Nesse mês, são comemorados os 25 anos de promulgação da Convenção Internacional de Direitos de Crianças e Adolescentes, tratado estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU). A data é importante e merece reflexão pela sua amplitude, no que tange os direitos de crianças e adolescentes também frente ao consumismo. “Nessa época de Natal e festas de fim de ano, ao presentear, vale a pena incentivar a doação de brinquedos e também começar a ensinar sobre os aspectos de sustentabilidade que podem ser incluídos, principalmente, nesse período do ano”, diz o pediatra Sylvio Renan, da MBA Pediatria e também membro da Sociedade Brasileira de Pediatria.
O médico explica que hoje os presentes podem figurar em diversas categorias, entre o útil e o fútil, o prioritário e o desnecessário, e, com isso, cada um insere, em seu meio, novos paradigmas. “Não é fácil mudar atitudes de uma hora para outra. Mas pensar em presentes sustentáveis ou fazer doações de brinquedos que já não têm mais uso são aspectos que podem contribuir também na formação ética, moral, mental e social de nossas crianças”, explica Renan.
Se a criança não utiliza um brinquedo por um determinado tempo, às vezes, até por meses ou até mesmo anos, isso indica que ela perdeu o interesse e/ou o encanto por ele. Enquanto isso, no Natal, milhares de crianças aguardam todos os anos algum brinquedo novo. Ainda que não seja exatamente “novo”, traz sempre uma novidade: a sensação de experimentar algo que nunca se viu, a que nunca se teve acesso.
Nesse processo, algumas práticas têm dado certo, como a ‘produção’ de brinquedos pela própria criança, e a confecção de jogos lúdicos (e, certamente, não eletrônicos), por exemplo. Ao mesmo tempo, o incentivo à doação de brinquedos pode ensinar mais sobre questões como compartilhamento, sociabilidade e caridade.
“A prática da produção de brinquedos, seja para si próprio ou para presentear, também visa brecar o consumismo exagerado, que vem numa crescente desenfreada”, aponta o médico.
A freada no consumismo faz sentido, e vem ao encontro das propostas da sociedade civil, de entidades e organizações de defesa dos direitos de crianças e adolescentes, que debatem há tempos as relações de consumo nessas faixas etárias.
Embora as crianças estejam sempre mais suscetíveis, também os adolescentes ainda estão em um estágio de desenvolvimento emocional e cognitivo, sem terem completado os seus mecanismos de defesa, portanto mais vulneráveis aos apelos mercadológicos. Pelo menos até os 12 anos de idade, a criança ainda não tem como se proteger da publicidade. “O cérebro ainda está em formação sob o ponto de vista crítico e isso gera uma influência em diversos aspectos, não só quanto ao consumo, mas também em questões como saúde, em especial a obesidade, e mesmo a erotização precoce”, explica o médico da MBA Pediatria.
Do ponto de vista da sustentabilidade, vale explicar às crianças que nossas fontes não são inesgotáveis. Se por um lado há uma sensação catastrófica, por outro, até mesmo as mudanças climáticas podem se tornar um catalisador para atitudes mais positivas de nossas crianças. Segundo diversos pesquisadores sérios, as reservas do planeta estão se esgotando e o consumo exagerado não contribui em nada para melhorar essa situação. “Ao ajudar as crianças a pensar no tipo de material que foi produzido o presente ou incentivá-las à doação, estaremos incutindo nelas questões como caridade e sustentabilidade. É uma fórmula simples: recriar agora para merecer um mundo melhor depois”, finaliza Sylvio Renan.