ARTIGO — De saída

Maurício Assuero

Duas grandes montadoras, GM e Ford, estão reduzindo suas atividades operacionais no Brasil. Vendo uma entrevista do presidente da GM fiquei assustado com suas palavras, sinceras, reais, contundentes: “Sair do Brasil custará US$ 1 bilhão; ficar custará US$ 3 bilhões”. Lamentavelmente, a política econômica, a conjuntura política e a falta de comprometimento do Congresso Nacional com o bem estar da população estão nos levando para as profundezas de um abismo ou, numa linguagem mais realista, para um buraco negro (esse mesmo que a gravidade é tão alta que não permite nem que a luz escape).

Como há o ditado “além de queda, coice”, a Ford resolveu enxugar em 10% seu quadro mundial de trabalhadores, na tentativa de economizar US$ 600 milhões, ou seja, algo em torno de R$ 2,5 bilhões. Em linhas claras, gerais e simples, a Ford eliminará 7 mil postos de trabalho.

Decididamente, para estas empresas o gargalo chama-se mão-de-obra. No Brasil, os encargos sociais atrelados são mais que suficientes para contratar outro funcionário. As empresas pagam dois funcionários, contratando um. Não é simples e não tem como convencer um empresário de que essa conta é justa. Fala-se em desoneração da folha e, particularmente, Bolsonaro prometeu “tirar o estado das costas do produtor”. Que faça isso urgente. Que pelo menos inicie as tratativas para implantar uma medida dessa natureza.

Chamo a atenção para o fato de que em 2017 foi implantada uma reforma trabalhista que prometia gerar emprego. Na ocasião, fiz considerações sobre o baixo impacto que teria, no meu entendimento, porque o empresário, depois de tantos custos incorridos, aproveitaria para acumular lucro. O fato é que isso não mudou muito e, em detrimento, a economia do Brasil piorou ao longo da década. Estamos na direção contrária de outros países. Nos Estados Unidos, apesar de Donald Trump, nascer no dia 04 de julho é o maior prêmio para um americano. Lá, Kennedy foi enfático ao dizer “não pergunte o que o seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer pelo seu país”.

O governo atual herdou uma economia esfacelada, com taxa de crescimento medíocre, principalmente devido ao desastre econômico chamado governo Dilma. As boas ideias do ministro da economia não avançam porque o Congresso tem receio de que isso beneficie o atual presidente. O discurso de Paulinho da Força no dia 01/05 diz isso claramente. Então, aparentemente ninguém está disposto a ajudar. Tinha razão Millôr Fernandes quando disse “este país não pode melhorar enquanto o governo gastar todo seu dinheiro na propaganda da rosca e a oposição colocar todo seu esforço na condenação do furo.” É isso que estamos vendo.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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