Coluna: Educação: as pedras no meio do caminho

Por Menelau Júnior

Divulgado no início do mês, o resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) revelou uma realidade que expusemos neste espaço há algumas semanas: o ensino médio no Brasil é desastroso. Em 16 estados brasileiros, a meta do governo não foi alcançada. E, diga-se de passagem, as “metas” são notas na casa dos 4 pontos. Parece piada: o Brasil está lutando para ter uma nota quatro.

Os números oficiais também mostram que, nos anos iniciais do ensino fundamental, as metas estão sendo cumpridas. Mas a partir do 6º ano os problemas se intensificam. No 9º ano, quando os alunos terminam o ensino fundamental, o rendimento deles já está bem abaixo do esperado. Quem vai segurar a “bomba”? Os professores do ensino médio, claro. Recebem alunos incapazes de entender um texto, sem conhecimentos mínimos em matemática e “viciados” em aprovações que envergonhariam qualquer aluno medíocre de países desenvolvidos.

É importante salientar, claro, que o Ideb – assim como o Enem – não deve ser o único meio para considerar melhorias na educação, mas é um indicador. Fatores como tempo que o aluno passa na escola, realidade sociocultural e econômica devem ser levados em conta. A formação dos professores também. Aliás, aí está outro problema: a cada ano cai o número de alunos que ingressam em cursos de licenciatura. O caso mais grave é o do curso de Letras, que teve uma diminuição de 13% no número de matrículas entre 2012 e 2013. Resumindo: professores formam juízes, advogados, engenheiros, médicos, jornalistas. Mas os jovens não querem ser professores.

Caiu também, pela primeira vez nos últimos 10 anos, o número de alunos que concluem um curso superior. A redução ficou em torno de 5%. Mas o ministério da Educação comemorou o aumento no número de matrículas, que foi de 3,8%. Em outras palavras, para o governo o importante é dizer que os alunos estão chegando à universidade. Se vão sair, isso é um problema deles.

E não é preciso pensar muito para entender porque está caindo o número de formandos do ensino superior: muitos chegam à universidade sem hábitos de estudos, sem conhecimento necessário e precisando trabalhar. As médias que permitem aprovação em muitos cursos ficam abaixo de 3,0. Ou seja, há uma “bola de neve” na educação brasileira: os alunos saem muito ruins do ensino fundamental, ficam ainda piores no ensino médio e são jogados nas universidades. Pesquisa feita no Distrito Federal revelou que 50% dos alunos que terminam um curso superior são analfabetos funcionais – não conseguem entender um texto mais complexo, mesmo em sua área de atuação.

No Brasil da propaganda governamental, basta falar em construção de universidades, em programas de financiamento para que boa parte acredite em reais avanços. É o populismo desavergonhado a serviço da mediocridade. Há muitos cursos de universidades públicas sem alunos, sem estrutura adequada, sem professores assíduos. Enquanto isso, de cada R$ 100 arrecadados no Brasil, R$ 57 ficam com o governo federal, R$ 25 com os 26 estados e o Distrito Federal e apenas R$ 18 com os 5.700 municípios.

Aos estados e municípios cabe a educação básica, área em que está o grande problema da educação brasileira – o número de alunos é infinitamente superior aos da educação superior e a verba é infinitamente menor. Sem resolver o problema na base, oferecendo escolas com infraestrutura decente, com professores bem-remunerados e motivados, precisaremos maquiar as universidades para dizer que estamos avançando na educação. E o pior: precisaremos de metas ridículas para justificar esse avanço.

Menelau Júnior é professor de português

OPINIÃO: Instrumentação cirúrgica: quem paga esta conta?

Por CADRI MASSUDA*

Nos últimos anos, a instrumentação cirúrgica vem situando-se como peça importante na equipe para a realização de procedimentos médicos. Apesar de ter alcançado este reconhecimento, ainda há muito o que ser ajustado.

