de participação social e diálogo entre governo e sociedade civil será a institucionalização de um órgão de controle social e participativo que é o Conselho Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Étnico-racial, órgão paritário de gênero que irá agregar os atores e atrizes responsável pela pauta de combate ao racismo e a discriminação racial da sociedade civil e do governo.  Será a oficialização de uma agenda que vem ganhando força e ampliando seus espaços de controle e fiscalização do governo e da sociedade no que se referem às demandas, problemas e políticas públicas voltadas a negros e negras de nossa cidade. Cabe agora aos atores e atrizes ocuparem esses espaços, pautando e controlando as ações do governo no que se refere às políticas públicas de promoção da Igualdade Racial.

 

Aristóteles Veloso é Gerente de Direitos Humanos da Secretaria Especial da Mulher e professor universitário. 

 

OPINIÃO: Capoeira

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Mestre Bimba é recebido pelo presidente Getúlio Vargas: luta pela liberação da capoeiragem

Por DANIEL FINIZOLA

Há alguns dias, fui convidado para uma roda de diálogo sobre capoeira. Fiquei impressionado com o nível de organização e o compromisso que os grupos têm, todos conscientes da necessidade de debater o tema com a sociedade. Confesso que fiquei emocionado ao ver o brilho nos olhos de cada pessoa que falava. Senti que naquele momento não estávamos debatendo apenas a capoeira, mas a identidade cultural do meu país.

Hoje, Caruaru possui cerca de 16 grupos de capoeira. Entre eles encontramos: Falcão Negro, Balé Capoeira, Voo da Águia, todos grupos genuinamente caruaruenses. Cada grupo adota um estilo dentre os que se desenvolveram ao longo do tempo no país. De modo geral, a capoeira é um esporte, um misto de luta e dança com golpes acrobáticos cheios de ginga embalados por uma sonoridade de origem africana. A capoeira foi muito utilizada no Brasil pelos negros no período da colônia e no império como instrumento de luta. Com a proclamação da República, a capoeira passou a ser proibida pelo Código Penal brasileiro em seu capítulo XIII:

“Capítulo XIII – Dos vadios e capoeiras

Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercício de agilidade e destreza corporal conhecida pela denominação Capoeiragem: andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir lesão corporal, provocando tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal”.

A prática da capoeira podia render 300 açoites ou até mesmo uma prisão com trabalhos forçados na ilha de Fernando de Noronha. A partir dos anos 30 do século passado, o mestre Bimba encabeça a luta pela descriminalização da capoeira no contexto nacionalista da era Vargas. Pouco tempo depois, a capoeiragem foi liberada e reconhecida como esporte nacional.

Em Caruaru, o Narcab (Núcleo de Apoio e Resistência à Cultura Afro-Brasileira) vem fazendo o trabalho de conscientização com oficinas e rodas de diálogo. A luta é para que o Estatuto da Igualdade Racial seja de fato respeitado. Estatuto que aponta na seção IV a necessidade de fomentar a capoeira – seja como luta, dança esporte ou música.

Recentemente, vimos atos de preconceito contra jogadores de futebol em cadeia nacional. Pior é ouvir uma galera batendo no peito e afirmando que “esse lance de racismo não existe mais no Brasil”. Agora, pergunte se os jogadores que sofreram racismo comungam dessa mesma ideia? Em 2003, foi criada uma lei que propõe novas diretrizes para o estudo da história, da cultura afro-brasileira e africana. Lembre que no seu livro didático do ensino fundamental e médio dificilmente você via um capítulo que tratasse da história da África. Um absurdo, não? Já que a etnia negra é tão importante na nossa constituição cultural. Isso é fruto de uma historiografia eurocêntrica que determinou os rumos da visão histórica durante anos, violentando a identidade dos indígenas e negros. Cabe às escolas abrir o diálogo sobre temas como racismo, que lamentavelmente ainda assola a sociedade.

Hoje, os jogos escolares estão cheios de modalidades esportivas oriundas de vários lugares do mundo. Acho ótimo! Nada contra. Mas, por que não colocamos a capoeira, esporte genuinamente nacional, como modalidade? É um grande exercício físico, atende a parâmetros curriculares educacionais, fortalece e preserva nossa identidade cultural.

