Dilma compara lógica de estupro à da exclusão social

A presidente afastada Dilma Rousseff afirmou, que a “lógica do estupro” está ligada diretamente à ideia de exclusão social. Citando dois exemplos do Rio de Janeiro, e ignorando os três recentes casos de estupro coletivo no Piauí, Dilma citou que vê com preocupação a violência contra as mulheres. As declarações foram dadas em audiência pública realizada em João Pessoa (PB).

“Queria falar sobre o que chamamos de combinação perversa da lógica do estupro, aquela que diz que a responsável pelo estupro é a mulher. Essa lógica de violência, de intolerância, que age e que atinge proporções que aqui no Brasil nunca vimos. A lógica do estupro coletivo com aquela moça lá no Rio de Janeiro. Quantas moças anônimas têm sido vítimas dessa lógica do estupro? Essa lógica é muito grave”, comentou.

Para Dilma, essa ideia está ligada diretamente à exclusão social, e lembrou de outro caso do Rio, desta vez ligado a preconceito. “Essa lógica do estupro tem se combinado com a lógica da exclusão. E essa lógica da exclusão teve uma grande representação também, infelizmente, na nossa cidade maravilhosa, que foi com o ato simbólico de uma babá ser proibida de sentar ou ir ao banheiro em ao clube de elite do Rio de Janeiro.”

A presidente afastada se referiu a um caso relatado na coluna do jornalista Ancelmo Gois, no jornal “O Globo”, em que uma babá teve proibido o uso do banheiro no Country Club do Rio. Segundo a coluna, o clube confirmou que uso do banheiro é “exclusivo para sócias, que deixam lá seus pertences.”

No dia 2 de junho, no Rio, ela também havia mencionado os dois casos. “Essas duas coisas são faces de uma mesma moeda, que é a lógica do privilégio, de achar que alguém tem mais direito que o outro. É achar que o filho do pedreiro não pode ser doutor. Essa foi a lógica que levou a uma médica negra que teve oportunidade de por conta da lei de cotas, como ocorreu com o Fies [Fundo de Financiamento Estudantil], com o Prouni [Programa Universidade para Todos], a dizer: ‘a casa grande surta quando a senzala vira médico.’ Foi essa lógica que nós interrompemos e que vinha de séculos”, afirmou na Paraíba.

Marcha das Flores pede fim da cultura do estupro

Do Portal G1

Um grupo de mulheres de Brasília realizou na manhã deste domingo (29) a “Marcha das Flores”, em protesto contra a cultura do estupro. As participantes levaram flores até o Supremo Tribunal Federal (STF) e fizeram uma contagem regressiva de 30 até “nenhum”, em referência aos mais de 30 homens que estupraram uma adolescente de 16 anos na semana passada no Rio de Janeiro.

Houve um princípio de confusão quando uma das mulheres pulou a cerca tentando invadir o prédio. Os seguranças reagiram e os manifestantes derrubaram a grade.

A Polícia Militar chegou a jogar gás de pimenta para impedir a entrada. A situação se acalmou em instantes, com a intervenção dos próprios participantes.
O protesto era formado principalmente por mulheres, mas também participaram homens e crianças. O grupo se reuniu em frente ao Museu da República e caminhou até o prédio do STF. Os manifestantes depositaram flores na base da estátua da Justiça e pediram que os envolvidos no crime do Rio sejam punidos.

Segundo a Polícia Militar, 1,5 mil estiveram no ato. Por volta das 12h45, 150 pessoas estavam no local. A corporação informou que não houve nenhuma apreensão nem outra ocorrência.

Durante o ato, os participantes exibiram faixas com frases como “a culpa nunca é da vítima”, “estupro fere o corpo e mata a alma”, “queremos políticas públicas para as mulheres” e “30 contra todas”. Eles também pediram a saída do presidente em exercício, Michel Temer.

Vigília

Na noite de sexta (27), um grupo fez uma vigília para pedir mais respeito às mulheres, ao lado do Memorial JK. O ato ocorreu em repúdio ao caso envolvendo uma garota de 16 anos, estuprada por 33 homens no Rio de Janeiro, na última semana.

No gramado do Eixo Monumental, os manifestantes acenderam velas e exibiram cartazes com os dizeres “Eu luto pelo fim da cultura do estupro”.

Crime no Rio

A adolescente teria ido até a casa de um rapaz com quem se relacionava há três anos, no dia 21. Ela se lembra de estar a sós na casa dele e disse só se recordar de que acordou no domingo (22), em uma outra casa, na mesma comunidade, com 33 homens armados com fuzis e pistolas. Ela conta no depoimento, ao qual a “Veja” teve acesso, que estava dopada e nua.

A jovem afirmou que foi para casa de táxi, após o ocorrido. Ela admitiu que faz uso de drogas, mas disse que não utilizou nenhum entorpecente no sábado (21).

Na terça (24), ela descobriu que imagens suas, sem roupas e desacordada, circulavam na internet. A jovem contou ainda que voltou à comunidade para buscar o celular, que fora roubado.