Unidades locais passam a vacinar meninos contra o HPV

Pedro Augusto

Uma estratégia significante no combate aos cânceres de pênis, garganta e ânus passou a ser aplicada nesta semana em Caruaru e no restante do território nacional. Meninos na faixa etária de 12 a 13 anos já podem ser vacinados contra o HPV pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nos postos de vacinação de todo o país. Até o ano passado, esta imunização era feita apenas em meninas.

O Brasil é o primeiro país da América do Sul e o sétimo do mundo a oferecer a vacina contra o HPV para garotos em programas nacionais de imunizações. A faixa etária será ampliada, gradativamente, até 2020, quando serão incluídos os meninos com nove até os 13 anos.
De acordo com a coordenadora do Programa de Imunização de Caruaru, Juliani Santana, as Unidades Básicas de Saúde instaladas tanto na zona rural como na zona urbana do município já se encontram com as vacinas necessárias para as imunizações. “Elas estão disponíveis no sistema de rotina, ou seja, vão ser oferecidas durante o ano inteiro. Ao todo, Caruaru dispõe de 60 unidades do tipo distribuídas nas duas zonas, então, basta o interessado optar pela mais próxima de sua residência e se submeter à vacinação. São duas doses, sendo a última aplicada após seis meses da primeira. O procedimento leva poucos segundos”, informou Juliani.

Ela ainda destacou a importância do público alvo garantir a imunização contra o HPV. “Na medida em que esses jovens de 12 e 13 anos passam a ser vacinados, temos a possibilidade de quebrar o ciclo de transmissão diminuindo, consequentemente, o contágio pelo Papilomavírus Humano. O detalhe é que não é de hoje que milhares de homens vêm se contaminando com esse vírus e, por falta de conhecimento, têm propagado o mesmo para também milhares de mulheres. Quando são contaminadas, essas mulheres acabam tendo o seu risco de contrair o câncer de colo de útero, aumentado em dez vezes. Ou seja, é um risco muito grande.”

Como a medida é nova, a Secretaria Municipal de Saúde irá reforçar a sua divulgação para o público alvo. “Além de contarmos com a atuação de 68 equipes de saúde da família, oferecemos nove centros de saúde, bem como ainda possuímos mais de 500 agentes comunitários de saúde. Todo este montante já está sendo empregado para repassar as informações necessárias, reforçando também a importância desses jovens se submeterem à vacinação. Em paralelo, com certeza, novamente deveremos contar com a divulgação maciça dos órgãos de comunicação”, acrescentou Juliani Santana. As dosagens estão disponíveis nas unidades locais, de segunda-feira a sexta-feira, no período das 8h até as 16h30.

Mãe de um garoto de 13 anos, a dona de casa Severina Silva, que esteve vacinando a sua filha na manhã da última quarta-feira (4), na UBS Ana Rodrigues, no Bairro São Francisco, se mostrou propensa a fortalecer a saúde de seu filho o mais rápido possível. “Essa medida é nova, não estava sabendo, mas vou trazer logo o meu menino para receber as dosagens. Com saúde não se pode brincar, ainda mais quando está se começando a vida”, comentou.

De acordo com o Ministério da Saúde, a expectativa é de imunizar mais de 3,6 milhões meninos neste ano em todo o país, além de 99,5 mil crianças e jovens de 9 a 26 anos vivendo com HIV, que também passarão a receber as doses.

Para isso, o Ministério adquiriu seis milhões de doses, ao custo de R$ 288,4 milhões. Não haverá custos extras para a pasta, já que no ano passado, com a redução de três para duas doses no esquema vacinal das meninas, o quantitativo previsto foi mantido, possibilitando a vacinação dos meninos. Assim, o MS continua com a mesma determinação, que é de fazer mais com os mesmos recursos financeiros. O titular da pasta, Ricardo Barros, também ressaltou a importância da vacinação nos meninos. “É muito importante a inclusão dessa faixa etária. Precisamos estimular esta faixa a participar das mobilizações para vacinação.”

O esquema vacinal para os meninos contra HPV é de duas doses, com seis meses de intervalo entre elas. Para os que vivem com HIV, a faixa etária é mais ampla (9 a 26 anos) e o esquema vacinal é de três doses (intervalo de 0, 2 e 6 meses). No caso dos portadores de HIV, é necessário apresentar prescrição médica. Atualmente, a vacina HPV para meninos é utilizada como estratégia de saúde pública em seis países (Estados Unidos, Austrália, Áustria, Israel, Porto Rico e Panamá). Portanto, o Brasil assegura a sétima posição e a vanguarda na América Latina. A vacina é totalmente segura e aprovada pelo Conselho Consultivo Global sobre Segurança de Vacinas da Organização Mundial de Saúde (OMS).

A decisão de ampliar a vacinação para o sexo masculino está de acordo com as recomendações das Sociedades Brasileiras de Pediatria, Imunologia, Obstetrícia e Ginecologia, além de DST/Aids e do mais importante órgão consultivo de imunização dos Estados Unidos (Advisory Committee on Imunization Practices). A estratégia tem como objetivo proteger contra os cânceres de pênis, garganta e ânus, doenças que estão diretamente relacionadas ao HPV. A definição da faixa etária para a vacinação visa proteger as crianças antes do início da vida sexual e, portanto, antes do contato com o vírus.

A vacina disponibilizada para os meninos é a quadrivalente, que já é oferecida desde 2014 pelo SUS para as meninas. Confere proteção contra quatro subtipos do vírus HPV (6, 11, 16 e 18), com 98% de eficácia para quem segue corretamente o esquema vacinal. Vale ressaltar que os cânceres de garganta e de boca são o sexto tipo de câncer no mundo, com 400 mil casos ao ano e 230 mil mortes. Além disso, mais de 90% dos casos de câncer anal são atribuíveis à infecção pelo HPV.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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