Eu defendo essa ideia. E você?

daniel finizola

 

@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br

OPINIÃO: A verdade sobre os corretores de imóveis

Por ALEXANDRE BARBOSA MACIEL

Após breve parada, voltamos com um assunto que muitos têm comentado: a carreira de corretor de imóveis. Existem vários paradigmas criados em torno da profissão: de que é exercida por pessoas que não se encontraram em outras profissões, que é bico, que não é preciso estudar muito para ser corretor, que você ganha muito dinheiro da noite para o dia, que são todos trambiqueiros. Tudo balela.

A profissão de corretor de imóveis requer muito estudo e preparo, em qualquer dos segmentos, pois sem o conhecimento necessário para lidar com as várias questões multidisciplinares que envolvem a atividade, a carreira do profissional pode acabar mal. Exige retidão no caráter e muita dedicação igualmente às mais importantes profissões.

A responsabilidade civil que imputa ao profissional a obrigação de ressarcir por qualquer dano causado em função de serviço prestado, independentemente de culpa, se tornou um fator de seleção natural para a própria categoria e seus profissionais, que não poderão mais ser negligentes ou imprudentes no exercício da atividade e muito menos se meter a fazer o que não sabem.

Ainda hoje, quase 52 anos depois da regulamentação da profissão, se discute a situação jurídica do corretor de imóveis que exerce a atividade agregado a alguma imobiliária, trazendo certa insegurança na relação entre empresas e corretores, por mero desleixo nosso e dos nossos representantes que não buscamos através das nossas entidades representativas que fosse regulamentada essa situação. Não buscamos os nossos políticos para que eles legislassem sobre essa questão, pondo fim a esta celeuma.

Ou seja, a profissão de corretor ainda está em plena evolução. A facilidade em se tornar corretor de imóveis se contrapõe às dificuldades em fiscalizar a atividade e muitos desistem nos tempos de crise. A maioria dos corretores ditos autônomos ainda não se preocupa com a sua situação previdenciária, negligenciando com os recolhimentos ao INSS durante a sua vida laboral.

Por isso, ser um corretor de imóveis é uma opção profissional desafiadora, empolgante, mas pode se tornar desinteressante se o profissional não viver buscando conhecimento e se não estiver fortalecendo sempre a sua rede de relacionamentos.

alexandre barbosa


Alexandre Barbosa Maciel, advogado, é corretor de imóveis, conselheiro suplente do Creci-PE e diretor da Imobiliária ABM. Escreve todas as terças-feiras para o blog

OPINIÃO: Fim da violência contra a mulher: um longo caminho por estradas tortuosas

Por KARINA BONER

Existem avanços, e muitos, no combate à violência contra as mulheres no Brasil. Percebe-se, no entanto, que este caminho ainda é bastante tortuoso. As políticas de enfrentamento à violência contra as mulheres devem ser – e têm sido – efetivamente assumidas pelos poderes públicos constituídos. Podemos citar como exemplo prático a criação de mecanismos políticos e bem estruturados como as Secretarias Estaduais e Municipais de Mulheres, os Juizados, as Defensorias Especializadas de Violência Doméstica e Familiar e as Promotorias, além de um fortalecimento da Lei Maria da Penha, com julgamentos justos aos agressores.

Não obstante, superar essa questão ainda é um dos maiores desafios impostos ao Estado brasileiro na atualidade. As diversas formas de violência contra a mulher e o feminicídio, que é o assassinato de mulheres pelo fato de serem mulheres, são violações aos direitos humanos e incompatíveis com o Estado Democrático de Direito e com o avanço da cidadania, em boa parte patrocinado pelas conquistas do movimento feminista e de mulheres nos últimos séculos. Mais de sete anos após o surgimento da Lei Maria da Penha, ainda são preocupantemente altos os índices de violência de gênero no País e a ausência de políticas públicas eficazes para o enfrentamento dessa brutalidade, infelizmente, só os fortalece.

