OPINIÃO: Qual a melhor escola para seu filho?

Por MENELAU JÚNIOR

Existem vários parâmetros  a ser considerados na hora de escolher a escola do seu filho. Há quem pense naquela que fica mais perto de casa – e o comodismo fica acima da qualidade. Existem os que pensam no valor da mensalidade – e a “economia” fica acima da qualidade. Há quem procure saber o resultado da escola no Enem – e apenas uma nota fica acima de todo o resto.

A melhor escola não é a que fica mais perto de casa, nem a de menor valor (no caso das particulares), nem a que obteve a maior nota no Enem – esta, aliás, já está sendo “fabricada” por escolas que possuem redes e inscrevem os melhores alunos numa unidade específica, só para “inflar” a nota. Basta olhar os primeiros lugares no Brasil e ver que muitas escolas gigantescas aparecem com pouquíssimos alunos inscritos – o que lhes garante médias bem maiores, uma vez que os alunos são escolhidos “a dedo”.

Então, se o Enem já não pode ser “o” referencial, o que fazer?

Uma boa escola é aquela que tem professores renomados e experientes, que investe em tecnologia (mas não se deixa encantar por ela), que se preocupa com a formação do aluno (mas não coloca isso acima das competências exigidas no mundo do conhecimento), que tem um corpo técnico sempre atualizado e antenado às mudanças educacionais  e, obviamente, que tem comprovados resultados significativos no Enem e nos vestibulares.

Mas a escola ideal para seu filho deve, além das qualidades elencadas, ser aquela em que ele se sente bem. De nada adianta o rigor acadêmico se o educando se sente oprimido; de nada adiantam as aulas em excesso se o aluno não tem tempo para estudar em casa; de nada adianta a média obtida no Enem se ela é fruto de “seleções” nada honestas.

Instigar os jovens a ter curiosidade e a querer aprender já não é muito fácil. Num ambiente em que ele não se sinta querido, motivado e acolhido isso será mais difícil ainda. Aos pais, deixo um conselho: acompanhem de perto os estudos de seus filhos, tratem a escola como aliada – nunca como inimiga. E jamais – jamais! – deixem para a escola as obrigações que, como pais, competem a vocês. Quem tem o dever primeiro de ensinar lições de civilidade, respeito, honestidade – entre outras virtudes – são os pais. À escola cabe cobrá-los e reforçá-los.

Boas escolas são, antes de tudo, bons centros de estudo, reflexão e conhecimento. Boas escolas ensinam para dar autonomia, não para criar papagaios. Uma nota apenas como referencial não diz muita coisa sobre elas.

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Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

OPINIÃO: Raquel e o ‘marginalzinho’

Por MENELAU JÚNIOR

A jornalista Raquel Sheherazade esteve, mais uma vez, no meio de uma polêmica. No “Jornal do SBT” de 4 de fevereiro, Raquel comentou o caso de um “marginalzinho” de 16 anos que foi preso pela população e amarrado nu a um poste.

Nas redes sociais, não se fala em outra coisa. Muita gente apoiando a polêmica opinião de Raquel, e muita gente condenando-a sob a alegação de que ela defendeu a “justiça com as próprias mãos”, ou seja, fez apologia ao crime.

É preciso olhar com cautela o texto da jornalista. Ela disse que “num país que ostenta incríveis 26 assassinatos a cada 100 mil habitantes, arquiva mais de 80% de inquéritos de homicídio e sofre de violência endêmica, a atitude dos ‘vingadores’ é até compreensível”.

“Compreensível” não é, em nenhuma acepção, “aceitável”; antes, significa “aquilo que pode ser explicado”. Em artigo publicado no dia 11 na Folha de São Paulo, a própria Raquel explicou isso. Os apressadinhos também nem observaram que a própria Raquel chamou os cidadãos que amarraram o bandido de “vingadores”, ou seja, ela reconhece que o que foi feito foi uma espécie de vingança. “Vingança” não é algo bom, mas pode ser explicada, certo? Se um pai, por exemplo, mata um homem porque este estuprou e matou sua filha, o assassinato não é aceitável – e é crime, óbvio – , mas é “explicável”. E Raquel explica a atitude da população: ela estaria cansada de ver a impunidade (80% dos homicídios nunca são esclarecidos) e revoltada com um “Estado omisso”, uma “polícia desmoralizada”, uma “Justiça falha”.

