Dilma: Cunha é “pecado original” do rito de impeachment

A presidente Dilma Rousseff, na tarde de hoje, classificou o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), como o “pecado original” de um processo de impeachment que ela tornou a dizer que é “golpe”.

“Vocês sabem perfeitamente que esse processo tem um pecado original, o presidente da Câmara”, disse, sem citar o nome de seu rival político, mas com a plateia do evento sobre direitos humanos em que participava gritando “Fora Cunha”.

“Por que ele?”, continuou, “vou explicar: o senhor presidente da Câmara queria fazer um jogo escuso com o governo. Votem para impedir que eu seja julgado no conselho de ética, tirem os votos que o governo tem lá (eram 3) e eu arquivo o processo de impeachment. Mas um governo que aceita isso é um governo que entra em processo de apodrecimento, por isso nos recusamos a essa negociação”, prosseguiu Dilma.

“Acontece que o senhor presidente da Câmara, que tem acusações e pedidos de processo no Supremo [Tribunal Federal], abriu o processo de impeachment. Eu não tenho contas no exterior, jamais usei dinheiro público para me beneficiar, não tenho acusação de corrupção. O que eles fizeram? Arranjaram uma acusação. Toda acusação arranjada é frágil. Acusam-me de ter práticas contábeis incorretas. Para me beneficiar? Não!”, disse a presidente, lembrando que as acusações que motivam seu processo de impeachment não são sobre enriquecimento ilícito, mas sobre má administração.

A petista voltou a refutar que as “pedaladas fiscais” são o suficiente para caracterizar o afastamento. “Sempre foi feito isso no Brasil, desde 1994, mas no meu mandato é crime. Por que é crime? Porque, já que eles não têm crime do qual me acusar, inventam que é crime aquilo que não é crime”.

“Quero dizer ainda que vou lutar até o fim para garantir que a democracia seja respeitada. Esse impeachment não é um processo de impeachment, é um processo de eleição indireta promovido por aqueles que não têm voto para se colocarem em uma disputa e receberem os votos do povo brasileiro, o único caminho correto para se chegar ao governo. Não vamos deixar que encurtem caminho ao poder com uma eleição indireta falsificada de impeachment”.

Nas conferências conjuntas dos direitos humanos, Dilma discursou para uma plateia que lhe apoiava. A presidente foi recebida aos gritos de “não vai ter golpe” e interagiu com o público, sorridente — em dado momento, se levantou do seu lugar para recolher uma flor atirada no palco.

A cerimônia marcou abertura da Conferência Nacional de Direitos Humanos e os encerramentos das Conferências Nacionais dos Direitos da Criança e do Adolescente, da Pessoa Idosa, de LGBT e da Pessoa com Deficiência

Nos bastidores, Dilma já admite afastamento

Segundo reportagem da Folha de S. Paulo publicada nesta quarta-feira (27), a presidente já admitiu a aliados que seu afastamento temporário, a partir da admissibilidade do processo de impeachment pela comissão especial do Senado, é inevitável. Dilma já estaria traçando agenda para impedir que o vice Michel Temer “se aproprie” de projetos e medidas de seu governo.

De acordo com assessor citado pela reportagem, a petista não quer deixar que Temer aplique medidas elaboradas em seu mandato, como as licitações de mais quatro aeroportos (Porto Alegre, Fortaleza, Florianópolis e Salvador) e concessões de portos.

Dilma também deverá instalar o CNPI (Conselho Nacional de Política Indigenista), anunciar a extensão do programa Mais Médicos e entregar novas unidades do Minha Casa, Minha Vida no Pará.

Ainda que considere seu afastamento inevitável, a presidente crê que pode ser inocentada ao fim do julgamento pelo Senado, podendo, assim, retomar seu mandato. Por hora, a estratégia defendida por aliados de Dilma, a qual ela estuda, pretende tirá-la do “imobilismo” e mostrar que ela ainda tem apoio social.

A petista considera inclusive ir a São Paulo para evento das centrais sindicais em celebração ao 1º de Maio, Dia do Trabalho.

Ministros do STF são alvo de organizações pró-impeachment, diz jornal

Do Congresso em Foco

Movimentos pró-impeachment agora têm novo alvo: ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) entraram na mira de movimentos que defendem o impeachment de Dilma. Algumas organizações pretendem fazer protesto em frente à corte no dia 16, quando os magistrados vão discutir regras para a tramitação do processo contra Dilma Rousseff. Uma das ideias é instalar um telão para exibir o vídeo em que o ministro Edson Fachin declara apoio à petista na campanha de 2014. As informações são da colunista Monica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo.