Chama a atenção, por exemplo, os dados da Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180), que revelaram que, a cada hora, dez mulheres são vítimas de maus tratos no País. No balanço do primeiro semestre de 2013, o Distrito Federal liderou, pela segunda vez consecutiva, o ranking nacional de acesso ao Ligue 180, com uma taxa de 673,53 registros para cada 100 mil mulheres, um aumento de 7,65% frente aos 625,69 por 100 mil mulheres registrados no mesmo período do ano anterior. Por um acaso ou não, a história da Associação de Mulheres Empreendedoras (AME), entidade civil que luta pela valorização da mulher na sociedade, nasceu na capital federal.

Alguns municípios brasileiros já apresentam iniciativas bem-sucedidas para reprimir agressores. O botão do pânico, em Vitória (ES), e a tornozeleira eletrônica, em Belo Horizonte (MG), são exemplos de ideias que poderiam ser replicadas em outras cidades. Utilizado na capital capixaba desde maio do ano passado, o botão do pânico é um dispositivo que a mulher pode carregar consigo e acionar caso sinta-se ameaçada pelo agressor, enviando um sinal (inclusive de áudio) às viaturas especializadas. Quatro homens já foram apreendidos com auxílio do aparelho. A tornozeleira, por sua vez, passou a ser usada em Belo Horizonte por agressores de mulheres em março de 2013. Em cinco meses de programa, o equipamento já havia monitorado 329 agressores e vítimas. No Rio Grande do Sul, o uso da tornozeleira tem início programado para o fim deste mês.

Apesar de a Lei Maria da Penha ser uma das mais avançadas do mundo, ela não determina como deve ser feita a fiscalização das medidas protetivas – essas iniciativas, portanto, são uma forma de verificar o cumprimento das medidas e oferecer uma maior segurança às vítimas. Por fim, ainda existe uma necessidade urgente de melhorar os sistemas de informação já utilizados pelos órgãos de Segurança Pública sobre a violência contra as mulheres, de modo que permitam planejar, monitorar e avaliar melhor as políticas públicas e, o mais importante, punir efetivamente os agressores.

Karina Boner é vice-presidente da Associação de Mulheres Empreendedoras (AME)

OPINIÃO: A Pegada Ecológica

Por MARCELO RODRIGUES

Desenvolvida pela equipe de Mathis Wackernagel e William Rees, da University of British Columbia, em 1993, o método contábil da Pegada Ecológica é coordenado hoje pela GFN (Global Footprint Network), fundada em 2003, e suas 50 organizações parceiras.

A Pegada Ecológica é uma metodologia utilizada para medir os “rastros” que nós deixamos no planeta a partir dos nossos hábitos de consumo. O cálculo já é feito para os países e agora começa a ser ampliado para um nível mais local, para as cidades e Estados. O objetivo não é somente calcular a Pegada Ecológica, mas estabelecê-la como uma ferramenta de gestão ambiental regional e urbana.

O cálculo é uma parte fundamental deste processo. Mas, para dar sentido ao indicador, a população deve ser mobilizada para compreender o seu significado e desenvolver a partir da discussão sobre os resultados – estratégias de mitigação em conjunto com os setores público e privado. Dessa forma, o cálculo não se restringirá a um exercício de contabilidade ambiental e se tornará uma ferramenta que estimulará a população a rever seus hábitos de consumo e escolher produtos mais sustentáveis, além de estimular empresas a melhorarem suas cadeias produtivas.

A Pegada Ecológica de um país, Estado, cidade ou pessoa corresponde ao tamanho das áreas produtivas terrestres e marinhas necessárias para sustentar determinado estilo de vida. É uma forma de traduzir, em hectares, a extensão de território que uma pessoa ou uma sociedade utiliza para morar, se alimentar, se locomover, se vestir e consumir bens de consumo em geral. É importante ressaltar que é considerado para este cálculo o impacto do consumo sobre os recursos naturais renováveis.O cálculo da Pegada Ecológica é uma etapa importante, mas constitui o primeiro passo e há ainda um longo caminho pela frente. E essa é uma tarefa que deve ser de todos.

Os governos, as empresas e os cidadãos têm um papel fundamental nesse processo. Os próximos passos agora serão mobilizar a população, universidades, empresas e organizações da sociedade civil para buscar soluções que ajudem a diminuir os impactos do consumo sobre os recursos naturais e contribuam para melhorar o desempenho ambiental do município e do Estado, reduzindo a Pegada Ecológica.

