OPINIÃO: Degradação socioambiental e a omissão do Executivo municipal

Por MARCELO RODRIGUES

A Constituição Federal, ao consagrar o ambiente ecologicamente equilibrado como direito de todos, bem de uso comum e essencial à sadia qualidade de vida, atribuiu a responsabilidade de sua preservação e defesa não apenas ao poder público, mas também à coletividade.

Para além disso, a Carta Magna fez do poder público o principal responsável pela garantia, a todos os brasileiros, do direito ao ambiente ecologicamente equilibrado. Para isso, ela determina sete incumbências ao poder público (e somente a ele) para assegurar a efetividade desse direito. Mas a mesma sociedade (coletividade), que deve ter assegurado o seu direito de viver num ambiente que lhe proporcione uma sadia qualidade de vida, também precisa utilizar os recursos ambientais para satisfazer suas necessidades básicas. E, como todos sabem, não é possível vida digna e saudável sem o atendimento dessas necessidades. Na vida prática, o processo de apropriação e uso dos recursos ambientais não acontece de forma tranquila.

Há interesses e conflitos (potenciais ou explícitos) entre atores sociais, que atuam de alguma forma sobre os meios físico-naturais e construídos, visando ao seu controle ou a sua defesa e proteção. Como principal responsável pela proteção ambiental no Brasil, cabe ao poder público, por meio de suas diferentes esferas, intervir neste processo, de modo a evitar que interesses de determinados atores sociais (madeireiros, empresários da construção civil, industriais, agricultores, moradores, etc.) provoquem alterações no meio ambiente que ponham em risco a qualidade de vida da população afetada.

Como mediador principal desse processo, o poder público é detentor de poderes e obrigações estabelecidas na legislação que lhe permitem promover desde o ordenamento e controle do uso dos recursos ambientais (incluindo a criação de incentivos fiscais na área ambiental) até a reparação e a prisão de indivíduos pelo dano ambiental. Neste sentido, o poder público estabelece padrões de qualidade ambiental; avalia impactos ambientais; licencia e revisa atividades efetivas e potencialmente poluidoras; disciplina a ocupação do território e o uso de recursos naturais; cria e gerencia áreas protegidas; obriga a recuperação do dano ambiental pelo agente causador; e promove o monitoramento, a fiscalização, a pesquisa, a educação ambiental e outras ações necessárias ao cumprimento da sua função mediadora, o que efetivamente não acontece em Caruaru, que hoje se tornou, a nível ambiental, a casa da mãe joana, expressão popular que significa sem organização.

E não é difícil aferir, basta olhar para o rio Ipojuca; o Monte do Bom Jesus; o Parque Professor João Vasconcelos Sobrinho (Serra dos Cavalos); a ausência de um plano de arborização, de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas; e daí por diante.

Por outro lado, observa-se em Caruaru que o poder de decidir e intervir para transformar o ambiente (ou mesmo para evitar sua transformação) físico-natural ou construído, e os benefícios e custos dele (do uso do poder) decorrentes, estão distribuídos social e geograficamente na sociedade de modo assimétrico. Por serem detentores de poder econômico ou de poderes outorgados pela sociedade, determinados atores sociais possuem, por meio de suas ações, capacidade variada de influenciar direta ou indiretamente na transformação (de modo positivo ou negativo) da qualidade ambiental, o que infelizmente nos leva a uma reflexão de que esses agentes pouco se importam com as futuras gerações.

É o caso dos empresários (poder do capital); dos políticos (poder de legislar); dos juízes (poder de condenar e absolver, etc.); dos membros do Ministério Público (o poder de investigar e acusar); dos dirigentes de órgãos ambientais (poder de embargar, licenciar, multar); dos jornalistas e professores (poder de influenciar na formação da opinião pública); das agências estatais de desenvolvimento (poder de financiamento, de criação de infraestrutura); e de outros atores sociais cujos atos podem ter grande repercussão na qualidade ambiental e, consequentemente, na qualidade de vida das populações, mas infelizmente essas responsabilidades são pouco produtivas e reais no que tange aos papéis que efetivamente deveriam representar no universo da Capital do Forró.

Na realidade, esses atores, ao tomarem suas decisões, nem sempre levam em conta os interesses e necessidades das diferentes camadas sociais direta ou indiretamente afetadas. As decisões tomadas podem representar benefícios para uns e prejuízos para outros, e sempre prevalecem a privatização dos lucros e a socialização dos prejuízos com todos os habitantes.

