Contrato mostra elo de ministro do TCU com fraude fiscal

Relator das contas de Dilma Rousseff, Nardes foi sócio da Planalto até maio de 2005 (Foto: Agência Brasil)

Da Folha de S.Paulo

Documentos apreendidos pela Operação Zelotes, obtidos pela Folha, revelam que o ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Augusto Nardes ainda era um dos donos da empresa Planalto Soluções quando ela fechou uma parceria com uma das principais firmas de consultoria envolvidas no escândalo do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais).

A firma que contratou a empresa de Nardes é a SGR Consultoria, pertencente ao ex-conselheiro do Carf José Ricardo da Silva, alvo da investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal sobre compra de decisões no órgão vinculado ao Ministério da Fazenda que analisa recursos contra multas.

Relator das contas da presidente Dilma Rousseff no TCU, Nardes foi sócio da Planalto até maio de 2005. Seu sobrinho Carlos Juliano ainda é sócio da empresa.

A SGR é investigada por atuar em prol da RBS, grupo de mídia do Rio Grande do Sul, que disputava no Carf a possibilidade de reduzir multas aplicadas pela Receita.

De acordo com os investigadores da Zelotes, em 2011 a RBS pagou R$ 11,9 milhões para a SGR, que repassou R$ 2,55 milhões à Planalto entre dezembro de 2011 e janeiro de 2012. Os pagamentos coincidem com a vitória da RBS em um processo no Carf.

Segundo os investigadores, e-mails enviados pela secretária da SGR ao dono da empresa que citam pagamentos a “Tio” indicam que Nardes foi remunerado com R$ 1,6 milhão e Carlos Juliano, com R$ 900 mil por terem feito a ponte entre a RBS e a SGR.

O ministro tem dito que desconhece os supostos depósitos. Ele argumenta que deixou a Planalto em 2005 e “não assinou nada com a RBS”. O grupo de mídia também nega relações com a Planalto e diz não ter autorizado que a SGR subcontratasse outras firmas.

Os documentos mostram que a RBS Administração e Cobrança contratou a SGR no dia 2 de março de 2005. Pela RBS, assinou o atual deputado federal e então vice-presidente jurídico e institucional da empresa, Afonso Motta (PDT-RS). Dias depois, em 21 de março, a SGR subcontratou a Planalto, que na época usava o nome de N&P Consultoria Empresarial, mas tem o mesmo número de CNPJ.

A saída de Nardes do quadro societário da Planalto só ocorreu em 2 de maio de 2005, 42 dias após o contrato com a SGR, segundo outro documento, enviado à Folha pela própria assessoria do ministro.

O subcontrato entre Planalto e SGR, intitulado de “parceria”, descreve que a empresa dos Nardes atuaria em favor da RBS, chamada de “contratante principal”, no papel de “administração de passivo fiscal e tributário”.

O Ministério Público Federal do DF pediu que a Justiça Federal enviasse ao Supremo Tribunal Federal os autos sobre Nardes e o deputado Motta, que têm foro privilegiado.

‘Não cometi nenhum ato ilícito quando fui prefeito’, diz Tony Gel

Réu em um processo que apura possíveis irregularidades – supostos pagamentos a fornecedores fantasmas – quando era prefeito de Caruaru em 2007, o deputado Tony Gel (PMDB) foi ouvido na manhã de hoje no Fórum Juiz Demóstenes Veras.

O processo, de número 000293230/2011, corre em segredo de Justiça e está sendo tocado pelo juiz-corregedor Flávio Augusto Pontes de Lima. Ontem, foram ouvidos os secretários municipais Carlos Veras (Fazenda) e André Alexei (Serviços Urbanos e presidente da Fundação de Cultura e Turismo), ambos na qualidade de testemunhas do Ministério Público. As ouvidas tiveram início às 9h30 e terminaram após a meia-noite.

Já nesta terça-feira (25), além de Tony Gel, foi ouvido o ex-secretário da Fazenda de sua gestão, Manoel Herculino. O conteúdo desses depoimentos, porém, não foi apresentado à imprensa e só deve ser divulgado quando o sigilo for quebrado.

Vários comerciantes (que prestaram serviços) e funcionários públicos foram ouvidos na qualidade de testemunhas. Antes de iniciar os depoimentos, o deputado Tony Gel conversou com o blog. Ele disse que sua presença nesse processo fazia parte da “ingratidão do serviço público” que atinge alguns agentes.

“Tenho certeza que não cometi nenhum ato ilícito quando fui prefeito. Todas as minhas contas foram aprovadas”, desabafou o peemedebista. Seu depoimento durou cerca de três horas.

NEGUINHO TEIXEIRA

O também ex-prefeito Neguinho Teixeira é outro réu no processo. Seu depoimento aconteceu ontem.

Rombo de R$ 80 milhões: secretário depõe no Fórum de Caruaru

O secretário da Fazenda de Caruaru, Carlos Veras, foi ouvido na tarde de hoje na qualidade de testemunha do Ministério Público em um processo que apura possíveis irregularidades na prefeitura em 2007, época em que os gestores eram Tony Gel (deixou o Palácio Jaime Nejaim para disputar um mandato de vereador) e Neguinho Teixeira, então presidente da Câmara e que assumiu os destinos do município por nove meses, entre março e dezembro daquele ano.

O processo, de número 0002932-30/2011, está sendo tocado pela Corregedoria Auxiliar da 3ª Entrância, do Tribunal de Justiça de Pernambuco, e tem como objetivo passar a limpo possíveis desvios de recursos no pagamento a empresas que prestavam serviço ao município. O hoje deputado Tony Gel (PMDB) tentou ser ouvido em Recife por ter foro privilegiado, mas o pedido foi indeferido e ele deverá comparecer ao Fórum de Caruaru na manhã desta terça-feira (25).

Quando assumiu a prefeitura das mãos de Neguinho Teixeira, o prefeito José Queiroz (PDT) apontou um rombo de R$ 80 milhões, boa parte ligada a débitos da previdência, além de alguns pagamentos sob suspeita. Na época, a administração municipal havia detectado que alguns prestadores de serviço estavam com documentação irregular, com algumas dessas empresas sendo consideradas fantasmas.

Em parte do processo consta ainda a suspeita de irregularidades em relação a uma empresa com CNPJ voltado para o setor de confecções que havia vendido material de escritório para a prefeitura. Em outro levantamento feito em 2008, foi descoberto também que uma outra companhia, que estava com o CNPJ cancelado, emitiu várias notas e recebeu dinheiro do município.

Hoje pela manhã, o juiz corregedor decretou segredo de Justiça e impediu que a imprensa pudesse acompanhar os depoimentos. Já está certo, porém, que próximo a ser ouvido será o ex-secretário da Fazenda e atual presidente da Fundação de Cultura e Turismo, André Alexei Lyra.