“Votamos Dilma”

Fachin suspendeu a tramitação do processo de impeachment na semana passada. Ele aparece no vídeo lendo manifesto de juristas a favor de Dilma no segundo turno eleitoral. Diz que o governo dela “jamais transigiu com autoritarismos” nem “tentou alterar casuisticamente a Constituição para buscar um novo mandato”. Pelas razões elencadas, finaliza, “votamos Dilma Rousseff para a Presidência da República”.

Ainda segundo Folha, o vídeo já tinha circulado, quando Fachin foi indicado por Dilma para o STF. Apesar disso, o nome dele foi aprovado com 52 votos no Senado. Ele teve forte apoio de parlamentares tucanos e também do PMDB.

O jornal afirma também que o deputado Paulo Pereira da Silva (SD), o Paulinho, trabalha na organização da manifestação. Ele é entusiasta do impeachment e fiel a Eduardo Cunha.

Veja a íntegra do texto da Folha

Legendas iniciam movimento pró-impeachment de Dilma

Algumas legendas de oposição ao governo Dilma Rousseff (PT) querem aproveitar os protestos contra o governo federal, no próximo final de semana, para iniciar uma mobilização pró-impeachment mais intensa no Congresso Nacional.

O movimento é liderado pelo Solidariedade, do deputado-federal Paulinho da Força (SP). Ontem (12), a legenda lançou de forma oficial uma “consulta popular” visando ao pedido de impeachment da presidente. Segundo Paulinho da Força, a legenda dará entrada ao pedido de afastamento tanto de Dilma quanto de seu vice, Michel Temer (PMDB), assim que conseguir obter 1 milhão de assinaturas em um abaixo-assinado virtual lançado durante esta semana.

Antes mesmo de lançar oficialmente essa “consulta popular”, o partido manteve contato com representantes de outras legendas como PPS, PSB, PV e PSDB. A princípio elas não integrarão a mobilização, mas, conforme o Congresso em Foco apurou, representantes destas siglas admitem que elas que podem conversar com o Solidariedade sobre um movimento pró-impeachment, dependendo do resultado das manifestações populares deste final de semana.

Para dar corpo aos protestos contra o governo, alguns movimentos sindicais ligados a Paulinho da Força já foram convocados. Entre os quais a Força Sindical, a Nova Central Sindical e a UGT. A Força Sindical, por exemplo, tem em torno de 1,7 mil sindicatos filiados, e a UGT, outros mil agremiações. A ideia dos caciques do Solidariedade é mostrar “a força das ruas” para conseguir atrair as outras legendas de oposição nesta mobilização pró-impeachment.

Reunião

Na próxima segunda-feira, representantes do Solidariedade, PPS, PSB, PSDB e até do PV devem se reunir para avaliar a mobilização das ruas. Dentro do PPS e do PSB, por exemplo, segundoCongresso em Foco apurou, o sentimento é de encorpar as mobilizações pró-impeachment. Mas somente se elas atraírem um grande número de pessoas em todo o Brasil.

O PSB já é mais propenso a participar desta mobilização a partir das próximas semanas. Alguns integrantes da legenda, como o ex-senador Beto Albuquerque (PSB-RS), por exemplo, enxergam que o PT perdeu legitimidade partidária nos últimos meses, principalmente após os desdobramentos dos escândalos de corrupção descobertos com as investigações da Operação Lava Jato. “O PT chegou ao fundo do poço”, disse Albuquerque a correligionários.

A princípio, a resistência de representantes de siglas como o PPS e o PSDB diz respeito à autenticidade as mobilizações contra o governo. O presidente do PPS, Roberto Freire, por exemplo, diz que a mobilização pró- impeachment não deve ser um movimento partidário. Mas se houver movimentos populares em favor da saída do governo Dilma, os partidos devem dar apoio à “voz das ruas”. Essas legendas também temem sofrer um desgaste negativo junto à sociedade ao levantar precocemente a bandeira do impeachment, antes de dosar o real nível de insatisfação popular com o governo federal.

Uma outra linha de frente visando intensificar a mobilização popular diz respeito à realização de uma série de seminários para “discutir a crise”. Os encontros, chamados “Diálogos sobre o Brasil”, ocorrerão em várias cidades, como Rio de Janeiro, no mês de março; Recife, em abril; Porto Alegre, também em abril; Cuiabá e Belém, em maio. A aposta dos partidos de oposição é que, em caso de fracasso das mobilizações das ruas, tais seminários ajudem a aglutinar pessoas favoráveis ao impeachment da presidenta.