Pesquisar: o verbo mais conjugado nas livrarias

15_01_2016_10_23_06

Pedro Augusto

Não tem como fugir. A compra dos materiais escolares no primeiro mês de cada ano é obrigatória para os pais que possuem filhos estudando. Mas o que fazer quando a inflação encontra-se alta e, consequentemente, há menos dinheiro nos bolsos? A resposta é: analisar ainda mais os preços. É o que muitos responsáveis vêm fazendo em suas “peregrinações” pelas livrarias de Caruaru.

Em meio à concorrência elevada na procura pelos produtos, há quem já esteja identificando variações consideráveis em relação aos valores praticados. Exemplo disso foi a dona de casa Maria Flávia Barbosa. Em visita aos estabelecimentos, na manhã da última terça-feira (12), ela comprovou que a melhor receita para driblar a crise é mesmo pesquisar.

“Antigamente não ligava muito para esse negócio de pesquisa. Escolhia a livraria que me desse na telha e fazia a compra dos materiais. Mas agora, com essa falta de dinheiro que todo mundo vem passando, inclusive eu, o jeito foi bater bastante perna. Desta forma, pude observar algumas diferenças até então despercebidas. Em relação, por exemplo, aos cadernos, encontrei o mesmo modelo com uma variação de preço de até R$ 5. Sem falar nas mochilas, nas resmas de papel e nos livros didáticos que também estão sendo comercializados com diferenças grandes. No fim, acabei ficando satisfeita com as compras, porém nunca mais vou deixar de pesquisar”, analisou.

Um pouco mais atenta em relação a Maria Flávia, a autônoma Auri Gonçalves vem pesquisando os preços dos materiais já há alguns anos. E nem poderia ser diferente, haja vista que ela possui três filhos com idade escolar. Em 2016, com os juros dos cartões de crédito em alta, o jeito foi fazer a compra dos produtos tudo à vista. “Para isso procurei poupar mais dinheiro no fim de ano, ou seja, cortei o que achava desnecessário. Como adotei a prática, acabei comprando tudo de uma vez só e, de quebra, ainda me livrei do cartão de crédito. Apesar dos materiais estarem mais caros em relação a 2015, deu para levar o que foi solicitado nas listas escolares”, observou.

Pai de primeira viagem, o vendedor Pablo Henrique até que se mostrou meio por fora nos corredores das livrarias, mas nem por isso deixou de dar a velha e a boa pesquisada. “Com essa falta de dinheiro, não tem como ser diferente. Em todos os setores do comércio, o mais recomendável agora é pesquisar, porque qualquer economia tem sido muito bem-vinda. Embora tenha comprado pela primeira vez os materiais para o meu filho, não abri mão de pesquisar. Encontrei diferenças, mas achei os preços até certo ponto atrativos para uma época difícil conforme estamos atravessando”, avaliou.

No âmbito nacional, de acordo com a Abfiae (Associação Brasileira dos Fabricantes e Importadores de Artigos Escolares), a estimativa é de que neste início de ano os preços dos materiais estejam pelo menos 10% mais caros em relação ao mesmo período do ano passado. Embora atualmente os valores locais se encontrem num patamar abaixo em comparação com a média do país, a dica principal é nunca deixar de pesquisar. Foi o que ressaltou o proprietário da livraria Dom Bosco, João Bosco. “Desta forma, o consumidor acaba adquirindo produtos de qualidade com preços mais acessíveis.”

Livrarias também sentem efeitos da crise

Por PEDRO AUGUSTO
Do Jornal VANGUARDA

A crise econômica não está poupando nenhuma época sazonal do comércio de Caruaru. Com influência direta na retração das vendas da Páscoa, Dia das Mães e do São João, esta semana ela acabou fazendo mais uma vítima. Quando se esperava incremento significativo na demanda por materiais escolares por conta do retorno às aulas da rede particular, o que se viu mesmo nas principais livrarias da cidade foi um baixo fluxo de clientes. Nem mesmo as tão cobiçadas promoções conseguiram impulsionar o desejo de consumo dos caruaruenses que, pela queda no volume de dinheiro nos bolsos, se limitaram a comprar o necessário na retomada do ano letivo – a partir desta segunda-feira (3).

Em alguns casos, a intenção ficou apenas na vontade. “Sempre em julho costumava renovar os materiais dos meus três filhos, mas como neste ano o dinheiro não está dando para chegar até o fim do mês, terei de comprá-los somente após o reinício das aulas. Estive visitando as livrarias do Centro para encontrar os melhores preços, mas, mesmo assim, não deu para levá-los logo de cara”, comentou o professor de educação física Charles Ferreira.

Quem teve mais sorte, como foi o caso do autônomo Antônio Carlos, circulou bastante pelas empresas do setor antes de se direcionar até as caixas registradoras. “Com essa inflação e juros altos, meu caro, não tem outro jeito a não ser pesquisar bastante e foi exatamente o que fiz. Depois de comparar os preços nas três principais livrarias da cidade, acabei encontrando o que queria. Mesmo assim, só trouxe o filho mais velho para as compras, afinal, menino pequeno em livraria é sinal de prejuízo. Só levei mesmo o básico”, disse.

Apesar de ficar tentada com as promoções, a dona de casa Vera Araújo também só adquiriu o necessário. “Embora nunca tenha exagerado nesta época, porque sempre reponho o que está faltando, em 2015 precisei diminuir a quantidade de materiais adquiridos.”

Os comentários desanimadores podem ser refletidos no volume de vendas de materiais registrado neste último mês de julho. Sem exceção, todas as livrarias consultadas pelo VANGUARDA apontaram queda nas vendas em relação ao mesmo período do ano passado. “Por conta dessa crise financeira, a situação se encontra difícil em todos os setores do comércio de Caruaru. Como não poderia ser diferente, as livrarias também estão sentindo esses efeitos negativos e, se fizéssemos um comparativo com as vendas de julho do ano passado, quando também aguardávamos pelo reinício das aulas, poderíamos afirmar que elas sofreram uma redução de 40% em 2015”, avaliou o proprietário da Estudantil, Ivan Galvão.

Assim como a concorrente, a Dom Bosco também contabilizou queda no faturamento. “Apesar de nessa época, tradicionalmente, a demanda ser inferior em relação à do início de ano, ela sempre costumava incrementar bastante os nossos faturamentos, haja vista que os pais e os próprios alunos compravam os chamados materiais de reposição, a exemplo dos cadernos, borrachas e canetas. Essa prática não acabou em 2015, mas ocorreu numa proporção bem menor em comparação aos anos anteriores”, analisou o diretor-executivo João Bosco.

“Baixamos os preços dos cadernos e mochilas, fizemos promoções, mas, mesmo assim, nosso movimento ficou muito aquém do esperado”, complementou o gerente de vendas da Livraria Cabral, Jaciel Ferreira.