Um determinado empreendimento pode representar lucro para empresários, emprego para trabalhadores, conforto pessoal para moradores de certas áreas, votos para políticos, aumento de arrecadação para o governo, melhoria da qualidade de vida para parte da população e, ao mesmo tempo, implicar prejuízo para outros empresários, desemprego para outros trabalhadores, perda de propriedade, empobrecimento dos habitantes da região, ameaça à biodiversidade, erosão, poluição atmosférica e hídrica, desagregação social e outros problemas que caracterizam a degradação ambiental.

Por fim, o termo gestão ambiental não existe no atual governo municipal, que passados cinco anos quase nada avançou em defesa e nas garantias ambientais elencadas na Carta Magna, na Constituição do Estado, na Lei Orgânica e na ausência de marcos regulatórios em matéria de legislação ambiental em nosso município, o que é muito grave. Alie-se a isso a ausência da fiscalização do já sofrível Legislativo e de um Ministério Público que pouco vem fazendo no que pese suas atribuições para minimizar as questões críticas ambientais. É nesse quadro que surge uma pergunta: é omissão ou improbidade administrativa do Executivo, revelada nas condutas descritas ao longo desses cinco anos?

Faz-se mister afirmar que a prática da gestão ambiental não é neutra. O município, ao tomar determinada decisão no campo ambiental, está de fato definindo quem ficará, na sociedade, com os custos e quem ficará com os benefícios advindos da ação antrópica sobre o meio físico-natural ou construído. Daí a importância de se praticar uma gestão ambiental participativa. Somente assim é possível avaliar custos e benefícios de forma transparente.

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Marcelo Rodrigues foi secretário de Meio Ambiente da Cidade do Recife. É advogado e professor universitário. Escreve todas as sextas-feiras para o blog

OPINIÃO: Qual a melhor escola para seu filho?

Por MENELAU JÚNIOR

Existem vários parâmetros  a ser considerados na hora de escolher a escola do seu filho. Há quem pense naquela que fica mais perto de casa – e o comodismo fica acima da qualidade. Existem os que pensam no valor da mensalidade – e a “economia” fica acima da qualidade. Há quem procure saber o resultado da escola no Enem – e apenas uma nota fica acima de todo o resto.

A melhor escola não é a que fica mais perto de casa, nem a de menor valor (no caso das particulares), nem a que obteve a maior nota no Enem – esta, aliás, já está sendo “fabricada” por escolas que possuem redes e inscrevem os melhores alunos numa unidade específica, só para “inflar” a nota. Basta olhar os primeiros lugares no Brasil e ver que muitas escolas gigantescas aparecem com pouquíssimos alunos inscritos – o que lhes garante médias bem maiores, uma vez que os alunos são escolhidos “a dedo”.

Então, se o Enem já não pode ser “o” referencial, o que fazer?

Uma boa escola é aquela que tem professores renomados e experientes, que investe em tecnologia (mas não se deixa encantar por ela), que se preocupa com a formação do aluno (mas não coloca isso acima das competências exigidas no mundo do conhecimento), que tem um corpo técnico sempre atualizado e antenado às mudanças educacionais  e, obviamente, que tem comprovados resultados significativos no Enem e nos vestibulares.

Mas a escola ideal para seu filho deve, além das qualidades elencadas, ser aquela em que ele se sente bem. De nada adianta o rigor acadêmico se o educando se sente oprimido; de nada adiantam as aulas em excesso se o aluno não tem tempo para estudar em casa; de nada adianta a média obtida no Enem se ela é fruto de “seleções” nada honestas.

Instigar os jovens a ter curiosidade e a querer aprender já não é muito fácil. Num ambiente em que ele não se sinta querido, motivado e acolhido isso será mais difícil ainda. Aos pais, deixo um conselho: acompanhem de perto os estudos de seus filhos, tratem a escola como aliada – nunca como inimiga. E jamais – jamais! – deixem para a escola as obrigações que, como pais, competem a vocês. Quem tem o dever primeiro de ensinar lições de civilidade, respeito, honestidade – entre outras virtudes – são os pais. À escola cabe cobrá-los e reforçá-los.

Boas escolas são, antes de tudo, bons centros de estudo, reflexão e conhecimento. Boas escolas ensinam para dar autonomia, não para criar papagaios. Uma nota apenas como referencial não diz muita coisa sobre elas.

