Opinião: A rotação

Por Daniel Finizola

Há quem diga que  ela é a representação do silêncio e da tranquilidade. Para outros ela é sinônimo de inspiração, festa, alegria e liberdade. Nas grandes cidades a noite revela prazeres, desejos, mentiras  que o dia costuma esconder. Há pessoas que se mimetizam, incorporando um noctívago voraz, capaz de enfrentar e libertar todas as vontades, mitos e temores que a cultura da noite produziu.

Aquela zumbindo de vento que rasga o oco do mundo sempre ganha outra conotação quando a rotação nos coloca na escuridão. Cada Lâmpada vira um simulacro de sol capaz de produzir calor e penumbra. O céu releva seus distantes pontos brilhantes. Os anfíbios cantam pra acasalar. A coruja arma seu olhar de lince. O feérico aguça a imaginação.

A noite é poética, amorosa, confortante e confortável. Ao mesmo tempo que releva o “dark side” que reside em muitos de nós. Não que isso seja  necessariamente ruim, mas corresponde aquela porção do nosso eu que teme em se revelar ao dia. Prefere seguir regras e modelos que são alimentadas pela luz natural.

Cada vez mais o dia nos coloca em uma velocidade que parece está além da nossa natureza. É como se perdêssemos a noção dos nossos limites biológicos e nos equiparássemos a uma máquinas frenéticas de números, ambições e conquistas que normalmente gera pouca felicidade e muitos resultados. Nesse contexto os dias vão ficando curtos para tantas tarefas e é cada vez mais comum escutar aquela frase “como eu queria que o dia tivesse 48 horas”.

A consequência de tudo isso é que o dia virou sinônimo de castigo. Colocamos persianas, cortinas, cartolina preta na janela pra afugentar o que a rotação insiste em nos trazer apos cada noite de alegria, diversão, frio, solidão, drogas, paqueras ou descanso. Não tem jeito. Dia e noite são irmãos, cúmplices, filhos de um mesmo movimento. Dois lados na mesma moeda. Há quem prefira o dia com suas dores e hipocrisias. Há quem prefira a noite com seus perigos e mistérios.

E você, prefere o quê?

@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br

Opinião: CPI da Petrobras

PoCélio Pezza 

A crise no sistema de Justiça no Brasil não é recente, mas, cada vez que temos uma nova CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), mais fica visível o tremendo circo dessas comissões e sua contribuição para o descrédito na Justiça. Elas não buscam a verdade e só vemos acordos de todos os lados.

Elas só pretendem dar a impressão de que investigaram a fundo um assunto e chegaram a determinadas conclusões. Em 2012 assistimos a um espetáculo circense montado no Senado, chamado CPI do Carlos Cachoeira. Nela, o empresário e contraventor, Carlinhos Cachoeira, deveria explicar sua participação em processos de corrupção ativa com parlamentares. Ele entrou mudo e saiu calado, orientado pelo seu advogado, Márcio Thomaz Bastos, que já foi presidente da OAB e Ministro da Justiça no governo Lula, num claro deboche à justiça, dentro da lei.

Agora, vemos outro espetáculo grotesco montado em volta da CPI da Petrobras, sobre o episódio da compra da refinaria de Pasadena, que trouxe um enorme prejuízo à estatal de capital misto. A mídia já mostrou que as perguntas elaboradas pelo parlamentar relator da CPI do Senado, José Pimentel do PT do Ceará foram repassadas aos depoentes bem antes da CPI e advogados e assessores da Petrobras realizaram um treinamento com os depoentes, mostrando quais as respostas que deveriam ser dadas à CPI.

Um vídeo que veio a público mostrou que a presidente da Petrobras, Graça Foster, e demais envolvidos, tiveram acesso às perguntas bem antes de serem formuladas, num claro espetáculo teatral, do tipo: eu pergunto isso, você responde aquilo e ficamos todos satisfeitos.

O PSDB e o DEM anunciaram que vão recorrer à Procuradoria Geral da República para investigar os senadores José Pimentel (PT-CE) e Delcídio Amaral (PT-MT) pela farsa montada pelo PT na CPI da Petrobras no Senado. O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), pediu ao Presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), uma séria apuração da farsa da CPI, pois “esse fato é da maior gravidade e desmoraliza o Congresso Nacional”.