O cálculo é a primeira etapa do processo de mudança. A partir dos resultados, será necessário mobilizar a população, universidades, empresas e organizações da sociedade civil. As pegadas que deixamos revelam muito sobre quem somos. O consumo exagerado, o desperdício, o uso excessivo de recursos naturais, a degradação ambiental e a imensa quantidade de resíduos gerados são rastros deixados e que apontam a medida do que devemos e podemos mudar em nossas vidas em favor da natureza.

Trinta municípios já se comprometeram e assinaram a Carta Rio Pela Sustentabilidade, a fim de propor meios de verificação mensuráveis e verificáveis para a sustentabilidade. A Pegada Ecológica se apresenta como um indicador apropriado de monitoramento, de maneira consistente, já que a redução da perda de biodiversidade associada com o uso excessivo de serviços ambientais depende da humanidade.

Essas cidades, ao fazerem esse trabalho, também dão um exemplo para outros países. Para o WWF-Brasil, os municípios e os países devem levar em conta não apenas o PIB (Produto Interno Bruto) ou outros indicadores econômicos quando avaliam o seu crescimento. O impacto deste crescimento sobre os recursos naturais não é capturado pelos indicadores em uso.

É importante que esse crescimento ocorra de maneira sustentável e acreditamos que uma boa maneira de fazer isso é as cidades e os países assumirem o compromisso de medirem suas pegadas ecológicas e adotarem medidas que possibilitem a sua redução. Queremos que o índice possa fazer parte das contas nacionais, a exemplo do que acontece hoje com o PIB.

É decisivo para a conscientização das autoridades municipais e dos cidadãos de que deve ser obrigatório que uma cidade tenha que fazer sua parte no enfrentamento do aquecimento global e da crise climática sem esperar pelos outros.

No que se refere aos caminhos para mitigação, destacamos as seguintes iniciativas que poderiam ser aplicadas em nossa cidade: captação de metano no aterro sanitário para utilização como energia; aprovação de legislações que contemplem as mudanças climáticas, com metas a serem atingidas; expansão de transporte coletivo e o programa Ecofrota Pública para sair da dependência do petróleo, com a adoção do conceito de cidade compacta nas novas operações urbanas; plano de reflorestamento com árvores nativas e plano cicloviário; plano de despoluição do rio Ipojuca; lei de resíduos sólidos e sua aplicabilidade; entre outros.

Por isso, participar do cálculo da Pegada Ecológica é uma aposta acertada, pois nos possibilitará ter acesso não só às informações, mas também à medida do que cada um de nós terá que contribuir.

marcelo rodrigues


Marcelo Rodrigues foi secretário de Meio Ambiente da Cidade do Recife. É advogado e professor universitário. Escreve todas as sextas-feiras para o blog

OPINIÃO: Você escolhe a concordância

Por MENELAU JÚNIOR

menelau colunaVeja essa manchete do Jornal do Commercio: “Faltam estrutura e médicos no Cisam”. A frase merece uma análise mais cuidadosa no que se refere à concordância verbal.

No padrão formal da linguagem, o verbo deve concordar com o núcleo do sujeito. Entretanto, quando o aparece antes do sujeito, é relativamente comum que não ocorra a concordância, principalmente na fala. Por isso, ouvimos por aí frases como “Falta cinco minutos para começar o jogo” (deveria ser “faltam”), “Cabe cinco pessoas no carro” (deveria ser “cabem”) e “Morreu três pessoas no acidente” (deveria ser “morreram”).

Entretanto, quando o sujeito é composto (tem dois ou mais núcleos) e o verbo o antecede, há duas concordâncias possíveis: o plural, levando em consideração os dois núcleos, ou com o elemento mais próximo.

No caso do título sob análise, temos um sujeito composto: “estrutura e médicos”. O verbo está anteposto: “Faltam”. E agora? Bem, o Jornal do Commercio acerta quando emprega o plural, fazendo o verbo concordar com “estrutura e médicos” – aliás, essa é a concordância mais adequada, uma vez que leva em consideração todos os elementos que compõem o sujeito. Entretanto, a forma “Falta estrutura e médicos no Cisam” (com verbo no singular) também estaria correta, mas aí o verbo estaria concordando apenas com o núcleo mais próximo, que é “estrutura”.