Raquel ainda classifica a atitude da população como “legítima defesa coletiva de uma sociedade sem Estado contra um estado de violência sem limite”. E, com um riso irônico, critica os defensores dos direitos humanos propondo uma campanha: “Façam um favor ao Brasil. Adote um bandido!” A ironia, claro, revoltou os “defensores dos direitos humanos”. Curiosamente, a morte de um cinegrafista da Band não gerou a mesma comoção quanto o “marginalzinho” amarrado ao poste…

A questão é a seguinte: Raquel Sheherazade disse o que a maioria dos brasileiros pensa e acha feio falar. Raquel Sheherazade disse que, se estamos partindo para a ‘justiça com as próprias mãos”, isso é reflexo da inércia do Estado, que não consegue pôr um freio na violência desembestada. Raquel Sheherazade disse que muitos defendem com unhas, dentes e ideologias os direitos dos bandidos, mas se calam diante dos casos de pais de família mortos, mulheres estupradas e crianças violentadas.

Raquel Sheherazade não é inocente, assim como também não somos. Entretanto, não deixemos que nossas ideologias nos impeçam de discutir o que realmente interessa: POR QUE, CADA VEZ MAIS, AS PESSOAS ESTÃO PARTINDO PARA A VINGANÇA COLETIVA? O que a violência dos cidadãos constantemente violados quer dizer ao Estado brasileiro, que assiste a um homicídio a cada 15 minutos?

Repito: desviar a atenção e crucificar Raquel é muito fácil – e até “politicamente correto”. Mas o que está em discussão não é isso. É saber POR QUE, CADA VEZ MAIS, AS PESSOAS ESTÃO PARTINDO PARA A VINGANÇA COLETIVA…

O vídeo pode ser visto aqui.

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OPINIÃO: Não vai ter Copa?

Por MENELAU JÚNIOR

Já se espalha pela internet e pelas ruas do Brasil um movimento que promete impedir a realização de alguns jogos da Copa do Mundo. Intitulado de “Não vai ter Copa”, o movimento conta principalmente com a participação de estudantes do ensino médio e de universidades públicas. Ah, e com os “black blocs”, claro.

Semana passada, o site Congresso em Foco divulgou que mais de 80% dos gastos com a Copa estão saindo de onde qualquer cidadão não alienado pelo petismo sabia: dos cofres públicos. E já tem até analista político – devidamente financiado pelo petismo – dizendo que a quebradeira promovida contra a Copa pelos manifestantes é obra do PSDB e de Eduardo.

A verdade é que movimentos como o “Não vai ter Copa” não ajudam em nada. Há muitos brasileiros injuriados – com razão – com os gastos por causa do Mundial. Mas ir às ruas, promover rolezinhos, queimar ônibus, depredar bancos e incitar “movimentos sociais” não ajuda em nada. Não é mais a hora de reclamar da Copa.

O Brasil teve sete anos para se preparar. E os mesmos descerebrados que agora quebram tudo para que não haja Copa foram às ruas comemorar quando Lula moveu céus e terra para que o Brasil trouxesse a Copa. Sim, senhores, Lula quis o circo no lugar de educação, hospitais, infraestrutura, transporte público. Lula quis o circo e, como palhaços, comemoramos. Agora não é mais a hora de quebrar tudo. Aceitemos a Copa e permitamos que todos se divirtam no circo comprado pelo Lula.

“A gente não ataca a pessoa, o trabalhador, o manifestante. Se é para quebrar alguma coisa, é a propriedade do Estado que não nos representa, ou só representa uma parcela pequena da população e oprime a maior parte. A gente quebra um banco, que não nos representa também”, disse um “ativista” do “Não vai ter Copa”.

Em 2016, teremos as Olimpíadas. A dois anos do evento, não temos nada pronto – muito pelo contrário, tudo está atrasado. É mais um legado que o senhor Luiz Inácio deixou para o país. Mas promover baderna, quebradeira e vandalismo para protestar é apenas violência pela violência. Curiosamente, são os mesmos defensores do lulismo que agora criticam a polícia quando esta precisa ser enérgica para impedir os “militontos” de quebrarem tudo pela frente. Se há sete anos comemoramos o circo; agora, é hora de sentar no picadeiro e assistir ao show.