Vale recordar que Dilma Roussef, quando presidiu o Conselho da Petrobras e autorizou a compra da refinaria, alegou que sua aprovação foi devida a um parecer errado de Nestor Cerveró, na época diretor da área internacional da Petrobras. Este, já declarou que não vai sozinho para a fogueira e o ex-presidente, Sérgio Gabrielli, também não admite a hipótese de levar a culpa pelo ocorrido. Voltando à CPI, questionada sobre o que achava das denúncias, Dilma disse que essa questão deveria ser respondida pelos parlamentares.

Já a tática da sua campanha é limitar esse escândalo a uma simples disputa política, ignorando o fato de que os parlamentares centrais desse espetáculo deplorável para a democracia são de seu próprio partido. No meio de tanta sujeira, devemos nos lembrar do discurso do nosso ilustre Rui Barbosa, no Senado, exatamente cem anos atrás:

“E nessa destruição geral de nossas instituições, a maior de todas as ruínas, senhores, é a ruína da Justiça, colaborada pela ação dos homens públicos, pelo interesse dos nossos partidos e pela influência constante dos nossos Governos”.

Célio Pezza é colunista, escritor e autor de diversos livros.

Opinião: Por que o Dudu e não outro político?

Por Ancelmo Góis
“Com tanto FDP por aí, por que morre logo Eduardo Campos?” Essa foi a primeira reação de uma pessoa ao meu lado no momento em que chegou a notícia da tragédia que vitimou o jovem político pernambucano aos 49 anos. Logo depois, o mesmo desabafo explodiu nas redes sociais, com a insensatez que o meio oferece, agregando comentários do tipo “Por que não foi o fulano que morreu?”, citando esse ou aquele político asqueroso.
O mesmo tipo de raciocínio ferino eu ouvi bastante em dezembro do ano passado, quando, depois de lutar contra um câncer havia quatro anos, morreu Marcelo Deda, 53 anos, governador de Sergipe. Deda, a exemplo de Campos, era uma vocação rara, nestes tempos de estiagem de política de brilho e decência.
É aí que eu quero chegar. Além da tragédia pessoal, morreu um jovem promissor em sua profissão, pai de cinco filhos, um deles com síndrome de Down, há uma tragédia política colossal. Campos e Deda representavam, com seus defeitos — que nos momentos de consternação são empurrados para debaixo do tapete —, exceção num quadro caquético de homens públicos, notadamente na Câmara e no Senado.
Quem assiste — mesmo pela TV em noites de insônia — a uma sessão da Câmara ou do Senado sabe do que estou falando. Esta geração nova de políticos, com exceções, claro, é formada por uma breguice sem limites, gente mais preocupada em implantar cabelos na cabeça do que ideias. O Senado virou uma grande Câmara de Vereadores, com suas excelências mais preocupadas com o buraco da rua de sua cidade do que com o que as ruas pensam sobre o futuro da nação. A Câmara dos Deputados, sob a liderança do PMDB, é palco, muitas vezes, de tenebrosas transações.
A família de Eduardo Campos está de luto. A política também, que, apesar da certa cachorrada, é a forma mais civilizada que o homem encontrou para gerir a sociedade.

Opinião: Ler faz toda a diferença

Por Menelau Júnior

Se você está com os olhos nestas linhas, provavelmente faz parte do reduzidíssimo grupo de brasileiros que têm o hábito da leitura. Não por coincidência, são pessoas desse grupo que costumam ganhar os melhores salários e ter mais influência na sociedade. São esses também os que pensam um pouco melhor.

O brasileiro lê muito pouco. Para alguns estudos, 1,8 livro por ano. Para outros, 2,5. Para nenhum, mais de três. A comparação com países europeus faria o “gigante pela própria natureza” corar de vergonha. Gastamos muito mais com bebidas alcoólicas do que com livros. Gastamos muito mais com celulares do que com livros. Gastamos muito mais com lanchinhos fora de hora do que com livros. Em resumo, não lemos.

