Do G1/PE
Os testes clínicos em humanos da vacina contra dengue elaborada pelo Instituto Butantan de São Paulo, teve início nesta quinta-feira (20) no Recife. Ao todo, serão 1,2 mil voluntários estudados durante os cinco anos da pesquisa. A capital pernambucana é a terceira cidade do Nordeste a realizar os testes. A intenção é elaborar uma vacina com dose única. O estudo acompanhará 1,2 mil voluntários com idades entre 2 e 59 anos. A pesquisa terá três etapas – 18 a 59, 7 a 17 e 2 a 6 anos – que durará dois anos. Os outros três anos servirão para analisar todos os dados e as variáveis colhidas durante as etapas.
Nesta quinta, três voluntários do primeiro grupo (18 a 59) receberão a vacina. Ela é desenvolvida pelo Instituto Butantan, unidade da Secretaria do Estado de São Paulo, em parceria com o Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, sigla em inglês). No Recife, os testes ocorrerão no Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, a Fiocruz, sob supervisão do médico e pesquisador Ernesto Torres de Azevedo. O start da vacinação no Recife ainda contou com a presença do governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do governador de Pernambuco, Paulo Câmara.
O diretor do Instituto Butantan, Jorge Kalil, acredita que não será necessário esperar os cinco anos para que a vacina seja distribuída para a população. “Não vamos precisar esperar os cinco anos. Nós vamos estudar nesses cinco anos para saber qual a memória imunológica dela, se será preciso revacinar daqui há alguns anos ou não. Se esse verão apresentar muita dengue e se nós conseguirmos, efetivamente, vacinar um número razoável de pessoas, é possível que lá para abril ou maio a gente sabe se a vacina funciona ou não. Pode ser que no próximo verão, sem ser esse, a gente já tenha a vacina”, pontuou.
Os ensaios clínicos já acontecem em Manaus (AM), Boa Vista (RR), Porto Velho (RO), Fortaleza (CE), Aracaju (SE), Porto Alegre (RS), Campo Grande (MS) e Cuiabá (MT), além de três centros de pesquisa em São Paulo. Os testes envolverão 17 mil voluntários das cinco regiões do Brasil. A vacina é produzida com vírus vivos. Na última etapa dos testes, 2/3 dos voluntários receberão a vacina e 1/3 placebo, uma substância com as mesmas características da vacina, mas sem o vírus.
Somente pessoas saudáveis participarão do estudo. Elas poderão ter tido dengue ou não. Por ser um bairro próximo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), na capital pernambucana, a amostragem ocorrerá apenas com os moradores do Engenho do Meio por conta da necessidade de um acompanhamento mensal. “Nós vamos visitar as casas e perguntar quem gostaria de participar da pesquisa. A meta é visitar 1.500 casas. Caso o morador aceite ser voluntário, será agendado um exame físico e uma entrevista com um médico”, explicou Ernesto.
O pesquisador acrescentou que os testes com a vacina foram satisfatórios até agora. “Até o momento se sabe que essa vacina induz uma resposta imunológica contra os quatro sorotipos de dengue. O perfil de segurança dela é bastante razoável. Os efeitos colaterais leves, que podem aparecer em algumas pessoas, são pequenas pintas vermelhas que ocorrem na pele, mas nada grave. Quando elas tiverem qualquer sintoma de febre, elas vão nos contactar e nós vamos verificar se é dengue ou não. Essa é a forma que tradicionalmente se quantifica a eficácia da vacina. Você acompanha no grupo todos os potenciais casos de dengue que tenham ocorrido”, acrescentou Ernesto.
O governador Geraldo Alckmin se mostrou confiante de que a vacina será comercializada após os testes. “Nós estamos na última fase para pedir o registro da Anvisa e produzi-la em escala industrial. A fábrica da vacina já está quase pronta no Instituto Butantan, em São Paulo. Deve ficar pronta em dezembro deste ano. O mundo não tem nenhuma vacina contra os quatro tipos da dengue. Ela será a primeira no mundo e 40% do mundo tem essa arbovirose. Quanto mais rápido viabilizarmos as vacinas, mais rápido a gente terá uma resposta”, ponderou o tucano.