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Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

OPINIÃO: As sílabas subtônicas

Por MENELAU JÚNIOR

Por que “táxi” tem acento gráfico e “taxista” e “mototaxista” não? Por que acentuamos “café”, mas não o fazemos em “cafezinho”? A resposta tem a ver com o que chamamos de sílaba subtônica.

Nas aulas de acentuação gráfica, aprendemos que os acentos são usados em algumas palavras – sempre na sílaba tônica, aquela que é mais forte. O que muitas vezes não sabemos é que as palavras derivadas possuem uma sílaba subtônica – que é, na verdade, a tônica da palavra primitiva. Por exemplo: em “pastel”, temos a sílaba tônica “tel”; em “pastelzinho”, “tel” é a sílaba subtônica – uma vez que a tônica passa a ser “zi”.

Com “táxi” ocorre o mesmo. A palavra é acentuada por ser uma paroxítona terminada em “i”. Mas quando escrevemos “taxista”, a sílaba tônica passa a ser “xis” – enquanto “ta”, que antes era acentuada, passa a ser a sílaba subtônica. O mesmo ocorre com “mototaxista”, que tem duas sílabas subtônicas, “mo” e “ta”, mas apenas uma tônica: “xis”.

Com “café” e “cafezinho”, o processo é o mesmo. Em “café”, acentuamos a última sílaba porque a palavra é uma oxítona terminada em “e”, a exemplo de “José”, “jacaré”, “ipê”, “Josué” e tantas outras. Mas, ao escrevermos as derivadas “cafezinho” e “cafezal”, a sílaba “fe” passa a ser a subtônica e, portanto, não deve ser acentuada. Em “cafezinho”, a sílaba tônica é “zi”, e em cafezal é “zal”.

Conhecer as regras de acentuação é importante, uma vez que nossa língua possui várias palavras acentuadas. Os acentos, na verdade, marcam apenas aquelas palavras que possuem pronúncia diferente da maioria. Por que acentuamos uma “oxítona terminada em ‘e’”? Porque quase todas as palavras que terminam em “e” são paroxítonas: “parte”, “fase”, “elefante”, “presidente”, “gerente” e milhares de outras. As oxítonas, portanto, são minoria – por isso passam a ser acentuadas. O mesmo ocorre com as palavras terminadas em “i” – mas nesse caso quase todas são oxítonas: “jabuti”, “aqui”, “ali”, “cariri”. Para marcar a diferença, as paroxítonas terminadas em “i” recebem o acento. “Táxi” é um exemplo disso.

Um abraço a todos.

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OPINIÃO: Socioambiental

Por MENELAU JÚNIOR

Poucas coisas neste mundo são tão incômodas (para não dizer chatas) quanto o uso do hífen na língua portuguesa. Acertar a grafia de palavras hifenizadas é, para a maioria, tão difícil quanto encontrar um torcedor do Sport humilde e realista ou mesmo um “jovem rebelde” que não idolatre o assassino Che Guevara. Enfim, o hífen é uma pedra no sapato. Quando se usa o elemento “socio-“, são frequentes os desvios de grafia. No dia 6 de fevereiro, comemora-se o dia do Agente de Defesa Ambiental. Aproveitando, pois, a oportunidade, vamos esclarecer: deve-se escrever “socioambiental” ou “sócio-ambiental”?

O elemento de composição “socio-“ não precisa vir seguido de hífen quando se liga a um outro vocábulo – a não ser nos casos em que este comece com a letra “h”. Portanto, devemos escrever sem hífen: “socioambiental”, “sociocultural”, “sociobiologia”, “socioeconômico”, “socioeducativo”.

Já no caso da palavra “sócio-histórico”, o hífen deve ser empregado, uma vez que o segundo elemento começa com “h”. Não confunda com a palavra “sócio-gerente”, que é um substantivo composto. Nesse caso, a palavra “sócio” nada tem a ver com “sociedade”, como nos casos supracitados.

Também é bom observar a grafia de “social-democrata” (com hífen), que, segundo o dicionário Houaiss, é “doutrina revolucionária socialista e marxista que se difundiu especialmente na Alemanha, Rússia e países escandinavos a partir da segunda metade do século XIX, até as vésperas da revolução de outubro de 1917, na Rússia”.

Cuidar da grafia não faz mal a ninguém.

Até a próxima semana.

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OPINIÃO: ‘Decapitar’ ou ‘decaptar’?