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Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

OPINIÃO: A Fama é grande

Por DANIEL FINIZOLA

Basta sair num sábado qualquer, à noite, passar por lá e ver que ela é merecida, apesar de irônica. A galera se espalha pelo meio da rua – que agora tem olhar panóptico – para registrar comportamentos e transgressões alheias.

Já presenciou grandes shows, amores roubados, perdidos, encontrados, poesias inflamadas, beijos que vão muito além das convenções culturais aceitas pela maioria da sociedade. É o lugar que desperta a inspiração dos noctívagos, artistas, boêmios, que, para enfrentar a opressão do dia, preferem purificar a alma com a noite e intoxicar o corpo com alguma dose.

O pioneiro é um senhor distinto, elegante, bem apreciado, sempre alegre e sorridente. No bar, sua mesa está sempre rodeada de grandes amigos que profetizam histórias regadas a aromas etílicos. Alguém pode até dizer que esse cidadão é um empresário do entretenimento, já que detém a propriedade da casa mais alegre e criativa da cidade, mas discordo. Para mim, Chico Oliveira é um mecenas às avessas, um agitador cultural. Ele e outros atores transformam a rua Silvino Macedo no maior polo cultural da cidade.

O poder dessa transformação foi tão grande que involuntariamente os frequentadores rebatizaram a rua. Hoje, o imaginário coletivo caruaruense conhece a Silvino Macedo como Rua da Má Fama. Apesar do nome, a grande maioria dos artistas que frequentam a rua produzem a arte que leva a boa fama artística de Caruaru mundo afora.

Além da pioneira Mercearia Ponta de Rua, bares como Circo 93, Bar da Ritinha e boates convivem com restaurantes “classe A”, como o Horácio’s Bistrô. A Má Fama tem de tudo! Ambulante com churrasquinho de gato, banda de rock agitando a noite, banda de pífano botando o povo para dançar, classe média comendo em restaurante caro, roda de poesia, voz e violão de todas as cores, credos e ritmos.

Essa rua deveria ser exemplo de tolerância, cosmopolitismo, convivência e respeito mútuo. Pena que nem sempre isso acontece. Recentemente alguns episódios violentos marcaram o lugar, afugentando muitos que eram frequentadores assíduo. Infelizmente, quando o poder público aparece por lá, o ar repressor prevalece frente às possibilidades de diálogo que poderiam organizar aquilo que já faz parte da cultura caruaruense.

A Má Fama merecia iluminação e decoração especial, uma grande atividade mensal com cinema, música, teatro, dança. O asfalto poderia receber o colorido de uma matinê dominical, cheia de crianças e oficinas recreativas. Os gestores culturais precisam entender que muitas vezes é mais fácil estimular a cultura de um lugar do que criar novos espaços que acabam não atendendo às demandas culturais da cidade.

Deixo uma sugestão para os estudantes de comunicação social. Um trabalho de conclusão de curso sobre a Má Fama seria emblemático. Quem sabe um documentário que mostre a trajetória da rua e a origem desse nome! Alguém aí sabe?

Até semana que vem.

daniel finizola

 

@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br

OPINIÃO: Novos municípios no Brasil?

Por RAFFIÊ DELLON

Nesta terça-feira (18), o Congresso votará o veto presidencial ao projeto de lei complementar que estabelece novas regras para a criação de municípios no Brasil. Dentro disso, foi implantada até entre os parlamentares uma frente de apoio aos movimentos emancipacionistas. O texto foi aprovado em outubro de 2013, com o apoio de 312 deputados e 53 senadores, e recebeu veto integral do Executivo. Como a análise do veto deverá ser feita em votação aberta, é pouco provável que o Congresso consiga rejeitá-lo, apesar do anúncio feito pelo líder da bancada do PMDB, deputado Eduardo Cunha (RJ), de que vai trabalhar pela rejeição.

Além da discussão crucial se é benéfica ou não a criação de 188 novos municípios, esse imbróglio deixa exposta a nada tímida “fominha” do PMDB por cargos, em que sua parte de parlamentares “não-ulissistas” vive choramingando nos quatros cantos do Congresso por falta de cargos e acomodações no atual aparelhamento quase que institucional que o governo do PT impregnou na Esplanada dos Ministérios, numa barganha escancarada que mostra de forma clara toda a jogatina política que quase tem quebrado o Estado.

