ARTIGO — O governo titubeante

Por Maurício Assuero

Passados trinta dias no governo Temer nota-se que a insegurança ainda permeia o imaginário da população graças, inclusive, aos próprios erros do governo. Piloto de avião não pode falhar, pois quando falha o desastre é inevitável. De modo igual um presidente interino que aspira usar a faixa definitivamente. Temer cometeu equívocos ao selecionar os assessores, todavia, ao acabar com os Ministérios da Cultura e da Ciência e Tecnologia transformando-os em pastas da Educação e Comunicação, respectivamente, ele mostrou que era melhor continuar escrevendo poesia. A reação da classe artística fez com que o governo voltasse atrás em relação ao MinC; quanto ao MCTI – Ministério da Ciência Tecnologia, pesquisadores estão incomodados, mas ainda não reagiram a esta sandice, muito embora aqui e ali já se ouçam algumas vozes contrárias.

No bojo dessa incerteza, comentou-se na semana passada que a Caixa Econômica e o Banco do Brasil seriam incorporados. Se isto acontecer ou se esta proposta estiver na cabeça da equipe econômica, diria que será o fim do governo. Diversas razões operacionais separam estas instituições, mas como no Brasil o governante pensa mais no futuro dele do que no futuro da população, tudo é possível. O BNH – Banco Nacional de Habitação, por exemplo, extinto em novembro de 1986, era uma entidade voltada para a política imobiliária do país. Seu patrimônio, inclusive pessoal, foi incorporado pela CEF e hoje se perguntarmos qual a política habitacional do Brasil, provavelmente iremos nos deparar com o Minha Casa, Minha Vida.

A CEF, apesar de atuar como um banco comercial, tem particularidades diversas das do Banco do Brasil (a reciproca é verdadeira, com a ressalva de que o BB sempre foi um banco comercial). Transformar a CEF numa carteira do BB (ou vice-versa) implica em vários comprometimentos até mesmo para os clientes. Por exemplo: limite de crédito. Um cliente pode ter um limite de R$ 100 mil na CEF e no BB calculado de acordo com sua capacidade de pagamento. Se juntar, dificilmente ele terá R$ 200 mil na instituição resultante. Assim, quem perderá é a população, a empresa, o mercado. Esperamos que tudo isso não passe de boato.

Falta ao governo Temer uma postura mais firme em relação aos problemas da administração e da economia. Os sinais que a população esperava dele estão longe de ser emitidos simplesmente porque o grau de comprometimento dele com as mazelas de algumas figuras do PMDB são muito fortes. Ressalte-se ainda que ele está ali porque jurou – de pés juntos – que não concorreria à reeleição. Isso é mais uma forma de engessar suas ações e suas decisões.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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