Marisa Monte, em sua canção “Gentileza”, nos dá um exemplo dessa concordância com o elemento mais próximo: “Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza/ Só FICOU no muro TRISTEZA e tinta fresca”, canta a bela. Nesse caso, a forma “ficou” tem como sujeito “tristeza e tinta fresca”, mas se optou pelo singular fazendo-se a concordância apenas com “tristeza”.

Portanto, não se esqueça: nos casos em que o sujeito é composto e o verbo o antecede, você escolhe a concordância: no plural ou com o núcleo mais próximo.

Até a próxima semana.

menelau blog

 

Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

OPINIÃO: A festa da carne

Por DANIEL FINIZOLA

Até parece que a sexta não vai acabar! Os planos e as malas já estão prontas desde a quinta à noite. O trabalho mal acabou e as pessoas já trocam mensagens de texto marcando a hora e local do encontro para partir e curtir. Na bagagem, fantasias irônicas, políticas, engraçadas e até sexuais, além de muita expectativa e alegria. A alma do brasileiro é tomada por um fenômeno que em Pernambuco ferve, na Bahia ginga e no Rio samba.

É assim que a festa da carne vai se espalhando Brasil afora, mistura irreverência, animação, culturas e uma boa dose de insanidade saudável, se é que podemos falar assim. Afinal de contas, subir e descer as ladeiras de Olinda com um calor de 40 graus no quengo, com toda aquela multidão gritando, suando, dançando e se melando, não me parece algo de muita sanidade! O nosso carnaval é muito mais que uma expressão cultural, é uma entidade que reside no inconsciente da maioria de cada cidadão e cidadã brasileira. Ao som dos clarins de Momo, ela ganha vida, toma seu corpo, se transforma em energia para enfrentar dias de muita festa – sem se alimentar direito, dormindo pouco, bebendo muito, beijando, romantizando e profetizando o Pierrô e a Colombina que residem em cada um de nós.

O cosmopolitismo é uma marca dessa festa, e em Pernambuco isso traz um tempero diferente ao caldeirão que ferve ao som de todos os ritmos. Samba, frevo, maracatu, marchinhas, caboclinho, rock, rap, eletrônico, tudo cabe no carnaval de Pernambuco, em especial o de Recife, que se notabilizou pelo slogan “Carnaval Multicultural”. Um reflexo do Leão do Norte negro, branco, indígena, cafuzo, mameluco, caboclo; um motor econômico que sempre protagonizou a produção cultural do país conectando o local com o universal. Seguimos mostrando para o Brasil e para o mundo quais as particularidades da cultura pernambucana, gerando turismo e dividendos para o Estado. Também propicia a todas as gerações de espectadores, artistas e produtores sentir novas sensações sonoras e culturais que só encontramos no carnaval multicultural de Recife.

Mas é preciso fazer uma crítica à forma como vem sendo conduzida a organização do carnaval em algumas cidades do país. Hoje, estamos vendo um fenômeno que diminui os espaços públicos em detrimento dos espaços privados. Camarotes e cordões de isolamento vêm privatizando a festa mais popular deste país. Até quando vamos permitir?

Enquanto isso, o carnaval caruaruense é marcado por uma diáspora para as praias do litoral sul. Já se tentou um pouco de tudo para ressignificar o carnaval de Caruaru. Já foi da La Ursa ao retiro espiritual, contrariando os tempos de Cacho de Coco, um grande carnavalesco caruaruense. Mas, aos poucos, a semana pré-carnavalesca em Caruaru vem ganhado força. Festa como a de Sucata, na rua João Condé, ganha – a cada ano – mais adeptos, os quais todos os anos marcam presença e desenvolvem um novo ritual carnavalesco na cidade.

O carnaval de Sucata é mais um exemplo de manifestação cultural caruaruense que merece a atenção do poder público. Vem crescendo de forma natural, feito por amigos que trazem na alma o desejo de transmitir alegria para cada rua e coração do “País de Caruaru”.

