ARTIGO — Olimpíadas

Por Maurício Assuero

A pergunta mais frequente que se ouve quando se fala dos jogos olímpicos é sobre o legado das olimpíadas para o Rio de Janeiro e para o Brasil. Sem muito esforço a gente lembra ter ouvido algo semelhante com a Copa do Mundo de 2014. Voltando um pouco mais, a Copa do Mundo de 2010 na África do Sul deixou algum legado para o país? Não! Num espaço de três meses os belíssimos estádios construídos por lá estavam tomados pelo mato, sem recursos para manutenção e sem finalidade. Isso é alguma coisa semelhante ao que vemos no Brasil pós Copa? É muito parecido. A arena Mané Garrincha em Brasília atrai clássicos do futebol carioca ou do campeonato brasileiro para ter alguma utilidade. A arena Pernambuco passa por um processo doloroso de revisão do contrato com o estado buscando alternativas para cobrir a megalomania de alguns.

Não se trata de torcer contra, simplesmente porque se quer que tudo dê errado. Pelo contrário, o que se deseja é que o Rio consiga prestar um serviço de qualidade aos 10 mil atletas e a outro tanto de turistas que virão para os jogos. O que a gente não pode deixar de comentar é que o Brasil, particularmente o Rio de Janeiro, não tinha condições econômicas para bancar um evento desse porte. Basta tomar como referência as dificuldades que tivemos em 2014 e lembrar que obras prioritárias para a Copa, em algumas cidades que foram sedes, não foram concluídas e que houve desvio de recursos.

Dentre todos os estados da federação, o Rio de Janeiro é o que apresenta o quadro orçamentário mais cruel. As despesas consolidadas líquidas do estado equivalem a 218% das receitas consolidadas e então vamos nos perguntar: o que é possível fazer para reverter esse quadro? Cortar gastos imediatos com pessoal e com fornecedores (cancelar contratos de terceirizados, por exemplo). A segunda opção, aumentar a receita. Mas o aumento da receita só será mais viável se fosse via royalties da Petrobras e isso só vai ocorrer se o preço do petróleo no mercado internacional melhorar.

Em última instância o governo do Rio de Janeiro poderia montar uma operação de antecipação da receita dos royalties. Apura-se a receita estimada ao longo dos próximos 20 anos e, mediante uma taxa de juros, antecipa-se esta receita. Ao longo desse período o governo federal não pagaria nenhum tostão a mais e o governo do Rio usaria tais recursos para impor um planejamento mais criterioso que fizesse o estado gastar apenas o que arrecada. Por mais brasileiro que nos sentimos, essa Olimpíada tende a nos deixar, como legado, uma medalha de chumbo, calibre 38.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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