Por Dolores Affonso
O 1º Congresso de Acessibilidade, reexibido entre os dias 06 e 12 de abril em conjunto com a comemoração da semana de acessibilidade e inclusão e da Reatech, reuniu 40 especialistas de diversas áreas para falar sobre temas ligados à acessibilidade, tecnologia e inclusão. Idealizado por Dolores Afonso, que também possui deficiência visual, o Congresso foi totalmente online e gratuito, assim como na primeira exibição em setembro de 2014 e, o mais importante, acessível, com tradução em Libras, legenda, audiodescrição e transcrição das palestras e entrevistas veiculadas. Desta forma, permitiu o acesso a todas as pessoas com ou sem deficiência e necessidades especiais.
“Fiquei muito surpresa com o fato de os participantes da primeira exibição terem participado em peso da segunda. Inicialmente, pensamos que seriam somente novos participantes e pessoas que perderam alguma palestra, mas não. O volume de expectadores foi imenso, reunindo novos participantes e ainda os que já tinham assistido, mas que queriam rever, tirar dúvidas com os palestrantes e retomar algum ponto. Foram mais de 75 mil expectadores em todos os estados brasileiros e dezenas de países”, comemora Dolores.
A audiência foi composta não somente por pessoas com algum tipo de necessidade especial, mas também amigos, parentes, profissionais da área de saúde, cultura e esporte, educadores, instituições de ensino e de apoio, empresas e órgãos governamentais, no mais, todos os interessados em estimular o potencial das pessoas com deficiência e em aumentar sua participação na sociedade.
Tivemos três grandes novidades nesta exibição:
– Abertura de um chat que funcionou como um fórum de debates antes, durante e depois das palestras. As pessoas puderam tirar dúvidas, pedir ajuda, trocar ideias etc.
– Criação de grupos de debates no facebook (comunidade para intérpretes de Libras atuarem de forma voluntária traduzindo e transcrevendo materiais – Libras Solidária; Comunidade de profissionais de Braille, para ajudar na tradução voluntária para o Braille de materiais para a comunidade – Braille Solidário; e a Comunidade Audiodescrição Solidária para o apoio na produção de materiais audiodescritos e de conversão de textos para áudio, como livros etc.). Criamos, ainda, um grupo no WathsApp – Acessibilidadezap, para troca de ideias, apoio, informações, tecnologias etc. aberto a profissionais, pessoas com deficiência e outros interessados em acessibilidade. Os interessados podem solicitar participação nas comunidades no facebook e adicionar o celular administrador da comunidade no WathsApp 55 (21) 98210-6324 para serem inseridos no grupo.
– Exibição de filmes acessíveis. Foram feitas 4 sessões de cinema, duas para adultos e duas para crianças. Na de adultos foi exibido o documentário produzido pelo IBDD B1 Tenório em Pequim, contando e história do judoca cego, Tenório, em sua trajetória até Pequim. As sessões infantis exibiram o filme O sumiço da coroa em libras e audiodescrição, cedido pela Filmes que Voam, dando espaço para a criançada no Congresso de Acessibilidade, promovendo a acessibilidade cultural.
O surgimento de emoções também pôde ser sentido mesmo estando neste ambiente virtual, como observa a idealizadora do Congresso: “Foi maravilhoso ver como a cada palestra as pessoas iam manifestando seus sentimentos, como aquele conteúdo estava mudando sua vida, sua visão, seu trabalho. Outra coisa que me emocionou muito, foram as crianças postando nos chats e fóruns como gostaram do filme e como era bom poder assistir sozinhos (sem ajuda), como seus coleguinhas”.
Empresas, instituições de ensino e de apoio, órgãos governamentais, diversas divisões de Secretarias de Estado e Município, instituições do sistema S (Senac, Sebrae, Senai, Sesi e Sesc) concederam apoio ao evento online, assistindo, veiculando para seus colaboradores, alunos e associados, participando, interagindo e divulgando. “Foi uma comoção nacional”, ressalta Dolores.
Além da mobilização em todo o Brasil, o Congresso de Acessibilidade contou com grande audiência em Portugal e outros países de língua portuguesa como Angola, além da presença de países vizinhos assistindo ao Congresso, como Argentina, Chile e Paraguai. Mas tivemos ainda, países em outros continentes, como EUA, Canadá, China, Japão, Tailândia e muitos outros.
A reexibição do 1º Congresso de Acessibilidade proporcionou, de modo efetivo, a percepção de que a inclusão precisa ser levada em discussões no âmbito municipal, estadual e federal, principalmente no que tange à educação, como ressalta a participante do Congresso de Acessibilidade Elisabeth, que é educadora no Rio de Janeiro e ministra aulas na educação básica: “Agora me sinto mais preparada para lidar com alunos com deficiência em sala de aula. Neste Congresso, descobri diversas formas de adaptar o currículo para os alunos, materiais que eu mesma posso desenvolver, que tecnologias gratuitas posso utilizar e como sensibilizar os pais, a escola e a comunidade no entorno para a importância da educação inclusiva. Muito obrigada, Dolores, por ter me proporcionado tudo isso.”
Com o intuito de transformar vidas e quebrar preconceitos, o Congresso de Acessibilidade mostrou que cumpriu com seus objetivos, acredita Dolores Afonso: “Educadores dizendo como estão conseguindo mudar a vida e o aprendizado de seus alunos com adaptações simples; pais que conseguiram tornar a vida de seus filhos melhor e também as suas próprias; pessoas com deficiência que afirmam entender melhor seus direitos e como buscar sua inclusão na sociedade de forma digna; empresas que se tornaram mais capazes de incluir e de ter uma equipe realmente inclusiva, que usa a diversidade como ferramenta de melhoria e não como base para preconceitos e barreiras; entre outros”, enumera, diante de tantos feedbacks positivos recebidos após o término do Congresso.
Dolores Affonso é coach, palestrante, consultora, designer instrucional, professora e idealizadora do Congresso de Acessibilidade (www.congressodeacessibilidade.com).