Até semana que vem.

daniel finizola

 

@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br

OPINIÃO: Carnaval brasileiro

Por MENELAU JÚNIOR

O Brasil é conhecido no exterior ou pelo futebol ou pelo carnaval. E só. Não temos universidades entre as melhores do mundo, nosso ensino fundamental é vergonhoso e matamos mais em um ano do que se matou na guerra do Iraque.

Os infantiloides ufanistas ainda querem acreditar que Deus é brasileiro. Imagina se não fosse!! Neste fim de semana, vamos mostrar ao mundo que nossas mulheres gostam de andar seminuas, que nossos jovens praticam sexo irresponsavelmente e que os homens exageram na bebida e vão dirigir alcoolizados. Traduzindo, é carnaval!

A maior festa brasileira é uma prova irrefutável de nossa mediocridade. Excetuando-se uma ou outra manifestação cultural, o carnaval brasileiro é um mistifório vulgar e banal. Mas nada que não possa ficar pior.

Basta olhar os mais recentes números da violência no Brasil. Por ano, são mais de 50 mil assassinatos. 50 mil. Isso significa que, por dia, aproximadamente 137 pessoas são mortas. São quase 6 por hora. Uma a cada 10 minutos.

Os números são alarmantes também quando o quesito é morte no trânsito. E depois do alarde Lei Seca, tudo já voltou ao normal. A polícia não tem bafômetros suficientes, e o cidadão pode se recusar a fazer o teste. Ou seja, é lei para inglês ver.

Só para se ter uma ideia da selvageria brasileira, em 2008, enquanto os Estados Unidos obtiveram uma taxa de 12,5 mortes a cada 100.000 habitantes, o Brasil apresentou uma taxa de 30,1, sendo que a frota de carros norte-americana é o triplo da brasileira. Matamos muito mais com muito menos!!

O Brasil é conhecido no exterior ou pelo futebol ou pelo carnaval. Nosso futebol já não é o melhor do mundo faz algum tempo. Nosso carnaval é grandioso em mortes, em exploração sexual, em consumo de bebidas alcoólicas. De fato, temos muitos motivos para comemorar. Já pegou sua fantasia?

Até a próxima semana.

menelau blog

 

Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

OPINIÃO: Cibercultura do dia a dia

Por DANIEL FINIZOLA

Aquilo que emite luz e vibra não para de incomodar. O dia segue na velocidade que ele determina. Compromissos, mensagens de trabalho, cálculos, redes sociais e, às vezes, uma mensagem de amor. Há muito não enxergamos mais as belezas do horizonte. Meu olhar agora está sempre para baixo, escravo da luz que dita o meu comportamento e meus horários. Já não consigo parar de trabalhar. A todo tempo chegam demandas. A jornada de trabalho a cada dia fica mais extensa. O tempo do lazer aos pouco vai se exaurindo, roubado por pequenos dispositivos que geram simulacros de felicidade e prazer. O mundo das sensações, da interação corporal e vivência plena dos relacionamentos aos poucos vem sendo engolido pelas relações virtuais.

Mas que mundo é esse que estamos criando? Quais as identidades que nos compõe nesse contexto? Todos os dias novas tecnologias surgem para ser nosso mais novo desejo de consumo. Rapidamente, essas tecnologias também passam a representar inclusão, mas sem gerar transformação social ou política – na maioria dos casos. Passa a ser emissora de desejos, vaidades, narcisismo. Passamos a disputar com a sociedade virtual um sinal de positivo, que aumenta a sensação de aceitação e nos torna vivos no mundo conectado.

Tudo fica rápido, dinâmico, veloz. Pode mudar a qualquer momento. Basta um toque no teclado ou uma transação bilionária para que um aplicativo que milhões de pessoas usam mude sua arquitetura informacional. Rapidamente, você terá que mudar sua lógica de raciocínio para se comunicar, não porque você quis, mas porque uma empresa determinou.

