ARTIGO — Saudade e indignação

Por Rita de Cássia Tabosa

Peço licença a minha mãe e a todas as mães para nesse dia 8 de maio fazer homenagem a todas elas em nome de uma única mãe: a mãe de Marcolino Jr., que eu sequer conheço. Se por ventura eu a conhecesse, diria para ela que convivi com seu filho na minha primeira turma em Caruaru no ensino superior: a turma de Jornalismo de 2006. Diria que essa turma tinha muita gente especial e, entre essas pessoas maravilhosas, estavam seu filho. Contaria sobre a parceria estabelecida entre o trio Lucinha-Dorivaldo-Marcolino, que eram inseparáveis durante os anos de 2006 a 2010.

Falaria de todos os discursos politicamente corretos, das risadas espontâneas, das preocupações com problemas da cidade e da utilidade do colunismo social (eu o provocava muito sobre esse tópico). Se eu a conhecesse, falaria que seu filho era um homem de bem, que tinha muitos amigos, que era muito querido. Falaria que longe do homem das festas, havia um coração generoso e preocupado com o outro. Diria que quando Dorivaldo enchia a boca para falar da esposa e da mãe como as mulheres da sua vida, Marcolino dizia que a senhora era o seu grande amor e que era a mulher da vida dele. Lembro que na formatura da turma, havia encerrado a disciplina de Ética, quando a classe me escolheu para ser homenageada e foi Marcolino e Lucinha que me encontraram na área de convivência para me dar a notícia.

Fiquei muito emocionada, pois, logo eu, que não era jornalista, ter sido escolhida por uma turma que tinha tantos profissionais de mercado… Com essa turma comecei a militar no movimento LGBT e defender os direitos das pessoas que se inserem nessa minoria, pois nunca tinha me sensibilizado com a necessidade da defesa desses direitos até então, por desconhecer a urgente necessidade de lutar contra o preconceito que essas pessoas são expostas. Uma coisa é ler nos jornais, outra coisa é ouvir os relatos pessoais a acompanhar o cotidiano de quem é vítima de preconceito. Com essa turma, me tornei um pessoa melhor.

Quando soube pelos colegas de imprensa do desaparecimento de Marcolino, meus primeiros pensamentos e minhas orações na noite que passei insone foi para a senhora, mãe de Marcolino. Deus cuida de cada um de nós e consola os corações, mas é muito difícil o consolo do coração materno que se angustia. Caruaru e região partilharam a sua dor, mas só a senhora sabe a intensidade da volta para a casa e do vazio que nela irá permanecer. Nesse Dia das Mães tão sofrido, saiba que muitos corações estão contigo e, se pudessem, carregariam com seus braços de amor esse fardo que agora é seu. Na sua solidão, saiba que ganhou muitas preocupações e orações para que seu coração generoso seja consolado.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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