Esse descaso com as letras custa caro ao país. Nos concursos públicos, muitos caem na interpretação de textos e no domínio da norma culta; nas empresas, vagas deixam de ser preenchidas por falta de conhecimento e raciocínio; na política, damos ouvidos (e votos) a falastrões populistas revestidos de santidade.

Em outras palavras, por causa da falta de leitura o brasileiro tem dificuldade de conseguir emprego, submete-se a salários baixos e é facilmente manipulado pelos governantes. Não é de hoje que lemos pouco. Aliás, líamos ainda menos. Nos últimos anos, a melhoria de condição de vida do brasileiro fez o mercado dos livros alcançar dígitos inéditos. Ainda é pouco, contudo. Boa parte dos livros consumidos no país é de material didático, distribuído pelo governo nas escolas. São os livros lidos por obrigação.

Esses pouco contribuem para a formação de leitores – e de cidadãos mais conscientes de seu papel. É preciso avançar. Estimular. Dar exemplos. A família é – e sempre será – o primeiro referencial das crianças. Se até os cinco anos elas tiverem mais contato com livrinhos, historinhas, gibis e afins, será mais fácil criar o hábito da leitura – pelo prazer, claro. Se virem os pais lendo, comprando revistas e visitando grandes livrarias, descobrirão a importância da leitura por si sós.

É, pois, indispensável que haja exemplos em casa. Na escola, professores precisam estimular o hábito de ler. E para isso precisam conhecer os gostos das crianças e dos adolescentes. Qual o problema de eles gostarem de Harry Potter? Que mal há em sonhar com o vampiro Edward? Qual o crime em participar de uma Guerra dos Tronos? A partir dessas histórias fantásticas, é possível desenvolver o prazer pela leitura – e só então descobrir obras mais complexas.

Não se esqueça, contudo, da lição de um provérbio chinês: “Os professores abrem a porta, mas o aluno entra sozinho”. A leitura, portanto, é o início das grandes mudanças na sociedade. Não se pode esquecer que, além de nos levar a mundos fantásticos, habitados por seres estranhos, ela também nos permite conhecer nosso próprio mundo – e a nós mesmos. Conhecendo-se, o homem pode mudar. Mudando, o homem muda o mundo. Abrir mão desse exercício e deixá-lo à revelia dos que pensam mais porque leem mais pode ser arriscado. Quem lê viaja, descobre, reflete. Quem lê é dono de seu próprio destino.

Menelau Júnior é professor de língua portuguesa.

 

Opinião: As virtudes e contradições de Campos

Por Daniel Finizola

A tragédia que aconteceu com Campos não é a única registrada em nossa história envolvendo políticos de grande expressão. Nesse lista encontramos nomes como Ulisses Guimarães e Salgado Filho. Personalidades que deixaram contribuições nas instituições republicanas do nosso país.

Em tempos de demonização da política falar sobre um político não é uma tarefa fácil, principalmente quando esse homem é Eduardo Campos. Além do dinamismo e da liderança, o ex-governador tinha a personalidade dotada de uma grande capacidade de articular pessoas. Esse é um elemento fundamental para todos que pretendem fazer política, independente de qualquer  modelo social, econômico ou ideológico.

Eduardo colocou seu partido (PSB) num lugar de destaque no cenário nacional. Mas para tanto teve que administrar as contradições que surgiam mediante a sua prática política. Na gêneses do seu partido podemos encontrar claramente valores socialistas, onde a defesa da socialização dos meio de produção já foi uma grande bandeira.

A história do partido registra que em 1987 o PSB faz seu primeiro congresso nacional e defini como meta: Reforma agrária, socialização de setores essenciais, direito de greve e jornada de 40 horas semanais. Chegou a defender propriedades cooperativas e coletivas e o fim de todo e qualquer privilégio para seus líderes partidários. Mas o que aconteceu com os valores socialistas de Campos e do seu partido?