De volta ao nosso tema de hoje, pelas novas regras, para dar início ao rito de fundação de novas cidades, é necessário o encaminhamento de um pedido para as Assembleias Legislativas com apoio de pelo menos 20% do eleitorado. O veto da atual presidente soa como uma verdadeira “autoculpa”. Depois de ter quebrado os municípios e prefeituras brasileiras, ela faz uma reflexão de que abrir essa torneira, que tem uma grande finalidade de interesses políticos eleitorais, seria, no mínimo, bastante precipitado para um país que não tem suas próprias rédeas de responsabilidade com o FPM. Sem contar que a criação dessas novas cidades representaria cerca de 30 mil novos cargos públicos no país.

Do ponto de vista prático e considerando o atual momento que estamos passando em nível federal, de que temos inúmeros municípios que estão com o seu limite de gastos totalmente ultrapassados, muitos não conseguem sequer pagar o décimo terceiro salário. Não é o melhor momento, hoje, para ser colocada em questão a probabilidade dessas novas circunscrições. Os riscos são maiores que os benefícios. A falta de autonomia fiscal torna a maioria das prefeituras dependentes de outros poderes, numa equação que transforma o próprio prefeito num legislador perante os governos estaduais e federal.

Outro ponto considerável é que os gastos para a implementação da máquina administrativa dessas novas prefeituras poderiam chegar a R$ 9 bilhões mensais vindos dos cofres públicos, um impacto altíssimo, tendo como base o número de prefeitos, vice-prefeitos, servidores do Legislativo e Executivo e vereadores com as novas Câmaras. Além de tudo isso, levando em conta o médio prazo, o aumento no número de municípios acabaria obrigando o governo federal a ampliar a carga tributária para tentar cobrir as perdas das cidades que forem desmembradas.

Num contexto geral, a criação de novos municípios, em tempos que o PT suga e depena o que é público, seria uma tragédia anunciada que beneficiaria alguns já pré-eleitos prefeitos e vereadores.

raffie coluna

 

Raffiê Dellon é presidente do PSDB de Caruaru. Escreve para o blog todas as segundas-feiras

OPINIÃO: Os resíduos sólidos e a ineficiência da prefeitura

Por MARCELO RODRIGUES

Nos últimos anos, o rio Ipojuca e toda Caruaru vêm sofrendo com a falta de competência da gestão municipal no enfrentamento às questões relativas aos resíduos sólidos e a fazer valer a Lei de Uso e Ocupação do Solo, bem como a Política Nacional de Resíduos Sólidos (lei federal n° 12.305/2010), pois se constata que as calçadas e até as ruas viraram depósito de resto de construção ou de reformas.

Como não bastasse, o nosso único rio sofre com as invasões de suas margens com resíduos da construção civil, conforme reiteradas matérias veiculadas em jornal da cidade e nos blogs, com provas materiais de que é a própria prefeitura quem despeja nas margens do Ipojuca. Além disso, faz-se necessário frisar a ausência do Ministério Público em fiscalizar e exigir o cumprimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos.

O Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) baixou a resolução n° 448, em 19 de janeiro de 2012, alterando definições e critérios da resolução n° 307, de 5 de julho de 2002, com relação ao gerenciamento dos resíduos da construção civil em território nacional. O conselho adaptou a resolução 307 à Política Nacional de Resíduos Sólidos, vinculando o Plano de Gerenciamento dos Resíduos ao licenciamento ambiental da atividade geradora e instituindo prazo para que as prefeituras elaborassem e implementassem planos de gestão de resíduos de construção civil.

Segundo o artigo 11 da resolução 307, alterada pela resolução 448, ficou “estipulado o prazo máximo de doze meses, a partir da publicação”, para que os municípios e o DF elaborem seus planos municipais de gestão de resíduos de construção civil, os quais “deveriam ter sido implementados em até seis meses após a sua publicação”. Com efeito, o prazo de implementação venceu em junho de 2013, sem que Caruaru elaborasse seu plano. Pelo menos é o que se depreende das práticas reiteradas.

A situação de Caruaru em relação à geração de resíduos sólidos, em especial dos resíduos de construção civil, é extremamente grave, mormente se verificarmos as sanções estabelecidas para descumprimento desses prazos, constantes da lei federal n° 12.305/2010.

