Se antes os bancos privados só ofereciam o financiamento imobiliário quando a obra já estava em andamento, essa regra tende a mudar. O Santander firmou parceria com a construtora MRV para disponibilizar, em um projeto piloto, uma linha de crédito para imóveis ainda na planta, sistema que só era usado pelo Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. A mudança garante uma maior segurança para todos os envolvidos. Com o dinheiro do financiamento garantido, tanto construtoras quanto clientes ficam mais assegurados para seguir com a obra e com a compra do imóvel, respectivamente. Desta forma, evita-se que aconteça o distrato, ruim para as duas partes.
Antes os clientes – de uma forma geral os que não estavam enquadrados no programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) – precisavam pagar uma parte do imóvel diretamente para a construtora durante a obra, percentual que funcionava como uma entrada. Depois disso, na hora da entrega das chaves, era preciso fazer a contratação do financiamento para pagar o saldo devedor. “A questão é que o cliente que comprou o imóvel está em um determinado momento de sua vida e lá na frente, quando vai pegar o financiamento, já está em outro. Isso gerava problemas porque às vezes ele não conseguia o crédito. Acabava resultando no distrato ou na morosidade e a construtora ficava sem receber e o cliente sem as chaves”, avalia Thiago Melo, vice-presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Pernambuco (Ademi-PE) e diretor da Porto Engenharia. O distrato, inclusive, tornou-se menos atrativo para os clientes com a aprovação da lei em dezembro passado, que estabelece multa de 50% do valor já pago do imóvel.
Para Thiago Melo, existia um receio de os bancos privados operar nesta modalidade. “Se acontecesse algum problema com a construtora ou algum risco na construção, os bancos não queriam assumir. Mas agora eles entenderam que esse risco é baixo, quando as construtoras recebem o financiamento para uma obra é para construir mesmo”, explica. Além disso, o crédito habitacional pode servir como porta de entrada para os clientes nas instituições financeiras. “Esta é uma porta de entrada para a carteira de clientes e o banco já identifica que o risco de uma obra dar problema é muito baixo diante do benefício que pode gerar”, acrescenta o vice-presidente da Ademi.
Impulso
A novidade, aliada à expectativa de uma retomada do crescimento da economia em 2019, promete impulsionar os lançamentos que usam os recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). “Já existia uma expectativa de aumento de lançamentos com a melhora da economia. Existe uma oferta reprimida e agora com essa ideia do repasse do banco durante a construção traz mais tranquilidade para todos. O SBPE pode se tornar algo tão atrativo quanto o Minha Casa Minha Vida”, afirma Thiago Melo.
Segundo Alessandro Almeida, diretor regional da MRV, a construtora estima trabalhar com imóveis em torno de R$ 200 mil a R$ 250 mil, um pouco acima do programa MCMV. “Hoje estamos muito alavancados no MCMV, temos imóveis nas faixas 1,5 e 2 em Pernambuco e zeramos o estoque da primeira. Com a entrada do Santander neste projeto, chancelou a nossa ida para o SBPE”, ressalta. O projeto piloto do Santander com a MRV, inicialmente, estará disponível para Salvador, na Bahia.
Série de lançamentos programada para Pernambuco
A MRV está com boas expectativas para este ano e já tem uma série de lançamentos programados para este ano em Pernambuco. Além dos imóveis enquadrados no programa Minha Casa Minha Vida, foco da construtora no estado até então, a MRV já prevê disponibilizar produtos do SBPE, o que deve acontecer em 2020. A ideia é ampliar o portfólio da empresa em Pernambuco, mercado considerado de extrema importância para a MRV.
De acordo com Alessandro Almeida, diretor regional da MRV, há a previsão de lançar um produto no início de marco em Caruaru, com 208 unidades, além da continuidade de um lançamento em Jaboatão dos Guararapes, com a disponibilização de mais 400 unidades. “Para o segundo semestre, temos previstos mais quatro lançamentos, somando mais 1.300 unidades”, acrescenta. Todos esses empreendimentos estão enquadrados no MCMV.
Os primeiros lançamentos inseridos no SBPE devem acontecer no próximo ano, o que deve incrementar a velocidade de vendas da MRV em Pernambuco. “No Grande Recife, temos uma venda média de 130 unidades por mês, número que poderia chegar a 230 se tivéssemos estoque. Se levar em consideração o estado, incluindo Caruaru, as vendas médias são de 160 unidades por mês, mas poderia atingir 250 se houvesse disponibilidade”, detalha Alessandro Almeida.
Para o diretor da MRV, o mercado pernambucano é excelente para a construtora. “A gente cresce 40% em relação ao ano anterior no estado. A gente só não é melhor porque precisamos de terrenos para abastecer. Ainda não expandimos mais para outras regiões do estado porque precisamos ter pujança primeiro e fechar o gap na Grande Recife para depois pensar nesta expansão”, conclui.
Diario de Pernambuco