Assim como cresce o trabalho deste profissional na equipe, os problemas em relação a ele têm aumentado, principalmente porque não há ainda uma forma adequada de remuneração. As tabelas de honorários médicos (CHPM ou AMB) que são adotadas pela maioria dos convênios médicos, não contemplam estes pagamentos.

Há alguns anos atrás, a Associação Médica Brasileira tentou normatizar, indicando que o valor deveria ser de 10% do valor da cirurgia. Entretanto, há uma insatisfação do profissional quanto a estes valores, pois em alguns casos é uma remuneração não condizente com o trabalho realizado e isto faz com que ninguém o pratique.

Essa ausência de regulamentação resulta em grandes discrepâncias de cobranças e falta de padronização. Alguns exigem pagamento antes do procedimento, outros permitem que seja após. Em determinados casos, o médico recebe os honorários referentes à instrumentação, em outros, é o hospital. E os valores variam de forma absurda: há profissionais que cobram até 400% a mais do que outros.

Muitas vezes, cirurgias são desmarcadas ou adiadas porque o paciente – segurado de um plano de saúde – não acha justo este pagamento. E então, ocorre o conflito “instrumentador x segurado x plano de saúde”. Na maioria dos casos, o beneficiário realiza o pagamento para depois ser reembolsado pelo convênio.

Entretanto, a falta de regulamentação prejudica a todos os envolvidos neste processo: operadoras de planos de saúde que não podem contar com a uniformidade dos valores cobrados, os próprios instrumentadores que não têm legislação que garanta seus direitos e pacientes, que precisam arcar com despesas obrigatórias mesmo contando com plano de saúde.

É necessário que ANS, associações médicas e entidades de classe que representam os profissionais de instrumentação cirúrgica entrem em acordo para que a lacuna seja preenchida e que haja regulamentação. Assim, as operadoras de saúde poderão fazer o pagamento devido a esses profissionais que são fundamentais na rotina médica e os pacientes poderão ficar tranquilos de que não terão despesas extras na hora de realizar um procedimento cirúrgico.

*Cadri Massuda é presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo Regional Paraná e Santa Catarina

Opinião: Cadê o sotaque?

Por Menelau Júnior

Nos últimos dez dias, os programas jornalísticos deram uma atenção especial ao Rio Grande do Sul por causa de um episódio envolvendo a torcida do Grêmio. Não deve ter sido difícil perceber a pronúncia diferente dos jornalistas de lá quando usam palavras com a letra “r” no fim de alguma sílaba. “Porta”, “corpos” e “marcas” são apenas algumas.

O “r” pronunciado à moda sulista recebe o nome de “retroflexo”. É bastante comum também no interior de São Paulo. Quando um morador dessas áreas é entrevistado, logo se percebe a pronúncia “enrolada” da letra “r”. Mas por que normalmente os jornalistas tendem a não apresentar essa marca regional de forma tão contundente?

A resposta é simples: porque a maioria das redes de televisão tenta, com a ajuda de fonoaudiólogos, extirpar qualquer marca de regionalismo dos repórteres. Para muitas dessas redes, o “r” retroflexo é visto como algo “caipira”, “matuto”. Mudar a pronúncia é, pois, uma exigência para estar no ar em rede nacional.

O resultado, muitas vezes, soa esquisito. É estranho para um gaúcho ouvir um conterrâneo que fala sem as marcas linguísticas da região. No Rio, as TVs retiram o “s” chiado; no Nordeste, evita-se a fala meio “cantada”.

A intenção, óbvio, é uniformizar a língua. Vã tentativa. O idioma muda invariavelmente. Querer que  repórteres falem da mesma forma de norte a sul é como querer que todos os brasileiros pensem do mesmo jeito e tenham os mesmos hábitos. Esses falares regionais, que são marcas identitárias do povo, só aparecem na TV de forma estereotipada, principalmente no caso dos nordestinos.