Talvez tenha sido consumido pelos acordos que corroem os programas dos partidos em nome dos projetos pessoais, da manutenção no poder e da governabilidade. Algo que também acontece com o PT – PSDB e com os demais partidos no Brasil, deixando todos aparentemente iguais. Perceba que isso anda incomodando o eleitor. É nesse contexto que muitos começam a reproduzir o discurso reacionário de que valores de esquerda e direita não existem mais. Que todos os partidos e políticos são iguais e que nada vai mudar. Será? Quem são os interessados na construção desse discurso? É preciso analisar!

É no cenário de descredito das instituições políticas que Campos procurou criar a imagem do novo, arrojado, moderno, competente. A alternativa política que o Brasil precisa pra se desenvolver, apesar de sua coligação carregar partidos extremamente conservadores como o PPS. Mas lembre-se! Estamos falando de Eduardo Campos. Um homem que traduz bem as contradições da mais humana de todos as ciências, a política.

Não dá pra negar a importância e a falta que vai fazer o líder do PSB na política nacional. Foi eleito deputado estadual, federal e governador. Em 2004, a convite do então presidente Lula, passa a ser Ministério de Ciência e Tecnologia. No comando da pasta aprova o programa para pesquisa com células-tronco, além de articular a criação da Lei de Inovação Tecnológica que estimula o surgimento de ambientes especializados de cooperação e inovação. Deixou um grande legado enquanto homem público.

Apesar da dor e da perplexidade que envolve o fato, o momento é de especulação. Não há como substituir o carisma e os olhos de Eduardo, mas quem vai assumir os rumos do PSB no estado e no Brasil? É um partido extremamente heterogêneo e com sérias dificuldades em alinhar-se aos programas defendidos por Marina e sua REDE. Basta analisar a votação do código floresta e perceber que a maioria esmagadora dos parlamentares do PSB votou contra as bandeiras que Marina sempre defendeu, ou seja, isso é uma amostra de que a sua vida não será fácil no PSB.

O dia 13 de agosto também foi o dia que fiquei assustado com o comportamento bizarro de algumas pessoas nas redes sociais. Toda a fé cristã e amor ao próximo do Pr. Daniel Vieira  (Igreja Assembleia de Deus – Imperatriz/ MA) foi revelado no twitter abaixo:

Também não faltou teoria da conspiração. O tempo todo víamos comentários de mau gosto, relações com o número 13 e ataques pessoais à Presidenta. Um comportamento macabro e nojento. Não nos leva a nada politicamente e não considera a dor das pessoas. É preciso refletir que sociedade é essa que disputa curtidas na internet banalizando a morte e a dor das pessoas.

Muita luz para todos os familiares que perderam seus parentes nesse momento triste pra política no Brasil.

eduardo-campos@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br

Ensino médio: o desafio brasileiro

Por Menelau Júnior

O maior problema da educação no Brasil hoje é o ensino médio. É nele que os alunos, já não mais crianças, demonstram pouco interesse pelos livros. Pior: muitos chegam com sérias deficiências na aprendizagem. E diante do extenso conteúdo exigido, das aulas excessivamente teóricas e das cobranças mais rígidas, a catástrofe se revela.

É no ensino médio que ficam evidentes todos os problemas da educação brasileira. Nas séries iniciais, as crianças começam a ser aprovadas sem dominar realmente os conteúdos. Terminam o ensino fundamental sem saber ler, sem saber interpretar (estou falando de interpretar, e não copiar respostas que estão no texto!!!) e sem domínio das operações básicas da matemática. Quem vai ter de resolver o problema? O ensino médio. Por causa dos vestibulares e agora do Enem, todos os olhares se voltam para o ensino médio, que não consegue resolver os problemas criados nos 13 ou 14 anos anteriores de escolaridade.

Nem adianta chorar o leite derramado: o que chega ruim ao ensino médio só tente a piorar. Qualquer um que se debruce sobre números reais – e não sobre “teorias mirabolantes” – vai perceber que, à medida que os anos passam, o rendimento dos alunos cai. Cai pela dificuldade inerente aos conteúdos, cai pelo desinteresse, cai pelas lacunas deixadas e que não serão preenchidas. Diante de conteúdos extensos e, muitas vezes, desconectados com a realidade, os alunos se sentem perdidos e desinteressados. O Enem revela isso. Em 2013, apenas 10% dos que fizeram a prova tiraram notas acima de 7 em redação. E menos de 1% superou a nota 9.

