Zona rural agoniza com maior seca da história

Seca (50)

Pedro Augusto

Os números não costumam mentir: Caruaru está vivenciando o maior período de seca de sua história. Desde que o IPA (Instituto Agronômico de Pernambuco) passou a contabilizar os registros de chuvas na Capital do Agreste, isso em meados 1961, o órgão ainda não havia computado tamanha insignificância quanto aos volumes de águas caídos do céu da cidade.

Para se ter ideia da situação alarmante em que se encontra o município, no primeiro trimestre deste ano os índices pluviométricos relacionados a Caruaru corresponderam a míseros 23,6 milímetros, ou seja, apenas 12% dos 198 milímetros aguardados para o cenário local. Os quantitativos são da APAC (Agência Pernambucana de Águas e Clima).

Se na zona urbana a escassez de água já vem tirando o sono de muita gente, o que falar dos populares da zona rural que dependem diretamente da queda das chuvas para garantir os seus sustentos familiares… Agricultor há quase três décadas e pecuarista há mais de duas, Ozano Severino de Figueiredo, de 40 anos, ficou encarregado de resumir a peleja dos plantadores do distrito de Serrote dos Bois, na zona rural de Caruaru. “Trabalho neste chão que o senhor está pisando desde menino e jamais tinha visto uma estiagem tão grande conforme estamos tendo de enfrentar. Para se ter ideia, não chove aqui na minha fazenda há pelo menos seis meses. Durante esse período, alguns pingos até que caíram, mas muito pouco.”

Se não bastasse a tristeza de não poder mais ver os verdes dos plantios do milho e do feijão, que outrora dominavam as paisagens de sua terra, atualmente Ozano está tendo de se desdobrar para garantir o prato de comida na mesa. “Como não tem chovido mais e não estamos mais conseguindo plantar, de uns meses para cá, tivemos de aumentar a venda de animais para garantirmos a alimentação dos que restaram no curral. O problema é que atualmente os compradores só vêm adquirindo os gados com valores muito abaixo de mercado e temos saído prejudicados. Mas enquanto tivermos forças, continuaremos comprando caminhões-pipa e ração animal para lutarmos pela nossa sobrevivência. É preciso ter fé”, acrescentou.

Nas épocas das “vacas gordas”, ou seja, quando os volumes de águas costumavam cair em Serrote dos Bois, Ozano Severino chegou a ter 80 cabeças de gado em seu curral. Mas hoje, com a escassez de chuvas cada vez mais forte, ele não tem contabilizado nem mais 40 circulando pelo seu território.

Tantas dificuldades encaradas e custos computados para ter de driblar a seca não vêm refletindo negativamente apenas nas vidas dos plantadores. Os consumidores finais de carne e leite, conforme destacou o agrônomo do IPA, Fábio César, também vem sentindo nos bolsos os efeitos da longa estiagem na Capital do Agreste.

“Os preços da carne e do leite só não estão mais elevados em Caruaru porque boa parte desses produtos tem vindo de fora. Mas se não fosse por isso, os clientes teriam de pagar ainda mais para consumi-los. Hoje, os valores dos legumes e das verduras também se encontram mais caros, porque os cultivadores das áreas brejeiras estão tendo, assim como os demais agricultores, dificuldades para colher os seus alimentos ante os efeitos da seca. Está ruim para todo mundo”, afirmou Fábio César.

Como todo nordestino que costuma fortalecer-se na fé, o agrônomo do IPA torce para que a chuva volte a cair com uma maior intensidade no município o mais rápido possível. “Mesmo que as previsões para os próximos trimestres não sejam lá tão animadoras, ou seja, deve chover abaixo das médias históricas, não podemos deixar de acreditar em dias melhores. Nós que fazemos parte do IPA continuamos a colocar em prática algumas ações que são oriundas dos governos Municipal, Estadual e Federal e que têm como principais objetivos auxiliar os agricultores na execução de suas produções. Dentre elas, poderíamos citar o Garantia Safra, o programa de Construção de Cisternas, o Sistema Simplificado de Abastecimento de Água, o programa de Aração de Terra e Distribuição de Sementes, dentre outras. Ou seja, temos feito o possível para tentar minimizar essa longa estiagem que tem afetado todos os plantadores da nossa zona rural”, finalizou o agrônomo.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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