A língua muda conforme suas próprias necessidades. As variações, muito mais que marcas de desorganização, constituem a base de todas as línguas, conferindo-lhes riqueza e soberania. As tentativas de uniformizar os falares são, portanto, artificialidades que a nada levam e que em muito prejudicam a identidade do povo. Mais importante que retirar à força as marcas regionais dos jornalistas seria dar-lhes autonomia para dar às reportagens a “cara” de cada região. E isso está intimamente ligado à forma como falamos.

Menelau Júnior é professor de língua portuguesa.

OPINIÃO: Os deficientes também precisam se divertir!

Por DOLORES AFFONSO*

Muito se fala na empregabilidade da pessoa com deficiência, na educação inclusiva, na sexualidade, na acessibilidade e mobilidade urbana, no acesso à saúde e até nas adaptações veiculares. Vemos a todo momento notícias sobre o desrespeito aos direitos das pessoas com deficiência mas, muitas vezes, nos esquecemos de que são seres humanos e possuem desejos, necessidades, medos e alegrias como qualquer outra pessoa. Somos assunto, tema de debates, passeatas e de tratados internacionais, mas queremos ser mais do que isso!

Já diziam os Titãs: “Você tem fome de quê? A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte!”. Sim, queremos acesso também ao esporte, à cultura, ao turismo e ao lazer. Os deficientes também precisam se divertir! Para se ter uma vida plena, é fundamental que isso aconteça.

Ainda há muito o que se fazer quando falamos em esporte adaptado. Não me refiro aqui somente ao esporte na escola ou nos centros e clubes esportivos. Sabemos que precisam ser revistos e investimentos devem ser feitos para que ofereçam a prática real do esporte e possam receber e promover a inclusão pelo esporte. Também não estou me referindo ao esporte profissional ou olímpico, pois é notória a capacidade dos deficientes; basta observarmos as paraolimpíadas e os grandes esportistas que temos no Brasil e no mundo. Na última olimpíada vimos, inclusive, deficientes competindo com pessoas sem deficiência como o sul-coreano Dong Hyun Im, de 26 anos, deficiente visual (baixa visão), que competiu no tiro com arco.

De uma forma geral, é preciso reconhecer a importância do esporte não somente como caminho para a reabilitação, mas como fonte de prazer, diversão. Isso inclui todos os tipos de atividades, artes marciais, esportes radicais etc. Muitas pessoas acham que, por sermos deficientes, não podemos praticar tais esportes. Bom, eu mesma já fiz arvorismo e mergulho e conheço vários deficientes que praticam surf, canoagem, escalada etc.

Outro ponto importante se refere ao turismo. É fundamental que haja rotas turísticas com adaptações, empresas especializadas e cidades preparadas para receber e atender, com qualidade, pessoas com deficiência, tanto nos hotéis e restaurantes, como nos passeios e demais eventos. Como, por exemplo, a cidade de Socorro, em São Paulo, premiada até por órgãos internacionais. Não é perfeita, é verdade, mas está no caminho certo!

Governantes, empresários e a sociedade em geral precisam se dar conta de que as pessoas com deficiência são cidadãos, contribuintes, consumidores e clientes como qualquer um. Viajam, apreciam a gastronomia, o teatro, o cinema, a música e a dança como qualquer pessoa.

Neste contexto, devemos ter atenção aos diversos tipos e opções de lazer, desde o cultural, ou seja, oferecer salas de cinema, peças teatrais, espetáculos, exposições etc. acessíveis, até os mais comuns, como passeios pela natureza e pela noite, como bares, boates etc.

Todos os espaços precisam ser acessíveis. Isso é bem difícil de se ver por aqui. No Brasil, é raro encontrar um museu onde haja possibilidades de um deficiente visual tocar as peças para conhecê-las ou ter audiodescrição das obras expostas, além da falta de acessibilidade física já conhecida nos espaços culturais.

