Por Menelau Júnior
O aplicativo Secret, criado na Califórnia em janeiro deste ano, chegou ao Brasil em junho e, agora, foi proibido pela justiça. Por meio dele, seus usuários podiam postar, sob um suposto anonimato, o que bem entendessem. Nem é preciso dizer que o Secret se tornou, no Brasil, um instrumento a serviço da covardia e do mau-caratismo. Pessoas passaram a ser difamadas, insultadas e caluniadas por gente que simplesmente se sente no direito de escrever o que pensa – se é que essa gente pensa…
A proibição judicial já fez com que o Secret fosse retirado de algumas lojas virtuais. Em delegacias especializadas em crimes virtuais, ele foi o centro das atenções este mês. E para aqueles que escreveram o que veio à cabeça, uma péssima notícia: hackers americanos “quebraram” o sigilo do Secret e prometem espalhar pela internet a forma de saber quem escreveu o quê. Os adolescentes brasileiros que aderiram à moda e praticaram bullying cibernético da pior espécie já devem se preocupar.
Não é a primeira vez nem será a última que as novas tecnologias são usadas a serviço de intrigas e crimes de toda natureza.
Mas condenar o aplicativo é uma forma tão burra de pensar quanto achar que a violência no trânsito é reflexo da potência dos carros. O problema é a índole do indivíduo, sua educação, sua percepção de membro da sociedade. Esconder-se atrás do (suposto) anonimato para caluniar, difamar, injuriar, propagar preconceitos e praticar outros crimes é prova de covardia, de mau-caratismo, de perversão. Pessoas inteligentes discutem ideias; aos maldosos resta a satisfação de falar da vida alheia.
Como sociedade global, ainda estamos aprendendo a lidar com a internet. Do ponto de vista ético, precisamos evoluir muito. Mas, claro, isso só se consegue com educação. E, quando falo em educação, não estou me referindo apenas a escolas de péssima qualidade, que servem muito mais como depósito de crianças e adolescentes do que centros de formação intelectual.
O papel da família é imprescindível na busca por cidadãos mais íntegros. O Secret, não é segredo para ninguém, já está com os dias contados. Mas deve deixar uma lição a todos nós: é o que fazemos e dizemos quando ninguém nos vê que revela, de fato, quem nós somos. Entre frases engraçadas e futilidades do dia a dia, o Secret também trouxe a vergonha e a humilhação públicas. Que os covardes paguem pelo que escreveram. Numa democracia civilizada, não se pode – nem se deve – confundir liberdade de expressão com covardia anônima.
Menelau Júnior é professor de língua portuguesa.