Em prisão domiciliar, Delcídio pede licença médica do Senado

Do Congresso em Foco

O senador Delcídio do Amaral (PT-MS) protocolou na Secretaria Geral da Mesa um pedido de licença médica que lhe dará direito a 15 dias de afastamento da Casa sem desconto de remuneração. Investigado pela Operação Lava Jato, Delcídio é alvo de processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética e, devido à situação, deve perder o posto de presidente da Comissão de Assuntos Econômicos. O petista foi libertado na sexta-feira (19) depois de quase três meses de prisão em regime fechado.
Nos últimos dias, o noticiário sobre o senador deu vez a especulações sobre como seria sua volta à atividade legislativa. Em uma das notícias sobre a situação do petista, a Folha de S.Paulo publicou, por exemplo, que Delcídio ameaçou os pares que votassem pela cassação de seu mandato. “Se me cassarem, levo metade do Senado comigo”, registra o jornal paulista, acrescentando que a declaração foi feita por Delcídio a interlocutores quando ele ainda estava preso.

Diante do quadro, parlamentares mais próximos do petista, que tem trânsito em setores da oposição, aconselharam-no a não retornar ao Senado no calor dos acontecimentos. Segundo as normas internas da Casa, a licença poderia transcorrer por 120 dias, mas Delcídio preferiu se afastar do mandato por apenas duas semanas. A ordem é se afastar de polêmicas em seu retorno, principalmente diante de parlamentares que não hesitariam em criticá-lo publicamente em plenário, por exemplo, que tem transmissão de TV e rádio ao vivo durante boa parte do dia.

Nos quase três meses em que esteve preso, Delcídio gozou de licença especial que lhe assegurou o recebimento de verbas parlamentares e demais benefícios inerentes ao cargo. Nos termos do Regimento Interno do Senado, tal licença é concedida nas hipóteses em que o parlamentar é alvo de procedimento investigatório no Supremo Tribunal Federal (STF), preservando-se o mandato. Segundo a determinação de soltura expedida pelo ministro Teori Zavascki, responsável pelas investigações da Lava Jato no STF, Delcídio poderá trabalhar normalmente no Congresso, mas deve retornar para sua residência à noite e lá permanecer em feriados e fins de semana.

Depois da notícia sobre a suposta ameaça a parlamentares publicada na Folha, o parlamentar se apressou em negar que jamais ameaçaria seus pares. Ele procurou alguns senadores para falar sobre o assunto e se encontrou brevemente com o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), e com o senador Paulo Rocha (PT-PA). Ele ainda avalia se discursará em plenário e estuda a possibilidade de enviar uma carta ao presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), negando a versão do jornal paulista – a ideia é que Renan leia a mensagem em plenário, para que todos os senadores pudessem conhecer as razões do petista publicamente.

Líder do governo no Senado recebeu propina na Lava Jato, afirma delator

Delcídio Amaral (PT-MS) disse nas redes sociais considerar “um absurdo” menção ao seu nome (Foto: ABr)

Do Congresso em Foco

Um dos principais delatores da Operação Lava Jato, o empresário Fernando Baiano mencionou o nome do líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), entre os parlamentares que receberam propina do esquema de corrupção descoberto pela Polícia Federal na Petrobras. Segundo depoimento de Baiano, apontado como operador do PMDB nas fraudes em contratos com a estatal, o petista recebeu R$ 1 milhão ou R$ 1,5 milhão quando da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, pela Petrobras. As informações são da TV Globo.

Delcídio constava da lista inicial de suspeitos apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF), em 6 de março, pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Mas, naquele mesmo mês, o STF disse não haver razões para dar sequência à investigação contra o senador, citado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, outro delator do esquema de corrupção. Em um de seus depoimentos, Costa disse ter ouvido falar que o parlamentar recebeu propina quando chefiou a diretoria de Gás e Energia da petrolífera, entre 2000 e 2002.

Agora, com a nova citação, agora por Baiano, delegados e procuradores da força-tarefa da Lava Jato passam a investigá-lo. Segundo o delator, os valores serviram para bancar os custos de campanha de Delcídio ao governo do Mato Grosso do Sul em 2006. É a primeira vez em que o senador é formalmente citado como beneficiário de propina no âmbito da Lava Jato.

“O nome de Delcídio também é citado em outro contrato da Petrobras, de navios-sonda. Baiano revelou um acerto envolvendo Delcídio, o presidente do Senado, Renan Calheiros [PMDB-AL], o senador Jader Barbalho [PMDB-PA] e o ex-ministro [de Minas e Energia, entre 2005 e 2007] Silas Rondeau, os três do PMDB”, diz trecho da reportagem. “E US$ 4 milhões desse contrato seriam desviados para pagá-los. As negociações avançaram e o valor final foi de US$ 6 milhões”, acrescenta a matéria.

Em seu perfil no Facebook (leia íntegra abaixo), Delcídio disse considerar “um absurdo” a menção ao seu nome. Disse ainda ter conhecido Baiano na década de 1990, e que desde então não voltou a ter contato com ele. Ao Jornal Nacional, Jader disse não conhecer o delator, e que sequer era senador à época da denúncia. Por sua vez, o presidente do Senado, também investigado na Lava Jato, voltou a negar as acusações, como tem feito desde a inclusão de seu nome na lista de Janot, em março. A reportagem não conseguiu contato com o ex-ministro.

Confira a íntegra da nota de Delcídio Amaral:

“Em respeito à verdade, transcrevo a íntegra da minha resposta que o Jornal Nacional simplesmente ignorou na matéria onde [sic] sou citado:

1 – Além de absurdo, é muito estranho que meu nome tenha sido novamente citado nessa investigação, colocado numa época em que eu era considerado ‘persona non grata’ por todos que estavam sendo investigados pela CPMI dos Correios, cuja presidência exerci exatamente nesse período (2005/2006).

2 – Fui apresentado ao senhor Fernando Soares, na década de 90 pelo empresário Gregório Marin Preciado, e, depois dessa época, nunca mais o vi nem tive nenhum tipo de contato com o mesmo.

3 – Lembro que a própria Procuradoria Geral da República solicitou ao STF (e foi atendida) o arquivamento de procedimentos onde meu nome foi citado no âmbito dessas investigações.

Delcídio Amaral
Senador (PT-MS)”