ARTIGO — Tragédia

Maurício Assuero

O rompimento da barragem em Brumadinho-MG ceifou vidas e casou um impacto ambiental que levará anos para ser reparado. No esteio da dor, a gente vê inúmeros posicionamentos de pessoas criticando com veemência desde o processo de privatização da Vale do Rio Doce até o governo de Bolsonaro que acabou de assumir a presidência.

Um dos questionamentos mais comum falava sobre a privatização da Vale, ou seja, perguntava-se se valeu a pena privatizar a Vale. Seguramente! Se não fosse a privatização esse desastre e o de Mariana, há três anos, teriam ocorridos na primeira década desse século. Depois da privatização a Vale fez investimentos que nas mãos do governo teriam levado anos para se concretizar. Não custa lembrar que Lei ? 8666/93 (Lei das Licitações) é exigida para qualquer compra do poder público e, por isso, é o principal instrumento de desvios de recursos e de pagamentos de propinas.

O problema não foi a privatização. O que se enxerga é uma falha técnica, mas que se faz necessário uma apuração criteriosa. Os engenheiros responsáveis por atestar a capacidade técnica da barragem foram presos, mas precisa ver o laudo técnico emitido por eles, porque este laudo poderia se referir a um momento estático, ou seja, eles podem ter externado a situação da barragem no momento da vistoria. Se não há considerações sobre os ajustes necessários para manutenção da segurança, eles foram, no mínimo, ingênuos.

O baque dessa tragédia nós estamos começando a sentir na pele. Pessoas queridas desaparecidas formando um misto de carne e lama. Filhos angustiados sem notícias dos pais e vice-versa. Uma porta aberta a espera de alguém que provavelmente não virá. O lado humano é penoso. É dolorido.

Do ponto de vista econômico, as ações da Vale desvalorizadas em mais de 20% e uma perda no valor de mercado da empresa da ordem de R$ 71 bilhões. Diga-se, que a capacidade de recuperação da Vale é alta, pois, o acidente em Mariana também provocou uma forte queda no valor da empresa, mas três anos depois, do ponto de vista econômico, aquelas questões estavam equalizadas.

Fica o exemplo de que um raio pode cair duas vezes no mesmo lugar. Precisamos parar e olhar o que temos na legislação ou que podemos mudar para dar segurança aos trabalhadores, mas também a investidores. Uns pensam na perda humana. Outros pensam nas perdas financeiras e, infelizmente, este sentimento se sobrepõe ao primeiro. Por isso as ações da Vale caíram. No mercado uma ação vale mais do que uma vida.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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