No Congresso de Acessibilidade, evento gratuito e online com mais de 30 palestras e entrevistas que ocorre de 21 a 27 de setembro, discutiremos estes temas como forma de promover a qualidade de vida e a inclusão da pessoa com deficiência na sociedade. Participe! Dê sua opinião!

*Dolores Affonso é coach, palestrante, consultora, designer instrucional, professora e idealizadora do portal Congresso de Acessibilidade.

OPINIÃO: Por que Marina?

Por CRISTOVAM BUARQUE*

Porque o modelo do país dos últimos 20 anos se esgotou. Seus quatro pilares, que atravessaram os governos do PT e do PSDB coadjuvados pelo PMDB, entraram em fadiga.

A democracia do fisiologismo, da falta de princípios e ética, do caos partidário, já não satisfaz e o povo mostrou isso nas ruas.

A estabilidade monetária está ameaçada pelo descontrole nos gastos públicos e pela incerteza dos pacotes e da administração de preços. As transferências de renda não criaram portas de saída.

O crescimento econômico se apequenou e não mudou a cara do PIB que continua baseado em bens primários. E porque ela traz confiança e esperança.

Confiança de responsabilidade com a gestão econômica ao defender o Banco Central independente e o tripé da estabilidade fiscal. Certeza de que não haverá retrocesso nos avanços sociais, desde a transferências de renda enquanto forem necessárias, passando pelas cotas e os reajustes do salário mínimo acima da média dos salários.

Esperança de uma nova forma de diálogo com os políticos. Embora isso possa trazer riscos em um quadro onde as lideranças se acostumaram em vender apoio de forma fisiológica e corrupta, não é mais possível adiar esta nova postura na gestão pública.

Esperança na construção de mecanismos para libertar as populações pobres da necessidade de assistência. Assegurar que enquanto uma família precisar, receberá bolsas, mas o governo não descansará enquanto uma família ainda precisar delas.

Esperança na possibilidade de uma inflexão no modelo de desenvolvimento em direção não apenas à retomada do crescimento, mas também na construção de um novo perfil para o PIB, reorientado para bens e serviços modernos de alta tecnologia, e com sustentabilidade ecológica.

Convicção de que o vetor central para este novo tempo será a realização do sonho de Eduardo Campos resumido na frase que ele disse e repetia de que o Brasil só será um país como desejamos quando os filhos dos pobres estudarem nas mesmas escolas em que estudam os filhos dos ricos.

*Cristovam Buarque é professor da UnB e senador pelo PDT-DF

Opinião: Cinema, Caruaru e festival.

Por Daniel Finizola

É impressionante a dimensão que o cinema atingiu enquanto arte e produto cultural ao longo do século XX. Seu poder influência comportamentos e potencializa a indústria cultural em todo mundo. Basta o filme do Capitão América chegar nos cines dos shoppings de todo Brasil, para indústria de brinquedos, alimentos, roupas passarem a reproduzir as cores e o escudo dos Capitão América em seus produtos. Esse é o poder da indústria cultural. Tema amplamente debatido pela escola de Frankfurt em meados do século XX a partir de reflexões sobre a chamada “arte mercadoria”.

Mas o cinema é uma arte extremamente plural. Cheia de gêneros, formas cores, diálogos e sons. Para muitos o chamado “cinema arte” é chato. Nada explode, não tem necessariamente um herói e não há alienígenas de Marte. Esse é o modelo de cinema hollywoodiano de roteiros viciados. Não é preciso bola de cristal para saber o que vai acontecer no final. São filmes que não estimula a criticidade nem a criatividade, apenas reproduz um modelo Romântico do herói que vai salvar um mundo! Lógico que isso não é regra no cinema Norte Americanos.

Há vários diretores, roteiristas e atores em hollywood que presentearam o mundo com obras fantásticas. O Poderoso Chefão, Amadeus, Little Miss Sunshine, Forrest Gump são filmes que vão além daqueles roteiros que já deduzimos o final ao ver o trailer.  Recentemente O Lobo de Wall Street de Scorsese me chamou atenção.