Em 2012, segundo dados do IBGE compilados pela ONG Todos Pela Educação, apenas 51,8% dos jovens de até 19 anos haviam concluído os anos finais da educação básica brasileira. Quando se sabe que mais de 97% das crianças com 7 anos estão matriculadas, o desastre se evidencia: a maioria ficou no meio do caminho, sem completar sequer o ensino médio. Para o país, uma catástrofe social. Sem escolaridade, não há desenvolvimento, não há progresso. Em nossas universidades, temos apenas 11% dos jovens com idade entre 18 e 24 anos.

Mudar essa realidade leva tempo e empenho. É preciso rever currículos, atualizar práticas pedagógicas ultrapassadas, investir na formação de professores. Não se pode eximir as famílias também: se os pais abrem mão de acompanhar o estudo dos filhos quando eles chegam ao ensino médio e apenas exigem a “aprovação”, os alunos se desinteressam e passam a investir cada vez mais em métodos ilícitos para conseguir o que os pais querem: “aprovação”. Mas nada é tão importante quanto o fortalecimento da educação de base. Até os 3 anos, as diferenças cognitivas entre as crianças não são tão grandes. Mas estudos revelaram que, aos 15 anos, essas diferenças já se acentuaram de tal forma que se tornam praticamente irreversíveis. Ou seja, querer que o ensino médio resolva as incontáveis lacunas deixadas na vida estudantil dos alunos é querer “enxugar gelo”.

Menelau Júnior é professor de língua portuguesa.

Opinião: A rotação

Por Daniel Finizola

Há quem diga que  ela é a representação do silêncio e da tranquilidade. Para outros ela é sinônimo de inspiração, festa, alegria e liberdade. Nas grandes cidades a noite revela prazeres, desejos, mentiras  que o dia costuma esconder. Há pessoas que se mimetizam, incorporando um noctívago voraz, capaz de enfrentar e libertar todas as vontades, mitos e temores que a cultura da noite produziu.

Aquela zumbindo de vento que rasga o oco do mundo sempre ganha outra conotação quando a rotação nos coloca na escuridão. Cada Lâmpada vira um simulacro de sol capaz de produzir calor e penumbra. O céu releva seus distantes pontos brilhantes. Os anfíbios cantam pra acasalar. A coruja arma seu olhar de lince. O feérico aguça a imaginação.

A noite é poética, amorosa, confortante e confortável. Ao mesmo tempo que releva o “dark side” que reside em muitos de nós. Não que isso seja  necessariamente ruim, mas corresponde aquela porção do nosso eu que teme em se revelar ao dia. Prefere seguir regras e modelos que são alimentadas pela luz natural.

Cada vez mais o dia nos coloca em uma velocidade que parece está além da nossa natureza. É como se perdêssemos a noção dos nossos limites biológicos e nos equiparássemos a uma máquinas frenéticas de números, ambições e conquistas que normalmente gera pouca felicidade e muitos resultados. Nesse contexto os dias vão ficando curtos para tantas tarefas e é cada vez mais comum escutar aquela frase “como eu queria que o dia tivesse 48 horas”.

A consequência de tudo isso é que o dia virou sinônimo de castigo. Colocamos persianas, cortinas, cartolina preta na janela pra afugentar o que a rotação insiste em nos trazer apos cada noite de alegria, diversão, frio, solidão, drogas, paqueras ou descanso. Não tem jeito. Dia e noite são irmãos, cumplicies, filhos de um mesmo movimento. Dois lados na mesma moeda. Há quem prefira o dia com suas dores e hipocrisias. Há quem prefira a noite com seus perigos e mistérios.

E você, prefere o quê?

@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br

Opinião:Assassinos por natureza

Por Menelau Júnior

O diretor Oliver Stone é responsável por uma pequena obra-prima do cinema americano: “Assassinos por Natureza”. O longa, de 1994, mostra a trajetória de um casal apaixonado que sai praticando todo tipo de crime nos Estados Unidos. Mickey e Mallory viram atração da imprensa sensacionalista, e o repórter Wayne Gale (Robert Downey Jr.), o principal responsável, os coloca num programa de televisão. Stone, claro, usa o exagero para fazer uma dura crítica à imprensa sensacionalista, bem como à atração mórbida que temos pela desgraça alheia.

