ARTIGO — Custos financeiros

Maurício Assuero

Há uma nítida contradição entre a prática do mercado e a política econômica do governo. Enquanto a taxa básica da economia é 6,5% ao ano, o custo financeiro para operações de empréstimo continua alto. Apesar das medidas adotadas pelo governo para reduzir, a taxa de juros do crédito rotativo (cartão de crédito e cheque especial) continua em patamares indesejados. O problema é que existe um risco associado com estas operações muito alto e, quanto mais alto o risco, maior retorno se pretende.

É exatamente a questão do risco que tem levado o mercado cambial reagir prontamente. O dólar, hoje, está na casa dos R$ 3,50, em valores nunca vistos nos últimos dois anos. Se olharmos a economia externa, a gente vai perceber que não há muita razão, apesar das loucuras de Trump, para que a gente se sinta ameaçado. A ameaça é interna. Ou seja, a situação política deste país tem levado a este comportamento de defesa. A cada vez que se fala numa possibilidade de libertação de Lula, o mercado se defende aumentando o custo financeiro. Com a taxa do dólar nesse nível, há vantagens no comércio externo, com impactos positivos na balança comercial, mas isso não tem servido de instrumento para impulsionar o mercado interno.

Note que tais variações na taxa de cambial não são frutos de uma política monetária adotada pelo governo, mas do receio da população em relação ao desfecho dessa situação caótica que vive o país. Elevação na demanda por dólar faz o preço aumentar, assim como ocorrer em quase todo produto. Até que ponto isso pode chegar? Não sabemos, mas podemos destacar que, além da questão de Lula, o mercado cobra andamento de reformas. Por exemplo, é do nosso conhecimento que o orçamento de 2019 será fechado com déficit da ordem de R$ 140 bilhões. É certo que o próximo presidente não será capaz de tirar a economia desse marasmo e tudo fica debitado nas contas das reformas.

O que mais causa estranheza é que a política do governo não muda e isso é sinal da fragilidade do presidente Temer. A equipe econômica é formada por pessoas com qualificação diferenciada, com um bom trânsito no mercado, mas são pessoas incapazes de influenciar politicamente os congressistas. Então, mesmo apontando de adoção de uma medida econômica, o Congresso não compartilha porque os nobres deputados não querem colocar em risco sua reeleição. Então, as ações do Congresso se destinam ao atendimento das ações que não tirem votos. Enquanto isso, a economia pode ir se arrastando, gerando desesperos e desempregos.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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