Por MENELAU JÚNIOR

Esta semana, o Brasil ficou chocado com as imagens divulgadas de um presídio no Maranhão. Detentos caminham sobre poças de sangue e depois exibem corpos de alguns presos mortos. O que choca é o tipo de morte: DECAPITAÇÃO. Nas imagens, os cadáveres aparecem com a cabeça arrancada. Há cortes profundos, demonstrando que deve ter havido tortura antes dos crimes. Num dos momentos, um preso diz “mostra esse desgraçado” enquanto ergue a cabeça do rival.

Muita gente, ao se referir ao ato de separar a cabeça do corpo, escreve “decaptação”, com “p” apenas. A palavra correta é DECAPITADO (com “pi”), e não “decaptado”, como muitos escrevem – provavelmente por influência de “captar”, que não tem nada a ver com DECAPITAR. DECAPITAR é palavra formada pelo prefixo “de-” (que significa “afastar”) e do radical latino “capitia” (cabeça). Portanto, tem “PI”: “decapitação”, “decapitar”, “decapitado”.

Embora brutal, a DECAPITAÇÃO não é coisa de detentos cruéis apenas. Basta lembrar que João Batista teve esse fim nas histórias bíblicas e que a guilhotina DECAPITOU muita gente na França.

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OPINIÃO: Meus votos para 2014

Por MENELAU JÚNIOR

Já que esta é uma época de desejar um 2014 “maravilhoso” e “repleto de felicidades e realizações”, também tenho algo a desejar não apenas aos meus amigos do dia a dia, deste blog e das redes sociais, mas, de uma forma geral, a todos os brasileiros. Por isso, desejo que em 2014…

  • aprendamos a ser mais pacientes com aqueles que precisam de nós;
  • devolvamos o troco que nos passam a mais – mesmo que sejam apenas centavos;
  • deixemos de furar filas como se nada estivéssemos fazendo;
  • sejamos mais honestos nas provas do colégio, da faculdade e dos cursos de idiomas;
  • bebamos menos;
  • não sejamos irresponsáveis dirigindo depois de ter ingerido bebida alcoólica – mesmo que “apenas um copo de cerveja”;
  • consumamos menos e poupemos mais;
  • respeitemos mais nossos pais e mães;
  • não votemos pensando nos nossos interesses particulares, mas em nossas convicções sobre quem pode ser melhor para a sociedade;
  • sejamos mais frequentadores de livrarias do que de academias;
  • sejamos capazes de perdoar a quem nos ofendeu, o que não significa fazer de conta que não fomos ofendidos;
  • deixemos de usar o Facebook para nossas lamentações amorosas ou para nossas “indiretas” infantis;
  • sejamos capazes de parar para ouvir os mais velhos;
  • não compactuemos com a desonestidade, seja de quem for;
  • exijamos mais responsabilidade de nossos jovens, principalmente quando o assunto é estudo;
  • combatamos o uso de drogas a qualquer custo;
  • deixemos de usar o nome de Deus em vão ou em nome do dinheiro e dos milagres fabricados;
  • combatamos os maus políticos com as urnas, e não com a destruição dos patrimônios públicos e privados;
  • sejamos mais tolerantes dentro de casa, cuidando de cada palavra que sai de nossa boca;
  • saibamos que o mundo só muda quando nós mudamos.

É SÓ ISSO QUE DESEJO A TODOS VOCÊS EM 2014.

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OPINIÃO: Dez anos de empáfia

Por MENELAU JÚNIOR

livroAs férias estão aí. Uma boa oportunidade para ler e se informar um pouco. Recomendo esta semana o livro “Década perdida: Dez anos de PT no poder”, do historiador Marco Antonio Villa. Lançado no início do dezembro, a obra já estava esgotada antes mesmo de chegar às livrarias. Agora, já está na segunda edição.

Em suas quase trezentas páginas, Villa reconstrói, didaticamente, ano a ano, o festival de empáfias perpetrado – e engolido por muitos brasileiros – pela máquina petista. Impecável em seus dados, o historiador com mestrado em sociologia e doutorado em história revela como foi construído o conto de fadas em que se transformou a história do “operário que virou presidente”. Tudo está nas páginas do livro: a cooptação das centrais sindicais, os escândalos sucessivos e a defesa dos criminosos, a criação de cargos para garantir emprego aos militantes – e a consequente mesada aos cofres do partido. Villa mostra o apoio incondicional de Lula a Sarney e a Fernando Collor, bem como o apoio aos crimes cometidos pela ditadura cubana e ao programa atômico do Irã.