A nossa cultura e comportamento está cada fez mais refém do universo digital, que aos poucos muda nossas relações com outras pessoas e com o mundo. Estamos nos tornando pessoas naturalmente agitadas de colocações e análises superficiais, cheias de achismo. Geralmente, não estamos disponíveis nem para o debate, mas produzimos e compartilhamos imagens nas redes sociais com frases de efeito para fortalecer a nossa ideia de mundo “correto”. Criamos guetos virtuais para alimentar certezas, encontrar nossos pares e negar a alteridade.

Nesse mundo conectado, até a duração do sexo pode ser suprimida ou atrapalhada por alguma mensagem do WhatsApp. Vivemos a ditadura da conectividade ininterrupta e a reconfiguração das relações de poder. Passamos a ser uma sociedade que almeja o tempo todo o imediato em detrimento do processo, da construção, da vivência, da mediação.

Na internet todos nós somos bonzinhos, inteligentes, descolados, lindos, revolucionários capazes de mudar o mundo, ou seja, é o “show do eu” que sai em busca da aprovação dos outros avatares. Precisamos de adjetivos, mesmo que sejam simbólicos, virtuais, para suprir a falta de alegria do cotidiano. No ponto de ônibus, no almoço ou no papo com os amigos, o seu smartphone pode lhe trazer a felicidade ou uma nova meta de beleza para o dia de hoje.

Onde isso vai parar?

Até semana que vem.

daniel finizola

 

@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br

OPINIÃO: S.O.S Venezuela

Por RAFFIÊ DELLON

Não há como nos excluirmos de toda essa tentativa genocida do governo venezuelano de tentar extinguir do seu território todos aqueles que pensam diferente da ditadura castro-chavista. Tudo teve início com a participação efetiva dos estudantes que, de forma democrática, criticavam a política econômica do presidente Nicolás Maduro e exigiam a libertação dos universitários detidos nos dias anteriores do 12 de fevereiro em protestos no interior do país. Com o apoio de políticos da oposição, as manifestações ganharam proporções que nem o finado Hugo Chávez teria a percepção de achar que isso poderia ocorrer em seu regime.

Graves problemas econômicos, escassez de alimentos, precariedade dos serviços públicos e uma incontestável vocação autoritária causam indignação e revolta desses que estão nas ruas diariamente pedindo a renúncia do ditador Maduro, com uma censura digna dos defensores do regime e controle do que é veiculado nas TVs, jornais, rádios e, claro, redes sociais. A confirmação da morte de alguns manifestantes foi o estopim para a disputa aumentar, tendo o presidente afirmado que seria a tentativa de um “golpe de estado”, e que na sua forma “democrática” de gestão iria mandar prender todo aquele que pensasse diferente do seu regime, que tem atrasado de forma virulenta a Venezuela.

Numa crise de loucura, o presidente boliviano Evo Morales, um dos que apoiam Maduro, chegou a afirmar que o “imperialismo norte-americano” e a “oligarquia” venezuelana financiam os jovens que protestam na Venezuela para tentar acabar com a revolução do seu colega Nicolás Maduro. E aí chegamos ao cúmulo da barbárie, uma nota de apoio do PT, partido que governa o nosso poder federal, a toda essa zona que está acontecendo aqui ao lado. Nota de apoio a uma violência fora do controle, com o governo venezuelano prendendo e torturando inocentes sem julgamento algum, atingindo uma população que protesta legitimamente contra um governo fracassado, autoritário e antidemocrático.

O momento político da América do Sul não é dos melhores. Existe uma diferença gritante entre as manifestações dos estudantes venezuelanos que estão lutando por democracia e, por exemplo, os “black blocs” no Brasil, que se mobilizam em prol da desordem, da bagunça e da morte de legítimos inocentes. E olhem que as tentativas de censura da imprensa brasileira já foram colocadas em pauta várias vezes pelo atual governo.

Restam-nos, como brasileiros, lutarmos para que nenhum milímetro de democracia seja apagado ou retrocedido, algo que se dependesse do governo federal, leia-se PT, já teria se tornado “venezuelana” há bastante tempo. Para os tais defensores, elogiar a ditadura, em tese, é belíssimo; viver nela todos os dias já é outra história.

raffie coluna

 

Raffiê Dellon é presidente do PSDB de Caruaru. Escreve para o blog todas as segundas-feiras