Maurício Assuero, economista e professor
Ao longo do ano alguns eventos possuem a característica de alavancar as vendas no comércio. Falamos, por exemplo, de datas como carnaval, Semana Santa, São João, Natal e Ano Novo. Permeados por estas grandes concentrações, vem o Dia das Mães, o Dia dos Namorados, o Dia dos Pais e o Dia das Crianças. Historicamente há uma elevação de vendas de produtos associados aos eventos, no entanto, em 2015 temos uma realidade diferente daquela de anos anteriores. O carnaval, por exemplo, que se apoia quase sempre na indústria de bebidas, foi o primeiro alerta de que alguma coisa não iria “cair” bem. De fato, como se sabe a venda de bebidas ficou alguns pontos percentuais a baixo do que era esperado.
Na Semana Santa há um tradicional fluxo de turistas para o Agreste pernambucano por conta do Teatro de Nova Jerusalém. Já há alguns anos que a produção convida atores da Rede Globo para os papéis principais e isso, além da História do Cristo, tem atraído turistas, tem mantido o fluxo em patamares anteriores. Mas se formos olhar o que está acontecendo com os produtos da Páscoa, a gente vai perceber que estes estão formando estoques. Os ovos de Páscoa, por exemplo, estão encalhando a cada ano (este ano, por exemplo, lojas tradicionais venderam 20% a menos do que no ano passado).
Há duas conotações aqui: a primeira é que os ovos de Páscoa estão sendo vistos como um produto caro e, facilmente, substituível. Comprar um ovo significa levar X gramas de chocolates, e só isso, enquanto uma caixa de chocolate é uma alternativa bem mais barata. Um caixa de chocolate custa, em média, R$ 8,00, enquanto um ovo de Páscoa sai, no mínimo, por R$ 20,00. A segunda questão, está associada a crise econômica que afeta emprego, renda e mercado cambial. Com o dólar alto, manter determinadas tradições é uma prerrogativa de algumas poucas pessoas (famílias). Adicionalmente, o quilo do bacalhau aumentou, aproximadamente, 35% em relação ao ano passado.
Assim, vem agora o reverso da medalha: promoções! No caso dos ovos você vai encontrar oferta com 50% do valor e ainda dividido em dez parcelas no cartão de crédito. Não se surpreenda se encontrar isso, mas pense o seguinte: se na semana passada um ovo de Páscoa estava sendo vendido a R$ 40,00 e agora você pode comprar por R$ 20,00, você acredita que há perda para o vendedor? É mais do que normal acreditar que os lojistas dispõem de um “termômetro natural” para sentir a temperatura das vendas e deve-se esperar que eles compraram por preços e condições que lhes permitiam uma defesa prévia dessa queda de vendas.
O fato é que 2015 tem se mostrado mais cruel do que foi pintado e, lamentavelmente, não vimos, ainda uma maneira de voltar a crescer. Devemos nos preparar o Dia das Mães, mas até lá (e olhe que falta pouco) a economia vai se deteriorar um pouco mais. O problema é que nós temos uma alavanca, mas o governo retirou nosso ponto de apoio.