“Década perdida” é um livro imprescindível àqueles que não veem como normal o fato de um partido “sacar, corromper, infiltrar, aparelhar o Estado desde dentro e de forma que, progressivamente, não mais se distinga do partido – de jeito que, afinal, sirva ao partido, seja o partido”. Para o autor, o crescimento econômico brasileiro – bem inferior ao de outros países emergentes – foi muito mais fruto de condições internacionais favoráveis do que da competência petista de gerir o Estado.

Como promete o título, o livro esmiúça dez anos de PT no poder, de 1º de janeiro de 2003 a 31 de dezembro de 2012. Mostra como a imprensa – mesmo aqueles órgãos hoje demonizados pelo petismo – se encantou, no início do primeiro mandato de Lula, com a história do operário que, diga-se de passagem, trabalhou apenas 9 anos na função, uma vez que fez do sindicalismo sua “profissão”. Quando esta mesma imprensa começou a denunciar os descalabros do governo, recebeu a alcunha de PIG (Partido da Imprensa Golpista). Villa diz que, com dinheiro público, o PT trouxe para si vários jornalistas e financiou uma infinidade de blogs com a finalidade de dar cores ao conto de fadas vermelho e agredir adversários, vistos agora como “inimigos”.

Villa também não poupa críticas à oposição – inclusive a Fernando Henrique Cardoso, que foi contra o processo de impeachment quando cogitado na época do mensalão, em 2005. Para o autor, essa foi a maior falha na carreira de FHC. O PSDB, principal partido da oposição, é pintado por Villa como incompetente em seu papel de opositor, medroso, conivente com as falácias de Lula.

Enfim, uma obra que revela os bastidores de um projeto de poder que se valeu da certeza da impunidade, da miséria econômica e educacional de muitos brasileiros e do carisma de seu mais importante membro para dar certo. Como escreve o autor, “O Brasil de hoje é uma sociedade invertebrada. Amorfa, passiva, sem capacidade de reação. É uma República bufa, uma República petista”.

Até a próxima semana.

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OPINIÃO: Meu filho reprovou

Por MENELAU JÚNIOR

O réveillon de muitas famílias não será muito agradável. Nas últimas semanas de dezembro, as escolas costumam divulgar o resultado de suas avaliações finais. E quando o resultado do jovem é a reprovação, “a casa cai”. O que fazer?

Como professor, sei o quanto uma reprovação pode mudar o destino de um jovem. Para melhor ou para pior. E isso depende muito mais da família – especialmente dos pais. Se eles não souberem como lidar com a situação, o que poderia servir de reflexão e posterior crescimento pessoal para o adolescente pode transformar-se em mais um motivo para o descaso e a falta de limites.

Primeiramente, parece-me equivocado buscar culpados. Em especial os professores ou a escola. Hoje, muito mais que antigamente, as chances de um aluno ser reprovado são remotíssimas. Além de quatro provas bimestrais, ele tem recuperações paralelas e, não consegundo, ainda há uma prova final. Traduzindo: nove provas (noventa pontos) para conseguir 28 pontos – ou menos, dependendo do cálculo da prova final. Convenhamos: exige-se muito pouco.

Jogar a culpa exclusivamente no jovem também é muito fácil. Existem adolescentes que fazem tudo para não estudar – e nisso a internet e os amigos de farra são grandes companheiros. Compensadas algumas exceções – raríssimas, diga-se de passagem – em que os alunos têm realmente muita dificuldade de aprendizagem, a maioria que chega à situação da reprovação está ali por falta de estudo mesmo, de compromisso com o conhecimento. E os pais, no fundo, sabem disso. Mas em alguns casos se abstêm de tomar atitudes mais rígidas com medo de contrariar os filhos. É cruel admitir, mas alguns pais se tornaram reféns dos filhos.

São jovens que passam a madrugada “mexendo” no celular e dormem durante as aulas. Passam os fins de semana na farra, bebendo com amigos. São adolescentes que não aceitam a reprovação porque não são contrariados dentro de casa. Mimados e com todos os seus caprichos realizados, não conseguem compreender que a sociedade – e , portanto, a escola – reprova o descaso e a falta de compromisso.