Para os que gostam e querem entender melhor o cinema seus gêneros e variáveis eu vou dar um dica. Não deixe de acessar o blog caruaruense “Identidade Cinéfila”. Uma iniciativa do jornalista Bruno Cunha e da estudante Paula Lucatelli. Os dois são apaixonados por cinema e procuram mostrar todo a diversidade que envolve a sétima arte. Logo de cara você pode aprender um pouco sobre as diversas correntes cinematográficas e suas contribuições.

Já que estamos falando de cinema, não posso deixar de citar o Festival de  Cinema de Caruaru. O evento surge com o incentivo da Fundarpe para movimentar outra cena artistas caruaruense que vem ganhado destaque nos últimos anos. O Festival tende a estimular a interdisciplinaridade no campo acadêmica caruaruense. Curso como design, jornalismo, publicidade podem tirar grande proveito desse festival.

Consta na programação do evento atividade educativas que incentivaram a produção de filmes que retratem manifestações culturais locais. O festival terá como homenageado o ator Sebastião Alves (Sebá). Artistas que sempre se dedicou em propagar a cultura popular. As inscrições já estão abertas e segue até dia 10 de outubro. O Festival será realizado nos dias 18, 19 e 20 de novembro.

Mais informações acesse o blog do festival.

Blog Identidade Cinéfila: http://identidadecinefila.wordpress.com

Blog do Festival: http://festivaldecinemadecaruaru.wordpress.com

 

@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br

Opinião:Assassinos por natureza

Por Menelau Júnior

O diretor Oliver Stone é responsável por uma pequena obra-prima do cinema americano: “Assassinos por Natureza”. O longa, de 1994, mostra a trajetória de um casal apaixonado que sai praticando todo tipo de crime nos Estados Unidos. Mickey e Mallory viram atração da imprensa sensacionalista, e o repórter Wayne Gale (Robert Downey Jr.), o principal responsável, os coloca num programa de televisão. Stone, claro, usa o exagero para fazer uma dura crítica à imprensa sensacionalista, bem como à atração mórbida que temos pela desgraça alheia.

Quando algum jovem perturbado entra numa escola americana matando professores, colegas e depois praticando suicídio, os infantiloides brasileiros logo apontam o dedo para a “doente sociedade americana”, que “fabrica jovens suicidas aos montes”. Seriam eles os assassinos por natureza?

Esse discurso antiamericano e falacioso, normalmente de cunho político (sim, nossos antiamericanos são sempre os mesmos admiradores de assassinos como Fidel e Che), não resiste a comparações. Vamos a elas.

Os Estados Unidos têm 300 milhões de habitantes e uma média de 20 mil assassinatos por ano. Lá, quase toda casa tem arma de fogo. O Brasil tem 200 milhões de habitantes (ou seja, 33% a menos), mas nos matamos a 150 por dia (ou seja, três vezes mais que a média americana) – o que dá mais de 50 mil crimes por ano. E isso porque o porte e a posse de armas são muito restritos aqui no país.

Não é apenas assim que nos matamos. O nosso trânsito é outra vergonha. São mais de 40 mil mortos por ano – muito mais do que qualquer guerra entre Israel e os terroristas do Hamas. Com a popularização das motocicletas – e de alguns motociclistas suicidas – , esse número só cresceu. Uma visitinha ao Hospital Regional, por exemplo, vai revelar a “epidemia” de amputados e mortos por causa do veículo de duas rodas. Temos condições de comprar os veículos; o que nos falta é civilidade, respeito, prudência.

