Pedro Augusto
Volta e meia, até que alguns casos acabavam sendo registrados, mas de uns tempos para cá, ou melhor, de 2016 para 2017, o volume de furtos e assaltos realizados nas áreas internas e externas das igrejas têm crescido a passos largos em Caruaru. Embora a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco não possua números reais a serem repassados sobre os dois tipos de crime em relação especificamente aos cenários descritos, basta consultar alguns fiéis que frequentam unidades católicas e evangélicas do município para concluir que a criminalidade anda rondando e aterrorizando bastante estes locais, que servem exclusivamente para difundir a palavra de Deus. De tantos episódios que poderiam ser destacados, a reportagem VANGUARDA decidiu optar por quatro para ilustrar a alarmante situação em que se encontram, atualmente, esses espaços.
O primeiro e o mais recente deles correspondeu exatamente ao assalto que foi registrado no último domingo (13), na Igreja Casa do Rei, no Bairro Divinópolis. Lá, o pastor José Carlos Sobral, que também é policial civil, chegou a se atracar com um bandido que estava armado. “Ele entrou, anunciou o assalto, depois começou a recolher os pertences dos seis presentes. Consegui rendê-lo, mas havia um comparsa lá fora, então decidi soltá-lo. Na fuga, ele tropeçou em uma das cadeiras e acabou derrubando o que tinha roubado. Por conta disso, decidi modificar os horários do cultos, ou seja, eles passarão a ser realizados um pouco mais cedo. Tenho fé em Deus que isso não vai mais acontecer”, disse o pastor.
No entorno da Igreja Congregacional Vale da Bênção, no Bairro São Francisco, a bandidagem também vem assustando os fiéis que estão em busca da palavra de Deus. “Desde o início da década de 80 que frequento esta igreja e posso lhe dizer com convicção de que jamais tinha presenciado uma situação tão preocupante conforme estou observando atualmente nas suas imediações. Devido à crescente onda de assaltos e furtos que vem ocorrendo com bastante constância desde o ano passado, a igreja precisou contratar profissionais de segurança para manter a ordem por aqui. Os fiéis até que têm se sentido seguros dentro da unidade, mas quando saem dos cultos, começa o Deus nos acuda. Marginais vêm roubando tudo que veem pela frente, como aparelhos celulares, bolsas, dinheiro etc”, lamentou a comerciante Rose Nóbrega.
Em bairros nobres da Capital do Agreste, como a Nova Caruaru e o Maurício de Nassau, a violência nas imediações de igrejas também vem aterrorizando não só fiéis, mas religiosos que tentam exercer as suas atividades. Por causa do acréscimo no número de assaltos e furtos na sua redondeza, a Capelinha São Sebastião, que fica no Maurício de Nassau, está fechando as portas tão logo as suas missas são iniciadas. “Nem as igrejas estão sendo mais poupadas pelos ladrões. Se não fosse essa medida implantada pelo padre Carlos Daniel, já teria deixado de frequentar as missas daqui. Melhor rezar em casa do que correr o risco de ser assaltada e até morta. A polícia diz que está nas ruas, mas não a vejo em canto nenhum. Tem padre que já perdeu o sossego de tanto medo que vem tendo da bandidagem. Alguma coisa precisa ser feita urgentemente!”, criticou uma aposentada, que preferiu ficar no anonimato.
Instalada na Nova Caruaru, mais precisamente integrando o complexo da Praça Prefeito Drayton Jaime Nejaim, a Igreja Nossa Senhora das Graças passou por maus bocados em março do ano passado, quando uma noiva foi roubada prestes a subir ao altar. Hoje, passados todos estes meses, a situação até que se encontra um pouco mais amena, mas o medo ainda permanece.
“Devido a esse grande número de casos que aconteceram principalmente em 2016, muitos fiéis deixaram de vir para as nossas missas e demais atividades. Parece que atualmente os bandidos estão um pouco mais de sobreaviso e estão circulando um pouco menos por aqui, mas, mesmo assim, o medo continua. Não nos sentimos totalmente salvos das ações desses criminosos”, analisou o padre da Igreja das Graças, Miguel Ângelo.
Principal representante da Igreja Católica em Caruaru, o bispo dom Bernardino Marchió lamentou a crescente onda de crimes que vêm ocorrendo nas unidades e nos seus entornos. Segundo o religioso, este aumento da violência estaria sendo provocado por vários fatores. “Avalio que não só é falta de policiamento nas ruas. Infelizmente, hoje, milhares de pessoas perderam valores, como a ética e a moral, e têm praticado todo tipo de crime, inclusive abordando e roubando fiéis que saem das igrejas após a realização de missas, casamentos, batizados etc. O governo também tem as suas responsabilidades ao ter de implantar políticas públicas que possam atender a toda à população. Já em relação às nossas paróquias, temos feito recomendações de segurança para tentar inibir a audácia desses bandidos.”
Também procurado pela reportagem, o comandante do 4º BPM, tenente-coronel Ely Jobson, afirmou que a Polícia Militar irá intensificar as rondas nos bairros citados. “Uma das coisas que vêm mais prejudicando a polícia no tocante à implantação de trabalhos mais ostensivos tem se referido justamente à ausência de registros oficiais de queixas. Ou seja, na medida em que as vítimas não as registram, as informações não chegam, e acabamos não fazendo planejamentos operacionais. Desta forma, solicitamos que essas pessoas nos procurem prestando queixas nas delegacias e nos repassando informações através dos nossos canais (3719-4545 e 99488-7527) para que possamos deter esses bandidos. De antemão, ressaltamos que iremos reforçar a circulação de viaturas nessas localidades.”
