Pedro Augusto
Com Agências
Cenas que todos os caruaruenses gostariam que tivessem ficado apenas no passado acabaram sendo revistas, no último fim de semana, na maior cidade do Interior de Pernambuco. Uma informação de origem da rede de postos PetroMega e que foi propagada com bastante rapidez pelas redes sociais, alertando sobre uma possível nova paralisação dos caminhoneiros, no domingo (2), o que acarretaria em mais desabastecimentos de combustíveis, levou milhares de usuários de veículos a se submeterem a filas quilométricas nos estabelecimentos do tipo espalhados por toda Caruaru.
Mesmo com o posicionamento contrário em relação à divulgação por parte de várias instituições, a exemplo do Governo do Estado, do Procon e da Polícia Civil, que as trataram como uma notícia falsa e tentaram alertar à população sobre o boato, os donos de carros e motocicletas só deixaram os postos após garantirem o abastecimento.
Tal demanda desenfreada, a ponto dos condutores ficarem por horas nas filas, levou alguns postos locais a zerarem os seus volumes de estoque. Embora a gasolina tenha aumentado somente 1,54%, conforme anunciou a Petrobras, na última sexta-feira (31) os valores praticados, no que diz respeito ao litro dela, acabou saltando de maneira exorbitante, permanecendo mesmo após o enfraquecimento do boato.
Durante circulação por alguns estabelecimentos do tipo, na manhã do domingo, a equipe de reportagem do VANGUARDA contabilizou a disparidade nos preços. Se antes da notícia circulada pelas redes, o valor do litro correspondia, por exemplo, a R$ 4,14, ele pulou rapidamente para R$ 4,32. Em alguns postos, o preço chegou a absurdos R$ 4,79.
O medo e a angústia de ter que ficar submetido novamente à escassez, quase por completa, de combustíveis, levou o autônomo Saulo Luiz a madrugar na frente de um posto, da Avenida Brasil, no Bairro Universitário. Ainda eram sete horas da manhã do domingo, quando ele já se encontrava há pelo menos três horas com a sua motocicleta parada à espera de abastecimento.
À reportagem, o autônomo se disse bastante preocupado. “Li a informação pelo WhatsApp no sábado à noite (1º), vi que outras pessoas estavam se movimentando para ir aos postos e decidi encher o tanque da minha motocicleta. Trabalho diretamente com o meu veículo e, se eu ficar sem gasolina, o prejuízo será enorme. Passei maus bocados na paralisação de maio e não quero mais passar por tudo aquilo novamente. Deus queira que seja boato mesmo, porque a população não aguenta mais tanto sofrimento.”
No posto do Bairro Santa Clara, VANGUARDA ouviu o agricultor Ednaldo Sales. Mesmo consciente da não oficialização de um nova greve por parte dos caminhoneiros, ele preferiu continuar na fila por horas. “Só saio daqui com o tanque cheio. Na primeira vez, fui pego de surpresa e agora não quero arriscar. Se não houver paralisação, excelente, porque ninguém vai sair prejudicado. Do contrário, se houver nos próximos dias, ao menos, não só eu como os demais precavidos, estarão com combustível para rodar. No Brasil, pode-se esperar qualquer coisa!”, criticou.
Recife e RMR
Assim como em Caruaru, no Recife e em alguns municípios circunvizinhos, filas enormes de veículos acabaram se formando, a partir do último sábado (1º), devido à suposta possibilidade de falta de combustíveis nos postos. A informação veiculada e viralizada posteriormente nas redes alertava aos usuários a abastecer os tanques por causa da “paralisação nos abastecimentos de combustíveis de Suape, que poderia já a ocorrer, a partir da madrugada do domingo”. A notícia, contudo, reforçava que o boato não estava confirmado. “Não temos uma confirmação, mas são fortes indícios”, acrescentou o texto.
Diante da repercussão da notícia, ainda na noite do sábado, a Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos, em conjunto com o Procon-PE, divulgou nota, ressaltando que iria notificar a empresa PetroMega a prestar esclarecimentos: “O informativo, sem qualquer fundamentação, alerta, de forma irresponsável, à população quanto à possibilidade de paralisação no abastecimento de combustíveis no Estado. A SJDH esclarece ainda que provocar alarme, anunciando perigo inexistente ou praticar qualquer ato capaz de produzir pânico é crime previsto no Artigo 41, da Lei de Contravenções Penais, sob pena de prisão simples, de 15 dias a seis meses de multa.”
A punição ocorreu na segunda-feira (3). Além de notificar, o órgão ainda multou a PetroMega em R$ 1 milhão. Segundo o gerente geral do Procon-PE, Erivaldo Coutinho, a empresa terá até dez dias para responder sobre o comunicado emitido nas suas redes sociais. A PetroMega poderá recorrer da decisão.
Em contrapartida, também através de nota, a empresa justificou que “o informativo postado teve base em um comunicado liberado pela União dos Caminhoneiros do Brasil (UDC), dia 31 de agosto de 2018, onde os caminhoneiros teriam alertado para uma nova mobilização. Lamentamos a quem interpretou de outra maneira o comunicado, mas nossa intenção foi a de sempre estar próximo de nosso cliente, mantendo o laço de comunicação de um grupo que sempre zelou por essa proximidade”.
“A rede reitera que a informação postada foi enxergada como de utilidade pública, reforçando, portanto, a característica do grupo de excelência no atendimento ao consumidor e zelo pela transparência nestes 20 anos no mercado pernambucano”, completou o texto.
A suposta possibilidade de mobilização por parte dos caminhoneiros ganhou força em todo o país, logo após a Petrobras também ter anunciado, na sexta-feira passada, o reajuste de 13% em relação ao diesel.
Mais notificações
Durante fiscalização realizada, no domingo, no Recife, a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, juntamente com o Procon, multou cinco postos que estavam cobrando preços abusivos em relação aos valores dos litros. O trabalho foi retomado na manhã da segunda-feira (3), estendendo-se aos estabelecimentos do tipo na Capital do Agreste.
Em Caruaru, o Procon local vistoriou oito postos no mesmo dia, notificando um no Bairro Indianópolis, que havia realizado reajuste de preço abusivo. Ainda durante a fiscalização, o órgão constatou quatro postos já sem gasolina, dois com atividades irregulares, além de outro que foi notificado para apresentar justificativas. Na cidade, o trabalho também foi retomado na segunda.
Tabela
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) informou que irá ajustar a tabela de fretes por causa da variação do preço do óleo diesel. A agência deu a informação em nota divulgada na noite do último sábado (1º). De acordo com a ANTT, a Lei 13.703, de 2018, prevê que uma nova tabela com frete mínimo deve ser publicada quando houver oscilação superior a 10% no preço do óleo diesel no mercado nacional. A lei instituiu a Política Nacional de Pisos Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas.
Desde a última sexta-feira (31), o preço médio do diesel nas refinarias da Petrobras subiu em 13,03%. Com o aumento, o preço passou de R$ 2,0316 para R$ 2,2964. É o primeiro aumento desde junho, quando, em acordo com os caminhoneiros em greve, o governo congelou o preço do produto nas refinarias em R$ 2,0316 por litro.