Há outros fatores. Nos Estados Unidos, 90% dos crimes são elucidados. No Brasil, esse número não chega a 20%. Nos Estados Unidos, assassinos podem pegar prisão perpétua ou pena de morte. Lá, eles ficam presos. No nosso inferno tropical, mata-se por cinco reais, por um botijão de gás, por nada. Aqui, não se poupam crianças, idosos, mulheres grávidas. Aqui, assassinos, quando presos, recebem indulto e comissões de direitos disso e daquilo. As vítimas recebem enterro.

No nosso “mundinho civilizado”, não podemos chamar de “bandido”, “criminoso” ou “assassino” aquele que tem 17 anos e atira no rosto de um cidadão de bem que trabalha para colocar comida dentro de casa. Aqui é “menor infrator”. E se tiver menos de 12, não é nada.

Faz algum tempo acreditava-se que o Brasil era um país cordial. Nosso povo gosta dos rótulos de “povo alegre”, “hospitaleiro”, “feliz”. Todos esses adjetivos são pura hipocrisia. Os números não deixam que as palavras mintam: somos selvagens, violentos, insanos. E vítimas da hipocrisia de quem defende criminosos em nome de uma humanidade que não temos…

Menelau Júnior é professor de língua portuguesa.

OPINIÃO: Globalização e a desvalorização docente

Por ALEXEI ESTEVES*

Sabe- se que a globalização é um processo por meio da qual todo o planeta está interligado, ou seja, nenhum país consegue viver, atualmente, sem que mantenha relações com outros países, portanto é a partir disso que o presente artigo vem mostrar de forma bem clara e sucinta de que forma se deu o processo de globalização no Brasil,ou seja, a partir de qual momento o Brasil permitiu que outras nações do globo terrestre pudessem entrar em seu território com o intuito de melhorar as relações comerciais entre os mesmos e, como ele se desenvolveu ao longo dos anos. É sabido, também, que o Brasil é um país de diferentes culturas, então, este trabalho vem mostrar também de que forma se da a relação do Brasil com os outros países do globo terrestre, e, de que forma a cultura desses países acabam influenciando o Brasil na formação da sua identidade educacional, como também de que forma a globalização afeta a economia brasileira, pois, com a chegada de grandes multinacionais cresce o número de pessoas que poderão adentrar ao mercado de trabalho, como também muitas outras pessoas correm o risco de serem demitidas, isso se dá porque, com o avanço da tecnologia muitas pessoas não estarão preparadas para um mercado de trabalho que cada vez mais necessita de pessoas capacitadas para desempenhar determinadas funções.

Analisar os limites de uma possível ampliação da introdução de novas tecnologias no ambiente escolar, tanto no que diz respeito à sua gestão como às práticas especificamente educativas, sobretudo tendo em consideração as possibilidades contraditórias de essas mesmas tecnologias poderem agravar ou atenuar as desigualdades educacionais.Pois,é necessário valorizar o salário do professor de forma global,para que este venha a ter condições humanas de construir uma aula melhor.No entanto,sem patrimônio material,que é um redimento justo,não se pode criar um patrimônio imaterial,que é o conhecimento.Portanto o sistema econômico para fazer justiça ao que diz,terá em sua missão iniciar como processo transformador,supervalorizar o trabalho docente.

Estamos vivendo um momento ímpar: a vitória do capitalismo em termos mundiais e o consequente aprofundamento das graves contradições que o acompanham. O contraponto fornecido pelo socialismo real desapareceu e liberou o capitalismo para atuar soberanamente. Marx referindo-se à capacidade criadora da humanidade mantida sob o comando do capital, afirma ser a tecnologia potencialmente muito mais destrutiva na época do capitalismo tardio (a nossa época). Isso se justifica pelo fato de a potência técnica da própria humanidade já estar mais desenvolvida.A previsão de Marx: “Dependendo de quais forças sociais predominem, essa potência técnica expandida pode ser colocada a serviço da liberdade (com a abolição do trabalho físico, cansativo, mecânico e alienado) ou da destruição (com a escalada do desemprego e da guerra)”.

