Acompanhantes de pacientes criticam suspensão de cirurgias no HRA

Foto Leonardo Cícero (6)

Maria Marineide foi uma das acompanhantes a criticar a unidade

Maria Marineide foi uma das acompanhantes a criticar a unidade


REPORTAGEM ESPECIAL

Pedro Augusto

Quando esteve cumprindo agenda na semana passada, em Caruaru, o governador Paulo Câmara (PSB) acabou não incluindo no seu roteiro de visitas o Hospital Regional do Agreste, às margens da BR-232. Certamente se tivesse comparecido na ocasião às dependências da maior unidade hospitalar pública do Interior de Pernambuco, em vez de aplausos, o socialista colheria de lá sonoras vaias engrossadas principalmente pelas acompanhantes dos pacientes que se encontram internados, já há várias semanas, à espera de cirurgias do setor de ortopedia. Não é de hoje, segundo as populares denunciantes, que o HRA não vem realizando os procedimentos necessários devido à falta de materiais. Elas alegam que até há a presença de médicos, porém com as suas prestações de serviços incompletas, haja vista que os insumos são imprescindíveis para a recuperação dos vitimados.

Quem se encontra nesta difícil situação é a dona de casa Maria Marineide de Araújo. Depois que o seu filho, Fábio de Araújo, foi atropelado, há mais de um mês, no município de Venturosa, no Agreste do Estado, a vida dela se transformou num verdadeiro inferno. “Esse HRA, meu filho, não é para gente não! Isso aqui é um matadouro! O meu filho quebrou a perna, chegou a ser operado, mas está precisando de um novo procedimento e ele ainda só não foi feito porque não tem material ortopédico. Além de ter de lidar com o sofrimento dele, que já se encontra desesperado com a sua situação, tenho me desdobrado para não passar necessidades, porque o dinheiro praticamente acabou. Pagamos tantos impostos caros para passarmos por isso. Paulo Câmara é o pior governador da história de Pernambuco!”, criticou.

Maria Marineide não foi a única acompanhante a relatar o descaso que vem ocorrendo no Hospital Regional do Agreste no tocante à realização de cirurgias do setor de ortopedia. De acordo com a agricultora Késsia dos Santos, que se encontra com o sobrinho internado devido a um acidente de moto, já há várias semanas que a unidade não tem feito os procedimentos necessários. “O meu parente mesmo está aguardando há mais de um mês pela cirurgia e o que nos dizem é que está faltando material. Não sou médica para ter uma avaliação precisa, mas não posso deixar de temer pela saúde dele, porque o seu caso já era para ter sido resolvido há bastante tempo. Dou nota zero para o atendimento que está sendo prestado pelo HRA e é continuar rezando para que tudo seja finalmente resolvido”, criticou a agricultora.

A também agricultora Eliane Maria da Silva é outra que se encontra com um familiar passando por maus bocados nas dependências do HRA. Com a tíbia e o fêmur quebrado, a irmã de Eliane, de nome não informado, vem agonizando ainda mais devido à ausência de insumos ortopédicos. “Um ortopedista, inclusive, passou hoje (última terça-feira) pelo setor de enfermaria e cheguei a perguntá-lo sobre a marcação do procedimento, porém ele disse que não tinha previsão por causa da falta de produtos. Como é que pode isso? Estou com a vida parada desde o acidente da minha irmã, passando por necessidades, ela em cima de uma cama sem previsão de alta e simplesmente o Governo do Estado não faz nada. Se tivesse dinheiro não colocaria nem os meus pés no Regional, mas, como não tenho, é esperar por um milagre!”, questionou.

Responsável por atender as demandas de pacientes de mais de 80 municípios do Interior do Estado, atualmente o Hospital Regional do Agreste vem prestando serviços, por mês, a cerca de um milhão de pessoas. A suspensão dos procedimentos cirúrgicos voltados para o setor de ortopedia teria ocorrido devido à falta de pagamento dos insumos por parte do Governo do Estado. A empresa, até então fornecedora, alega que a dívida contraída pelo governo vem girando, hoje, na casa dos R$ 3 milhões somente em relação ao HRA. Além dele, outras unidades hospitalares públicas de Pernambuco também estariam passando pela mesma situação.

RESPOSTA

Em resposta aos questionamentos feitos pelas acompanhantes e à suposta ausência de pagamento na compra de materiais, o Governo de Pernambuco, através da Assessoria de Imprensa da Secretaria Estadual de Saúde, alegou que a “direção do Hospital Regional do Agreste (HRA) esclarece que está trabalhando para regularizar o estoque de alguns insumos para, com isso, normalizar as cirurgias eletivas, que são aquelas realizadas por meio de marcação, ou seja, sem caráter de urgência e emergência. A direção está em diálogo com os fornecedores para sanar a situação. É importante ressaltar que as cirurgias de urgência estão ocorrendo normalmente na unidade, além de algumas eletivas.

A direção do Hospital Regional do Agreste também informa que possui unidades de retaguarda para a realização de cirurgias eletivas nos municípios de Bezerros (ortopedia e clínica médica), Arcoverde (ortopedia e cirurgia geral) e Moreno (ortopedia), todas contratualizadas pelo Governo do Estado. Além disso, parte da demanda de pacientes de clínica médica e neurologia vem sendo absorvida pelo Hospital Mestre Vitalino (HMV).

O HRA é unidade de importância estratégica para a população do Estado, pois atende a 87 municípios das microrregiões de Saúde de Caruaru, Garanhuns, Arcoverde, Afogados da Ingazeira e Serra Talhada. Em razão disso, o Governo de Pernambuco tem se empenhado para reforçar as escalas da unidades da rede estadual com profissionais concursados. Até agora já foram chamados 5,4 mil aprovados – o maior chamamento da saúde pública pernambucana. Apenas para o Hospital Regional do Agreste, foram mais de 200 profissionais, entre enfermeiros (33), técnicos de enfermagem (112) e outras categorias da saúde.

As escalas de plantão também vêm sendo adequadas para otimizar o desempenho dos profissionais e qualificar a assistência aos usuários. Por mês, o Hospital Regional do Agreste realiza 1,7 mil atendimentos de urgência e mais de 600 cirurgias, além de 5 mil consultas ambulatoriais”, finalizou o texto.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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