De fato, reza o artigo 51 da lei 12.305/2010 que o descumprimento aos preceitos estabelecidos pela legislação sobre resíduos (lei e regulamento) sujeitarão os infratores à Lei de Crimes Ambientais. Já o prefeito pode responder por improbidade administrativa na hipótese de não proceder no sentido de dar seguimento à elaboração do Plano Municipal de Resíduos Sólidos.

Os planos não devem ser elaborados apenas para os resíduos sólidos urbanos. Também devem contemplar os resíduos sólidos procedentes de serviços de saúde, industriais, agrossilvopastoris, de portos, aeroportos, postos de fronteira, construção civil e mineração.

Empreendimentos sujeitos ao licenciamento ambiental, como obras de saneamento, transporte, projetos habitacionais, loteamentos urbanos, estradas e vias expressas, ficam sob o risco de sofrer impasses burocráticos junto às agências ambientais, devido à ausência de planos de gestão municipais, pois são obrigados a apresentar um plano de gerenciamento de seus resíduos, constando classificação, segregação, beneficiamento, transporte e destinatário final. A integração de planos com o licenciamento ambiental é mandatória e está inserida no parágrafo 2º do art. 8º da resolução 307, modificada pela resolução 448.

A subversão de valores normativos ocorre na completa ignorância por parte dos geradores, transportadores e prefeitura que já não atendem ao disposto na norma federal e permitem o manejo de qualquer tipo de solo sem identificação de sua origem, qualidade ambiental e técnica operacional, e na alteração da qualidade paisagística e ambiental de nossa cidade, comprometendo o direito das pessoas a uma sadia qualidade de vida.

Não só o aspecto administrativo da falta de controle está em jogo. O próprio espírito da legislação de política urbana e o desenvolvimento da função social da cidade ficam afetados, especialmente porque o resíduo da construção civil, disposto em locais inadequados (margem do rio Ipojuca, calçadas, ruas, avenidas, canteiros, etc.), contribui para a degradação da qualidade ambiental.

Volta, portanto, o alerta. É preciso que o assunto seja, acima de tudo, enquadrado pela iniciativa do governo municipal, obrigado a apresentar marco legal específico para a gestão dos resíduos não só da construção civil em seu território, marco este que, uma vez estabelecido, trará a atividade para a esfera de jurisdição das resoluções 307/2002 e 448/2012, conferindo segurança jurídica às atividades e restabelecendo a confiabilidade que se espera na implementação da Lei de Política Nacional de Resíduos Sólidos em toda Caruaru.

marcelo rodrigues


Marcelo Rodrigues foi secretário de Meio Ambiente da Cidade do Recife. É advogado e professor universitário. Escreve todas as sextas-feiras para o blog

OPINIÃO: Raquel e o ‘marginalzinho’

Por MENELAU JÚNIOR

A jornalista Raquel Sheherazade esteve, mais uma vez, no meio de uma polêmica. No “Jornal do SBT” de 4 de fevereiro, Raquel comentou o caso de um “marginalzinho” de 16 anos que foi preso pela população e amarrado nu a um poste.

Nas redes sociais, não se fala em outra coisa. Muita gente apoiando a polêmica opinião de Raquel, e muita gente condenando-a sob a alegação de que ela defendeu a “justiça com as próprias mãos”, ou seja, fez apologia ao crime.

É preciso olhar com cautela o texto da jornalista. Ela disse que “num país que ostenta incríveis 26 assassinatos a cada 100 mil habitantes, arquiva mais de 80% de inquéritos de homicídio e sofre de violência endêmica, a atitude dos ‘vingadores’ é até compreensível”.

“Compreensível” não é, em nenhuma acepção, “aceitável”; antes, significa “aquilo que pode ser explicado”. Em artigo publicado no dia 11 na Folha de São Paulo, a própria Raquel explicou isso. Os apressadinhos também nem observaram que a própria Raquel chamou os cidadãos que amarraram o bandido de “vingadores”, ou seja, ela reconhece que o que foi feito foi uma espécie de vingança. “Vingança” não é algo bom, mas pode ser explicada, certo? Se um pai, por exemplo, mata um homem porque este estuprou e matou sua filha, o assassinato não é aceitável – e é crime, óbvio – , mas é “explicável”. E Raquel explica a atitude da população: ela estaria cansada de ver a impunidade (80% dos homicídios nunca são esclarecidos) e revoltada com um “Estado omisso”, uma “polícia desmoralizada”, uma “Justiça falha”.