Quando algum jovem perturbado entra numa escola americana matando professores, colegas e depois praticando suicídio, os infantiloides brasileiros logo apontam o dedo para a “doente sociedade americana”, que “fabrica jovens suicidas aos montes”. Seriam eles os assassinos por natureza?

Esse discurso antiamericano e falacioso, normalmente de cunho político (sim, nossos antiamericanos são sempre os mesmos admiradores de assassinos como Fidel e Che), não resiste a comparações. Vamos a elas.

Os Estados Unidos têm 300 milhões de habitantes e uma média de 20 mil assassinatos por ano. Lá, quase toda casa tem arma de fogo. O Brasil tem 200 milhões de habitantes (ou seja, 33% a menos), mas nos matamos a 150 por dia (ou seja, três vezes mais que a média americana) – o que dá mais de 50 mil crimes por ano. E isso porque o porte e a posse de armas são muito restritos aqui no país.

Não é apenas assim que nos matamos. O nosso trânsito é outra vergonha. São mais de 40 mil mortos por ano – muito mais do que qualquer guerra entre Israel e os terroristas do Hamas. Com a popularização das motocicletas – e de alguns motociclistas suicidas – , esse número só cresceu. Uma visitinha ao Hospital Regional, por exemplo, vai revelar a “epidemia” de amputados e mortos por causa do veículo de duas rodas. Temos condições de comprar os veículos; o que nos falta é civilidade, respeito, prudência.

Há outros fatores. Nos Estados Unidos, 90% dos crimes são elucidados. No Brasil, esse número não chega a 20%. Nos Estados Unidos, assassinos podem pegar prisão perpétua ou pena de morte. Lá, eles ficam presos. No nosso inferno tropical, mata-se por cinco reais, por um botijão de gás, por nada. Aqui, não se poupam crianças, idosos, mulheres grávidas. Aqui, assassinos, quando presos, recebem indulto e comissões de direitos disso e daquilo. As vítimas recebem enterro.

No nosso “mundinho civilizado”, não podemos chamar de “bandido”, “criminoso” ou “assassino” aquele que tem 17 anos e atira no rosto de um cidadão de bem que trabalha para colocar comida dentro de casa. Aqui é “menor infrator”. E se tiver menos de 12, não é nada.

Faz algum tempo acreditava-se que o Brasil era um país cordial. Nosso povo gosta dos rótulos de “povo alegre”, “hospitaleiro”, “feliz”. Todos esses adjetivos são pura hipocrisia. Os números não deixam que as palavras mintam: somos selvagens, violentos, insanos. E vítimas da hipocrisia de quem defende criminosos em nome de uma humanidade que não temos…

Menelau Júnior é professor de língua portuguesa.

Opinião: Direção pedagógica liberal, no processo democrático

Por Alexei Esteves

Desde o início do século XXI, a aceleração dos avanços tecnológicos, a globalização do capital e as transformações nas relações de trabalho, como a perda dos direitos sociais, trouxeram mudanças para as políticas e gestão e de regulação da Educação no Brasil. Tais mudanças interferem na organização da escola e nos papéis dos diversos atores sociais que constroem seu cotidiano.

Para a Gestão democrática deve haver compreensão da administração escolar como atividade meio e reunião de esforços coletivos para complemento dos fins da educação, assim como a compreensão e aceitação do princípio de que a educação é um processo de emancipação humana; que o Projeto Político pedagógico (PPP) deve ser elaborado através de construção coletiva e que além da formação deve haver o fortalecimento do Conselho Escolar

Os gestores devem também possuir habilidades para diagnosticar e propor soluções assertivas às causas geradoras de conflitos nas equipes de trabalho, ter habilidades e competências para a escolha de ferramentas e técnicas que possibilitem a melhor administração do tempo, promovendo ganhos de qualidade e melhorando a produtividade profissional. O Gestor deve estar ciente que a qualidade da escola é global, devido à interação dos indivíduos e grupos que influenciam o seu funcionamento.

