O mundo da tecnologia não tem muita lógica. O que é novo hoje passa a ser velho amanhã e o que parecia fadado ao desaparecimento resiste ao passar dos anos. Até pouco tempo atrás, os especialistas davam como certo o fim dos computadores pessoais. Eles seriam substituídos por tablets e smartphones, com pouca chance de sobrevivência. Se câmeras digitais, aparelhos de GPS e DVD players sucumbiram aos telefones inteligentes, por que seria diferente com os computadores?
Esse fim parecia irreversível, mas indicadores de 2018 contrariaram todas as previsões. Depois de 6 anos de queda, as vendas de computadores pessoais voltaram a crescer. A retomada foi confirmada por dois estudos diferentes que sinalizam o renovado interesse pelos equipamentos.
Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Gartner, os fabricantes enviaram às lojas de PCs, no segundo trimestre de 2018, 62,1 milhões de unidades, ou 1,4% acima do mesmo período do ano passado. O indicador não estava no azul desde 2012. Para a consultoria especializada em tecnologia International Data Corporation (IDC), os números são ligeiramente melhores: 62,3 milhões de computadores chegaram às lojas, ou 2,7% a mais do que no ciclo anterior.
O que explica o resultado? Para Eduardo Tancinsky, consultor especializado em marcas e tecnologia, os PCs estão longe de desaparecer. “Eles ainda são indispensáveis no mercado empresarial e provavelmente continuarão sendo por muito tempo”, diz o especialista. “Além disso, os dispositivos conseguiram acompanhar a evolução tecnológica e chegam aos consumidores com recursos sofisticados que atraem também o público jovem.”
Tancinsky, porém, ressalta que os números indicam mais estabilidade do que crescimento. “Parar de cair já é algo importante, mas considero um exagero falar em retomada. Pelo menos por enquanto.” No relatório de apresentação do estudo, Mikako Kitagawa, analista da Gartner, vai na mesma linha. “Os consumidores estão usando seus smartphones para tarefas cotidianas diárias, como checar as mídias sociais, calendários, bancos e compras, o que está reduzindo a necessidade de um PC”, disse Kitagawa.
Disputa
A disputa é acirrada entre os principais fabricantes. Lenovo e HP estão rigorosamente empatadas na liderança do ranking mundial de vendas: as duas empresas têm 21,9% de participação de mercado. A Dell aparece em terceiro lugar, com 16,8%, seguida pela Apple, com apenas 7,1%.
A Apple trata a sua divisão de computadores como um caso à parte. A gigante de Cupertino jamais conseguiu ameaçar os líderes do setor, mas cativou um público fiel — em especial os jovens — com produtos de design arrojado e sofisticação. Durante muito tempo, a estratégia funcionou, mas, a partir de 2010, as vendas começaram a cair. Agora a situação dos Macs piorou. Entre abril e maio de 2018, a empresa vendeu 3,72 milhões de computadores. Foi a primeira vez em cinco anos que o número ficou abaixo de 4 milhões para o período.
A queda coincidiu com o período em que a linha completa de notebooks estava desatualizada. Novas versões do MacBookPro foram lançadas apenas em julho, quando o balanço trimestral já havia sido finalizado. Não é só. Há pelo menos um ano, modelos como o MacBook de 12 polegadas e o iMac não têm atualização de hardware, o que é bastante comprometedor em um segmento que exige alto índice de renovação.
A questão é que a Apple não parece ligar para isso. Há muito tempo, a empresa deixou de ser apenas uma fabricante de produtos tecnológicos para se tornar uma vendedora de serviços (iTunes, iCloud, aplicativos, entre outros). Não à toa, apesar de os computadores da empresa sofrerem no mercado, ela se tornou na semana passada a primeira companhia privada a valer US$ 1 trilhão.
Os números do mercado
» 62,3 milhões de PCs enviados às lojas no segundo trimestre, 2,7% a mais do que no ciclo anterior.
» Lenovo e HP estão empatadas na liderança do setor, com 21,9% de participação de mercado.
» Entre abril e maio de 2018, a Apple vendeu 3,72 milhões de computadores.
» Foi a primeira vez em cinco anos que o número ficou abaixo de 4 milhões para o período.