Raquel ainda classifica a atitude da população como “legítima defesa coletiva de uma sociedade sem Estado contra um estado de violência sem limite”. E, com um riso irônico, critica os defensores dos direitos humanos propondo uma campanha: “Façam um favor ao Brasil. Adote um bandido!” A ironia, claro, revoltou os “defensores dos direitos humanos”. Curiosamente, a morte de um cinegrafista da Band não gerou a mesma comoção quanto o “marginalzinho” amarrado ao poste…

A questão é a seguinte: Raquel Sheherazade disse o que a maioria dos brasileiros pensa e acha feio falar. Raquel Sheherazade disse que, se estamos partindo para a ‘justiça com as próprias mãos”, isso é reflexo da inércia do Estado, que não consegue pôr um freio na violência desembestada. Raquel Sheherazade disse que muitos defendem com unhas, dentes e ideologias os direitos dos bandidos, mas se calam diante dos casos de pais de família mortos, mulheres estupradas e crianças violentadas.

Raquel Sheherazade não é inocente, assim como também não somos. Entretanto, não deixemos que nossas ideologias nos impeçam de discutir o que realmente interessa: POR QUE, CADA VEZ MAIS, AS PESSOAS ESTÃO PARTINDO PARA A VINGANÇA COLETIVA? O que a violência dos cidadãos constantemente violados quer dizer ao Estado brasileiro, que assiste a um homicídio a cada 15 minutos?

Repito: desviar a atenção e crucificar Raquel é muito fácil – e até “politicamente correto”. Mas o que está em discussão não é isso. É saber POR QUE, CADA VEZ MAIS, AS PESSOAS ESTÃO PARTINDO PARA A VINGANÇA COLETIVA…

O vídeo pode ser visto aqui.

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Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

OPINIÃO: O ‘Som na Rural’

Por DANIEL FINIZOLA

Semana passada, um fato chamou atenção dos que curtem as manifestações culturais no Estado. De repente, uma rural velha, usada como palco e equipamento cultural, às margens do Capibaribe, no Recife, virou notícia em vários lugares desse imenso universo virtual. Alegação: a velha rural que serve de cenário e mote para o programa “Som na Rural” estava em cima da calçada da deserta rua da Aurora, descumprindo o que está posto no Código de Trânsito. Os guardas mandaram uma multa e acabaram com a festa.

Bem, em primeiro lugar, aquela velha rural Willys é muito mais que um simples carro. Ela é nada mais, nada menos que um dos maiores equipamentos culturais que Pernambuco tem hoje. É fruto da atitude e criatividade dos produtores Roger de Renor e Nilton Pereira, os quais levaram som e alegria para um lugar especial e lindo do Recife. Em segundo lugar, é preciso bom senso. Entendo que ninguém quis descumprir a lei, nem o direito de ir e vir dos transeuntes, nem mesmo o sossego de alguém, já que a tal rural está muito longe de ser um minitrio elétrico.

Parece-me que esse tipo de geopolítica urbana dos negócios do entretenimento sempre beneficiou os grupos e produtores que rezam na cartilha da indústria cultural, tipo aquelas festas com cordão de isolamento, onde alguns podem pagar pela fantasia e pela falsa sensação de segurança. Geralmente, a carestia se resolve com um crédito básico dissolvido em 12 prestações que transformam o espaço público em um espaço privado.

Na segunda-feira (10), foi realizada uma reunião entre os produtores do “Som na Rural” e os representantes da Prefeitura do Recife, tendo por objetivo resolver a questão. Também foram apontados problemas de ordem burocrática relacionados ao alvará de funcionamento como mais um dos motivos que provocou a suspensão do evento. Mas parece que tudo foi resolvido e próxima sexta-feira (14) o “Som na Rural” estará em plena atividade na rua da Aurora.

Já em Caruaru, não encontramos muitas propostas que aproveitem melhor nossos equipamentos culturais para comunicar, produzir e expandir nossa produção artística. Aos poucos, vêm sendo articuladas entre poder público e sociedade civil ações de construção de políticas culturais que tornem vivas e dinâmicas as manifestações e expressões da cidade. Esperamos que isso cresça, solidificando uma cultura de colaboração e participação na elaboração de ações culturais.

O “Som na Rural” é um bom exemplo de intervenção que estimula e mostra a veia criativa da cidade.

