Por Maurício Assuero, economista e professor
Na semana passada comentamos a experiência de Jan Carlzon que conseguiu reerguer a Swissairde um prejuízo da ordem de US$ 10 milhões, usando uma politica inovadora de administração e de valorização do seu cliente. Não precisamos ir muito longe para encontrar outros exemplos. Aqui no Brasil, tem-se um caso também famoso protagonizado por Ricardo Semler, herdeiro do grupo Semco. Semler tentou pós-graduação em Harvard e teve seu pleito negado, se não me engano por três vezes, até que, após,criticar duramente aquela instituição, foi convidado para uma entrevista e aceito para o programa. Quando voltou ao Brasil assumiu o controle da empresa do pai adotando medidas, simples e surpreendentes que geraram resultados extraordinários.
É importante lembrar que a Semco tinha vínculos familiares e Semler optou por remunerá-los (manter seus salários) sem que eles precisem trabalhar. Obviamente, no caso de empresas familiares cada caso é um caso. Um dos grandes problemas da empresa familiar não é o fato de ser familiar, mas não saber distinguir os limites dos laços familiares com as obrigações profissionais. Ou seja, se o gerente de produção é filho do dono, mas está levando a empresa a uma situação de ineficiência produtiva, então há de se esquecer os laços consanguíneos e dar espaços aos laços profissionais. Outro problema é a sucessão da empresa. Se há vários filhos, por exemplo, qual deverá ser o escolhido para suceder? Nem sempre é uma decisão simples porque qualquer coisa decidida na empresa pode afetar as relações dentro de casa e vice-versa.
Semler fez algo maior para os funcionários, dentre os quais: acabou com as vagas privativas no estacionamento. Quem chegasse cedo poderia estacionar no local que bem entendesse, até mesmo naquela vaga onde estava escrito “privativo da diretoria”; acabou com a revista aos funcionários e permitiu que cada funcionário pintasse sua máquina da cor de sua preferência. A questão da revista é palco de debates e contendas jurídicas. Quem faz, desconfia dos funcionários e o faz porque percebe que há roubo de produtos. O efeito dessa medida fez o roubo dos produtos diminuir assustadoramente. As experiências de Semler estão impressas num livro chamado Virando a própria Mesa. É uma leitura boa, mas o melhor do livro são as ações implantadas para tornar a empresa um ambiente saudável, afinal, 44 horas semanais da vida dos trabalhadores é de convivência nesse ambiente.
O importante de tudo isso é que se chega a resultados positivos sem a necessidade de investimento direto, sem a preocupação de aumentar custos, sem muitos sacrifícios financeiros. Algumas empresas distribuem participação nos lucros, mas isso é quando tem lucros, quando as condições macroeconômicas permitem, etc.. e quando não? A primeira providência é cortar benefícios e estes benefícios, há muito tempo, são formas indiretas de renda. As pessoas quando buscam um emprego estão de olho nos benefícios, além de salário.