Não é possível avaliar objetivamente o quanto nos damos conta deste dilema e das implicações dele em um mundo que virtualizou de forma sem precedentes o próprio processo de acumulação de riqueza. Estaríamos diante de uma realização cabal das possibilidades capitalistas que anunciariam seu esgotamento ou sua superação? Que opções devem ser construídas diante dos supostos impasses (ou do esgotamento) da modernidade e das propostas pós-modernas? Qual o papel das tecnologias da informação neste contexto? Quais demandas têm sido apresentadas à educação escolar pela reestruturação produtiva, pelas estratégias da política neoliberal e como essas demandas têm se manifestado na profissão docente em meio às crises econômicas (recessão, desemprego, pobreza ampliada, abandono da proteção social etc.)? Estaríamos diante de uma maior intensificação e precarização do trabalho docente? Quais as consequências para a formação do professor e para a sala de aula? Enfim, como podemos pensar o futuro do trabalho docente sem perder a dimensão do momento crucial que estamos vivendo?

Coloca-se à disposição do leitor um conjunto de reflexões que ajudarão a analisar e interpretar a realidade do trabalho docente hoje. Esta é uma tarefa urgente. Não é solução para nossos problemas olharmos para trás e cobrarmos nossos clássicos por não terem se referido ao nosso presente. Eles fizeram a interpretação do seu tempo. Cumpriram sua tarefa. Agora compete a nós (e não a eles) a permanente atualização das categorias, a produção do novo, a interpretação das novas realidades e a luta pela sua transformação.

*Alexei Esteves é professor doutor em educação

OPINIÃO: O dia que Pernambuco parou

POR RAFFIÊ DELLON*

Um dos maiores ícones da música brasileira, o saudoso baiano Raul Seixas, na sua canção composta no ano de 1977 junto ao compositor Claudio Humberto, narraria bem às últimas quarta e quinta-feira do solo pernambucano: “Foi assim, No dia em que todas as pessoas, Do planeta inteiro, Resolveram que ninguém ia sair de casa, Como que se fosse combinado e todo o planeta, Naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém”. Resultado de uma Greve da Polícia Militar junto com os Bombeiros, que geraram todos os tipos e níveis de debates, boatos e irresponsabilidades possíveis para o ser humano.

Do ponto de vista Constitucional, uma greve ilegal, a CF é direta no seu artigo 142: “Ao militar são proibidas a sindicalização e a greve”. Em períodos pré-eleitorais, nas vésperas do início de uma campanha que tende a ser uma das mais acirradas possíveis, nas duas esferas, não seria cabível na ótica histórica, que a greve encerrada na última noite, não tivesse “um braço” político-eleitoral, trata-se de Joel da Harpa, suplente de Vereador pelo PP na Câmara Municipal de Jaboatão dos Guararapes.

A greve quando é feita com foco construído na coletividade, com democracia plena, respeitando os princípios da nossa Constituição maior, é o pleno exercício dos valores democráticos, conseguidos depois de muita luta na rua, mas, quando o contexto envolve uma politicagem com finalidades apenas pessoais, resultando num estado de pânico e boataria que percorreu todos os 184 municípios do estado, não tem apoio civil que seja esperado. Perde a economia, perde os princípios humanos, perde a sociedade.

Diante de tudo que ocorreu nesses 2 dias, outro ponto que não podemos deixar de mencionar é a comprovação, de forma literal, da importância da Política (é com P maiúsculo mesmo) para o nosso cotidiano, e que é impossível, mesmo ainda rejeitada por muitos, fugirmos ou nos excluirmos dela. O debate sobre a Segurança Pública no Brasil deve ser um ponto constante, já é de praxe o atual Governo Federal governar nas custas dos estados e municípios, a falta de uma lógica mais sensata no Pacto Federativo, faz com que 87% do que é investido nessa área, venha dos governos estaduais e municipais.