E que tal o “Som na Rural” em Caruaru?

daniel finizola

 

@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br

OPINIÃO: Mais médicos, menos Cuba

Por RAFFIÊ DELLON

Vários estudiosos, respaldados por pesquisas inteligentemente bem elaboradas, constataram que o grande câncer da medicina pública no Brasil não é a falta de hospitais, mas sim a carência de médicos e, principalmente, de estrutura física para esses profissionais executarem suas teorias e práticas que levam anos de estudos minuciosos e que necessitam de muito foco no aprendizado, pois é a vida humana que está em jogo. Quem acompanha as últimas notícias sobre o governo federal também já está cansado de saber do namoro que este país tem por Cuba. É algo que nem Afrodite, deusa do amor, da beleza e da sexualidade na mitologia grega, conseguiria explicar em terras tupiniquins.

Nos portos, está mais do que claro que o governo do PT, sem explicação lógica alguma, colocou mais dinheiro na estrutura portuária de Cuba do que a nossa brasileira, que vale frisar: está muito longe de ser um modelo eficiente. Segundo o portal Contas Abertas, nos últimos três anos, por meio de empréstimo do BNDES, o Brasil teve como participação anual média o valor de US$ 227,4 milhões para construção do Porto de Mariel, em Cuba. Só em termos comparativos, no Brasil, o total de investimentos em portos em 2013 foi de US$ 15,5 milhões, levando em consideração que é preciso ser investido no país US$ 18,7 bilhões.

Você acha o valor absurdo? E se eu contasse que todos os dados acima transcorrem em segredo de Justiça? Pois é. Além de sucatear o sistema portuário brasileiro, existe um receio no namoro Brasil/Cuba de que os verdadeiros donos de todo esse dinheiro – leia-se população brasileira – fiquem sabendo sobre como os valores são empregados na ilha dos irmãos Castro. Já na temática da saúde, área que deve ser prioritária para qualquer gestor público, a relação conjugal não é diferente.

Cuba + PT + Dólares = Financiamento ilegal de campanha. É uma equação que, caso venha a ser confirmada, não será nenhuma novidade para os olhos dos mais experientes em negociatas políticas. Para termos ideia, a vinda dos médicos cubanos ao Brasil vai representar uma turbinada no caixa financeiro do governo da ilha de pelo menos R$ 713 milhões por ano, o que significa 77,01% do repasse que o nosso país investe para trazer os profissionais. É lamentável que grande parte do salário vá direto para Cuba, num modelo “neoescravista” que surpreende qualquer pessoa de bom senso humano.

Não que eu queira ser maldoso, ou algo do tipo, ou até achar que o PT seria capaz disso… Longe de mim! Mas é bastante plausível a atenção que o ministro do STF, Gilmar Mendes, citou na última semana sobre a necessidade de o Ministério Público investigar as supostas doações de dinheiro feitas para o pagamento de multas impostas aos petistas condenados no julgamento democrático do mensalão, uma vez que não há qualquer controle sobre as transferências dos “militantes”, que já ultrapassam R$ 1,7 milhão. Eu, francamente, não quero acreditar que, por trás disso tudo, exista uma “castrisma lavanderia companheira limitada”.

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Raffiê Dellon é presidente do PSDB de Caruaru. Escreve para o blog todas as segundas-feiras

OPINIÃO: Não vai ter Copa?

Por MENELAU JÚNIOR

Já se espalha pela internet e pelas ruas do Brasil um movimento que promete impedir a realização de alguns jogos da Copa do Mundo. Intitulado de “Não vai ter Copa”, o movimento conta principalmente com a participação de estudantes do ensino médio e de universidades públicas. Ah, e com os “black blocs”, claro.

Semana passada, o site Congresso em Foco divulgou que mais de 80% dos gastos com a Copa estão saindo de onde qualquer cidadão não alienado pelo petismo sabia: dos cofres públicos. E já tem até analista político – devidamente financiado pelo petismo – dizendo que a quebradeira promovida contra a Copa pelos manifestantes é obra do PSDB e de Eduardo.

A verdade é que movimentos como o “Não vai ter Copa” não ajudam em nada. Há muitos brasileiros injuriados – com razão – com os gastos por causa do Mundial. Mas ir às ruas, promover rolezinhos, queimar ônibus, depredar bancos e incitar “movimentos sociais” não ajuda em nada. Não é mais a hora de reclamar da Copa.