A comunidade escolar repensa constantemente o seu papel pedagógico e sua função social, para tanto, se faz necessário refletir sobre a escola que tem, se voltada para os interesses políticos, se discriminadora e produtora de mecanismos de controle que impedem que os estudantes consigam enfrentar em condições de igualdade ou como melhor enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. Essencialmente aos alunos dos cursos de extensão onde muitos são os problemas que dificultam a aprendizagem dos discentes.

O presente documento que teve como objetivo maior mostrar que mesmo diante de tantas exigências e dificuldades encontradas no contesto escolar e possível estruturar um espaço de convivências e conquistas democráticas apresenta também o caminho percorrido para se chegar as conclusões de que a educação é um processo que se constitui em longo prazo, é uma ação solidária onde a percepção, a troca, a experiência, a reciprocidade, constituem sua essência.É válido reconhecer que a figura do diretor não representa apenas a autoridade da escola, nem o administrador eficaz, como se deseja para o sucesso de uma empresa.

O diretor tem que dar conta da qualidade de ensino em sua escola e tudo o que for condição para alcançá-la. Manter um diálogo aberto com professores, funcionários, alunos e pais, garantir o direcionamento do projeto pedagógico na escola, a homogeneidade de conteúdos programáticos e a heterogeneidades entre as turmas, ter bom trânsito nas coordenações de curso.

Oferecer um ensino de qualidade e possibilitar o acesso e permanência do aluno com sucesso, na escola o que só é possível quando o trabalho é realizado de forma eficiente, sobretudo transparente, nunca deixando de respeitar os direitos e interesses da comunidade que a Instituição está inserida.

Acompanhar, monitorando e intervindo no trabalho prático de sala de aulas de modo que o coordenador pedagógico possa se tornar um parceiro no trabalho junto ao trabalho do professor e não só um verificador de suas ações.

A pedagogia,deverá sempre está enfatizando sempre a valorização humana, sendo o aluno, sempre o centro das atenções e a oferta das modalidades de ensino oportuniza aos discentes, condições de serem participativos no contexto acadêmico,valorizando-os e tornando-os através da educação, cidadãos conscientes e preparados para interagir na sociedade.

Opinião: Cantamos o Hino “A CAPELA” ou “À CAPELA”?

capelaPor Menelau Júnior

Durante da Copa do Mundo, a seleção brasileira cantou o Hino acompanhada dos torcedores. Quando a melodia parava, todos continuavam a entoar os versos, num ritual denominado “à capela” (ou “a capela”?).

A expressão faz referência a uma tradição do Renascimento, quando cânticos eram entoados em pequenas igrejas (capelas) sem o acompanhamento de instrumentos musicais.

A dúvida é quanto à grafia dessa expressão: “a capela” (sem crase) ou “à capela” (com crase)?

Está aí um caso em que há divergências de opinião. Para muitos autores, a expressão seria sem crase (“Cantar o Hino a capela”), uma vez que se trata de expressão adverbial de modo, em que não existe a presença do artigo “a”. Esses mesmos autores condenam o uso do acento grave em expressões como “a faca” (ferir alguém “a faca”) ou “a mão” (texto escrito “a mão”).

Para outros autores, esses são casos em que, historicamente, sempre se empregou o acento, não havendo, portanto, motivo para omiti-lo. São expressões adverbiais femininas e, como tais, deveriam receber o acento grave indicativo de crase.

Para complicar ainda mais a parada, o Houaiss, o principal dicionário do país, registra apenas a forma italiana: “a capella”. Nos sites de notícias, encontramos as duas formas – com e sem crase.

Para não ficar em cima do muro, vou assumir: eu uso o acento grave. Por uma questão de coerência: se escrevo que alguém “pinta à mão”, “paga à vista”, “fere à faca” ou “mata à bala”, também escrevo que se “canta o Hino à capela”. Em minha opinião, trata-se de uma locução adverbial feminina – e por isso deve ser acentuada. É muito mais por tradição histórica (como sempre foi com as locuções adverbiais) do que pela presença de uma preposição e um artigo.

Menelau Júnior é professor de língua portuguesa.