Levantamento da ONG “Contas Abertas” diz que os investimentos na Segurança Pública pelo Governo Federal entre 2011 e 2012, R$ 3,3 bilhões do montante autorizado para as aplicações no setor deixaram de ser investidos, em valores já atualizados pela inflação. Entre 2003 e 2012, R$ 7,5 bilhões deixaram de ser investidos na área. Já no ano passado, os investimentos em segurança pública continuaram em ritmo lento. Dos R$ 2,2 bilhões orçados pelo governo federal, apenas R$ 688,8 milhões foram efetivamente investidos em 2013. O valor representa apenas 30% do total liberado. Será que só devemos nos preocupar com a Segurança Pública em momentos de greve?

*Raffiê Dellon é presidente do PSDB de Caruaru

OPINIÃO: Com quantos planejamentos se faz uma prefeitura?

Por RAFFIÊ DELLON

Nos livros de administração, aprendemos que planejamento é um processo dinâmico e contínuo que consiste em um conjunto de ações integradas, intencionais, coordenadas e orientadas para tornar realidade um objetivo futuro, de forma a possibilitar a tomada de decisões antecipadamente. Essas ações devem ser identificadas de modo a permitir que elas sejam executadas de forma adequada e considerando aspectos como prazo, custos, qualidade, segurança, desempenho e outras condicionantes. Um planejamento bem realizado oferece inúmeras vantagens à equipe de projetos.

Nesse contexto, observamos, nos últimos meses, a deficiência explícita dessa palavrinha mágica que parece “não querer entrar” na praça Senador Teotônio Vilela, em Caruaru, nas dependências e filiais do Palácio Jaime Nejaim: planejamento. Se formos detalhar a máquina pública “executiva” caruaruense, hoje ela está assim: 16 secretarias (1º escalão) e oito autarquias. Máquina inchada, aparelhamento escancarado, secretariado sem identificação com o município e suas demandas, falta de autonomia dos titulares, em suma, uma zorra.

A temática gerencional da atual gestão não serve de modelo para nenhum iniciante de qualquer curso de administração ou, principalmente, naquela graduação com ênfase na administração pública. Num rápido comparativo, no município de Jaboatão dos Guararapes, população duas vezes maior que a caruaruense, o organograma enxuto do executivo se resume em apenas oito secretarias e quatro autarquias, num elo direto com o prefeito e com uma gestão sintonizada, em rede. Peter Drucker, um dos expoentes da administração moderna, era direto sobre liderar uma gestão: “Preparar-se para o inevitável, prevenindo o indesejável e controlando o que for controlável”.

Se formos falar da maior veia pulsante da economia local, a Feira de Caruaru, além dos caruaruenses ficarem sabendo da sua transferência pelo Diário Oficial, o Executivo reúne alguns dos seus comissionados para apresentar um projeto vazio, sem dados financeiros, sem expectativas de início ou conclusão, coisa para “inglês ver”. Já sobre a faraônica tal “revitalização” da avenida Agamenom Magalhães, é um mistério – obras sem transparência, valores exorbitantes, sem noção exata de como ficará no final e, o pior, num período que antecede as festividades juninas. O resultado? Economia local prejudicada com o impasse das tradicionais drilhas irreverentes do nosso município.

Uma Secretaria Extraordinária de Relações Institucionais que não dialoga nem com o Legislativo, uma Secretaria de Infraestrutura e Políticas Ambientais que não discute seu Plano de Resíduos Sólidos, que não discute uma política sustentável para a cidade, uma Secretaria de Planejamento e Gestão que, nem em conjunto com a URB e a Secretaria de Projetos Especiais, consegue “planejar” Caruaru para a Copa do Mundo, levando em consideração que o evento é em período junino e com jogos a 120 km desta cidade de Condé. Um Alto do Moura abandonado, jogado ao barro e em extinção da presença do poder público. Afinal, qual cidade nós queremos?!

* Raffiê Dellon é presidente do PSDB de Caruaru.