Nessa hora difícil, apenas punir o adolescente também não é o caminho. A reprovação já é, para eles, uma punição. Talvez seja o momento de sentar, conversar, refletir sobre os passos errados dados durante o ano letivo. Aceitar transferência de responsabilidades não fará o jovem crescer como pessoa e como estudante. Ele precisa reconhecer que estudou pouco – ou que estudou muito apenas nos últimos dias de aula.

Pergunto aos pais: o que acontece quando um funcionário é faltoso, não cumpre suas responsabilidades, faz “corpo mole” durante todo o ano e decide trabalhar apenas no mês de dezembro? Fatalmente será demitido. Na escola, ocorre mais ou menos a mesma coisa. Quem deixa para estudar depois da terceira unidade deve saber o risco de sua negligência. Às vezes, com uma filinha do colega ou mesmo com a ajuda do próprio sistema, que sempre favorece os pouco estudiosos, dá para passar. Às vezes não. E quando “a casa cai”, os pais têm o dever de mostrar como se constrói um edifício de alicerce seguro. Culpar a escola ou os professores é isentar aqueles que tinham a obrigação de pôr os tijolos: os alunos, nossos filhos. Na hora do recomeço, uma conversa franca faz bem. Limitar as baladas e o uso da internet também.

Até a próxima semana.

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OPINIÃO: Chancela da mediocridade

Por MENELAU JÚNIOR

A pedagogia vigente em muitas escolas brasileiras é a chancela da mediocridade. Funciona assim: o aluno é muito fraco e não apresenta requisitos aceitáveis para ser aprovado. Mas, como suas notas melhoraram de 3,8 para 3,9 – um “avanço” de aproximadamente 3% –, ele deve receber crédito e seguir adiante. É essa a pedagogia adotada pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, ao comentar o vergonhoso resultado do Brasil no Pisa, uma prova aplicada em 65 países pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).

O resultado deste exame em sua versão de 2012 saiu há poucos dias. O Brasil está, entre os 65 países, em 57º lugar. Caiu 4 posições em relação ao exame anterior, de 2009, mas, para os homens de Brasília, o resultado foi bom. Em relação a 2009, o Brasil melhorou em Matemática (passou de 386 pontos para 391), estagnou em Ciências (405 pontos) e piorou em Leitura e Interpretação (passou de 412 pontos para 410). Mas Mercadante comemorou.

Sob a análise da OCDE, 67% dos alunos brasileiros não sabem o mínimo do mínimo. Repito: 67% dos alunos brasileiros não têm conhecimento mínimo do que deveriam saber. Mínimo. Ou seja, seriam reprovados em qualquer teste que levasse em consideração as competências exigidas para a série. Só para se ter uma ideia, em Xangai (China), esse percentual é de ínfimos 3,8%. No outro extremo, o dos alunos com excelente desempenho, temos apenas 1,1%, o mesmo percentual que há uma década.

A lista do Pisa tem, nas seis primeiras posições, apenas asiáticos. Explica-se: lá, existe uma obsessão pelo conhecimento. Nada de “notas por criatividade”, “trabalhos para acrescer pontos”, “ajuda para quem é comportadinho”. Não. Lá se exige esforço e dedicação extrema aos estudos sob a pena da humilhação pública. Os pais não admitem resultados medíocres, as escolas não aprovam incompetentes e os melhores professores são reverenciados e exaltados na sociedade – o que significa muito mais que excelentes salários, que eles também recebem. No mundo asiático, prevalece a meritocracia – para alunos e professores. Por aqui, conformamo-nos com pouco e chancelamos a mediocridade.

O Pisa também mostrou que existem diferenças significativas entre as regiões brasileiras. Sul e Sudeste apresentam resultados melhores que a pífia média nacional. Já no Norte e no Nordeste, o ensino é uma vergonha: nove estados dessas duas regiões estão na lista dos dez piores lugares do planeta no ensino de matemática. Foi isso mesmo o que você leu: dos dez piores lugares do planeta no ensino de matemática, nove são estados brasileiros do Norte e do Nordeste. Mas Mercadante comemorou.

O governo, claro, já arrumou a solução para esse desastre: as cotas! A cada ano, mais e mais vagas das universidades federais são destinadas aos cotistas – alunos que teriam todo o direito a uma educação de qualidade, mas que terão de se contentar com esses resultados, pois “lá na frente” serão beneficiados com as cotas. Afinal, para os padrões brasileiros, subir de 3,8 para 3,9 é um sucesso. Mercadante comemorou. Vamos comemorar também.

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