O Brasil teve sete anos para se preparar. E os mesmos descerebrados que agora quebram tudo para que não haja Copa foram às ruas comemorar quando Lula moveu céus e terra para que o Brasil trouxesse a Copa. Sim, senhores, Lula quis o circo no lugar de educação, hospitais, infraestrutura, transporte público. Lula quis o circo e, como palhaços, comemoramos. Agora não é mais a hora de quebrar tudo. Aceitemos a Copa e permitamos que todos se divirtam no circo comprado pelo Lula.

“A gente não ataca a pessoa, o trabalhador, o manifestante. Se é para quebrar alguma coisa, é a propriedade do Estado que não nos representa, ou só representa uma parcela pequena da população e oprime a maior parte. A gente quebra um banco, que não nos representa também”, disse um “ativista” do “Não vai ter Copa”.

Em 2016, teremos as Olimpíadas. A dois anos do evento, não temos nada pronto – muito pelo contrário, tudo está atrasado. É mais um legado que o senhor Luiz Inácio deixou para o país. Mas promover baderna, quebradeira e vandalismo para protestar é apenas violência pela violência. Curiosamente, são os mesmos defensores do lulismo que agora criticam a polícia quando esta precisa ser enérgica para impedir os “militontos” de quebrarem tudo pela frente. Se há sete anos comemoramos o circo; agora, é hora de sentar no picadeiro e assistir ao show.

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Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

OPINIÃO: Som extremo

Por DANIEL FINIZOLA

Lá no interior, onde a paisagem agreste toma o horizonte, é comum surgirem aqueles garotos que gostam de um tipo de música que a grande maioria das pessoas faz cara feia ao ouvir. Na adolescência deixam o cabelo crescer, seu guarda-roupa é tomado um ar dark, cheio de camisas negras com os nomes das bandas que tomam o seu headfone. Adquirindo a idade, sua pele já passa a ser marcada com as tintas que transparecem muito mais que uma imagem, mas o seu estilo de vida.

Aos poucos, “esse malucos” – assim chamados pelos ditos “normais” – vão se encontrado na cidade, trocando informações e discos. Quando o talento musical aflora, não tarda a aparecer aquela banda de vocal rouco, gutural (expressão que vem do latim “guttur” e significa garganta). A voz agressiva, comum nas bandas thrash metal, geralmente provoca aquele questionamento: isso é arte?

Lógico que sim! É uma expressão, fruto de uma subjetividade individual ou coletiva, que usualmente rema contra todo o preconceito e conceito que se construiu do que é arte. É importante entender que a arte não tem a obrigação de ser bela. No geral, o belo de hoje é uma construção discursiva fruto da arte clássica que criou padrões e modelos de beleza reproduzidos até hoje pelo mundo contemporâneo. Se mostrássemos o quadro “Guernica”, de Picasso, ao cidadão no meio da rua e pedíssemos sua opinião sobre a beleza dele, é provável que muitos dissessem “que coisa feia!”, já que ele não segue as linhas confortáveis do clássico. Mas aquela “feiura” tem muito a nos dizer.

Tendo por objetivo quebrar o gelo sobre o que é belo e feio no mundo das artes, venho falar neste espaço sobre uma das maiores bandas de thrash dessa cidade, a Psych Acid. O grupo foi fundado em junho de 1990 pelo baterista Nato Vila Nova e pelo guitarrista Wladimir Morais. Já passaram por esse projeto várias figuras carimbadas do rock caruaruense. Entre elas, podemos citar Mago Gildo, Edu Slap, Marcos Dedinho, Mário, Rutênio e Nadnelson. Hoje a banda segue com Nato nos vocais e bateria, Bruno Amorim e Anderson Diniz nas guitarras e Fábio Santos no baixo.

A banda acabou de gravar o EP “Disturbance Without”, produzido pelo guitarrista Henrique Aragão, que vem se destacando e inovado nos sons da cena musical caruaruense. Com letras que questionam as guerras e a ganância do homem, a banda volta, depois de uma longa pausa nas atividades (1997 a 2009), com força total na cena local, já tendo tocado em várias cidades da região.

Com um trabalho independente, o grupo não tardou a entender a importância da internet para divulgação do trabalho. Segundo Nato, as redes sociais facilitaram o contato com fãs, outras bandas e produtores, fazendo o trabalho circular por todo o Brasil e exterior com mais facilidade.

Confira o som da Psych Acid no link a seguir: https://soundcloud.com/laemcasa/faixa-02.

Até semana que vem!

daniel finizola

 

@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br