Críticas são o que não faltam no Curral de Gado

Pedro Augusto

Quem dera que os problemas de infraestrutura estivessem limitados apenas ao Parque 18 de Maio, no centro de Caruaru. Outro complexo bastante importante para a economia da cidade também parece estar sofrendo do mesmo mal já há um bom tempo. Quem pensou no Curral de Gado, nas imediações da Vila do Aeroporto, acertou em cheio. Segundo denúncias de comerciantes e compradores que frequentam o local, atualmente dificuldades são o que não faltam por lá em pleno início de 2016. Em visita ao espaço na manhã da última terça-feira (8), a reportagem VANGUARDA esteve registrando os questionamentos da população, o que, de acordo com o vendedor Lenivaldo Rodrigues, daria para ser relatado em longas horas.

“Poderia passar o dia todo aqui denunciando os problemas do local, porém hoje o que vem mais me incomodando tem se referido ao embarcador de gado. Quando chove por lá, o espaço vira um verdadeiro lamaçal, o que acaba prejudicando a venda do animal, porque nenhum comprador quer adquiri-lo sujo. Até porque eles estão comprando gado ou porco? Cheguei a recomendar que a prefeitura colocasse aterro, mas os funcionários disseram-me que se estivesse preocupado teria eu mesmo de bancar. Engraçado é que para entrarmos na Feira de Gado – realizada no espaço – temos de pagar R$ 5 por cabeça de boi, ou seja, arrecadação é o que não falta, mas investimento que é bom, nada!”.

Frequentador assíduo do curral, haja vista que trabalha como marchante, José Arnaldo preferiu ultrapassar em suas críticas à esfera dos problemas estruturais. “Basta dar uma volta por aqui para observar que dificuldade é o que não falta em termos de infraestrutura. Mas o que está mais me chamando à atenção atualmente tem correspondido à cobrança indevida de taxas para a utilização dos currais. Já estamos cansados de presenciar vários vendedores de fora reclamando que não têm tido chance de colocar os seus gados nestes espaços, porque os mesmos já se encontram alugados por comerciantes daqui. Agora lhe pergunto: os currais não são públicos e os vendedores de fora já não vêm pagando R$ 5 por cabeça para entrarem na feira? Isso é uma vergonha, rapaz!”

Nos últimos dias, a Socapa (Sociedade Caruaruense de Proteção aos Animais e ao Meio Ambiente) esteve visitando o local, onde teria flagrado diversos cavalos em estado total de abandono. A situação foi bastante criticada pelo presidente da entidade, Alberto Curvelo. “Não preciso dizer muita coisa. Basta o leitor prestar a atenção para imagem que foi captada para tirar as suas próprias conclusões. No curral 29, onde os animais se encontravam, havia lama, água suja e nenhuma comida à disposição. Para matar a fome deles, tivemos de cortar alguns galhos de algaroba, demonstrando, assim, o total descaso da Gerência de Proteção aos Animais em relação aos cavalos que são apreendidos nas ruas da cidade.”

Durante a visita à feira, a reportagem VANGUARDA recebeu a informação de que os animais citados teriam sido encaminhados para um local próximo ao Parque Milanny, também em Caruaru. O comprador, que falou sobre o destino dos animais e preferiu não ter o nome revelado, engrossou as críticas dos demais. “Esses problemas do curral não são de hoje, mas parece que, de uns tempos para cá, a situação tem piorando. Ontem mesmo – segunda-feira (7) – uma burra morreu, porque não tinha nada para comer.”

A suposta situação alarmante do Curral de Gado chegou até a Câmara Municipal de Vereadores. Em seu discurso na tribuna, na sessão da terça-feira (8), o vereador Gilberto de Dora ‘desceu a lenha’ contra a prefeitura. “Estivemos neste início de semana por lá e observamos o desprezo total por parte do poder público municipal. Além de não estar oferecendo boas condições para os vendedores, compradores e para os próprios animais, a prefeitura simplesmente terceirizou a utilização de currais, o que é um verdadeiro absurdo. Outra questão grave tem se referido aos carros que vêm transportando os animais sem nenhuma refrigeração. Tudo isso é ilegal e precisa acabar. Estamos fazendo todas essas denúncias para que a prefeitura tome alguma providência.”

Respostas

Com o objetivo de obter respostas em relação a todas estas críticas, VANGUARDA entrou em contato com gestor do Curral de Gado, Geraldo Clemente, que se manifestou apenas através de nota enviada pela Prefeitura de Caruaru. Confira na íntegra o texto: “No que diz respeito aos questionamentos feitos na reportagem sobre o Curral de Gado, a Secretaria de Gestão e Serviços Públicos esclarece que os animais recolhidos na cidade por abandono ou maus-tratos são recolhidos pela diretoria do espaço e, após cinco dias, que é o prazo garantido por lei, são encaminhados para doação, isso caso os donos não os procurem. Em Caruaru, os bichos estão sendo doados ao Movimento Sem Terra. Atualmente, o local dispõe de 81 currais, todos em terra, que é a estrutura adequada para tal prática, dos quais cada um é alugado mensalmente por R$ 15. A diretoria desconhece, portanto, a prática de aluguéis clandestinos. Aproveita ainda a oportunidade para explicar que uma média de 120 pessoas comercializam na Feira de Gado toda semana. Quem não conta com curral é orientado a comercializar em um ponto disponibilizado pela própria diretoria, e esse espaço não gera custo para o mesmo. Por fim, no que diz respeito ao transporte, a secretaria informa que o Curral do Gado trabalha com a comercialização de animais vivos, não tendo sentido a denúncia de transporte de carne em carros sem refrigeração.”