Dia do Trabalho: uma data para se festejar ou lamentar

Sine (8)

Pedro Augusto

Se para alguns esta segunda-feira (1º) corresponderá ao terceiro feriado consecutivo de 2017, o que certamente os direcionarão para o descanso, à prática do lazer e à caída na balada na noite anterior, para outros o período citado avolumará os seus pensamentos preocupantes e tristes escancarando ainda mais o problema da falta de ocupação. Quem ainda não conseguiu se recordar da data, por qualquer que seja o motivo, ela se refere ao tradicional Dia do Trabalho. Diante do verdadeiro tsunami que a economia brasileira vem enfrentando desde 2015, assim como ocorreu no ano passado, em 2017 menos trabalhadores caruaruenses terão motivos para comemorar o dia alusivo a eles.

De acordo com o levantamento da Agência Regional do Ministério do Trabalho e Emprego, no acumulado deste ano 1.204 pessoas perderam o emprego no mercado formal de Caruaru. Em comparação com o mesmo período de 2016, a alta no quantitativo de postos de trabalho desativados correspondeu a 13%. Neste intervalo específico, o segmento que mais demitiu na cidade foi o de serviços, com 684 profissionais dispensados. Na sequência vieram o comércio, com 435 exonerações, e a construção civil, com 74 postos desativados. Já em relação especificamente ao último mês de março, 162 pessoas acabaram sendo demitidas no cenário local.

A cada dia útil da semana, a superlotação de desempregados na estrutura física da Agência do Trabalho de Caruaru, no Bairro Maurício de Nassau, vem exemplificando a atual realidade em que se encontra o mercado formal do município. Para se ter ideia, apesar de possuir uma área territorial satisfatória para uma unidade do Interior, hoje a agência não tem conseguido mais comportar o número de pessoas à procura de uma oportunidade de emprego. Devido à alta demanda, vários candidatos têm aguardado a vez de avançar no processo de atendimento na área externa da unidade.

Quando chegam até as cadeiras, eles não têm perdido a oportunidade de alimentar o desejo de dias melhores. Esse é o caso do desempregado David Ferreira Martins. Sem carteira assinada há nove meses, ele não vê a hora de retornar ao mercado. “Você pode até não acreditar, mas, sempre quando sento por aqui, o meu coração fica disparado e a ansiedade aumenta, porque passo a ficar em frente ao pessoal do atendimento. Atualmente, o emprego está tão difícil em Caruaru que as pessoas, assim como eu, têm aceitado exercer funções até mais simples do que as suas atribuições. Mas não podemos desanimar. Deus não desampara ninguém e um dia alcançarei a minha vaga.”

Outro que não terá motivos para comemorar o Dia do Trabalho 2017 vai ser Aílton Silva. Desempregado há um ano e quatro meses, o jovem pintor disse estar recebendo ajuda da família para conseguir sobreviver. “Essa crise prejudicou e ainda está prejudicando muita gente. Tem hora que bate um desespero que só quem sabe é a gente que está desempregada. Quem estiver empregado, mesmo ganhando mal, comemore bastante este Dia do Trabalho, porque a situação está muito difícil. Para chegar até aqui à agência precisei pedir dinheiro para os meus familiares. Se não fosse eles, nem sei o que seria de mim.”

David Ferreira e Aílton Silva são apenas duas entre as centenas de pessoas que têm procurado diariamente a Agência do Trabalho de Caruaru em busca de uma vaga. De acordo com o coordenador Tássio Patrese, a unidade local vem prestando atendimento a cerca de 300 pessoas a cada data útil. “É claro que neste montante existem aquelas pessoas que querem dar entrada no seguro desemprego ou querem tirar a carteira de trabalho, mas, na maioria dos casos, temos prestado atendimento justamente para aquelas que estão à procura de uma oportunidade. Para se ter ideia, somente no primeiro trimestre deste ano atendemos as demandas de 10.620 candidatos contra 9.083 no mesmo período de 2016”, informou.

Segundo a avaliação de Tássio, os índices elevados de desemprego formais na cidade tendem a diminuir somente no segundo semestre. “Os números citados ressaltam muito bem que neste ano uma grande parcela de trabalhadores não terá motivos para festejar o Dia do Trabalho. Isso é muito preocupante porque temos observado um quantitativo muito elevado de pessoas que se encontram desocupadas, seja à procura do primeiro emprego ou de uma recolocação no mercado de trabalho com idades das mais variadas, ou seja, do mais jovem ao idoso. Quem esperava que a situação fosse melhorar já no início de 2017 pode deixar este pensamento de lado. A expectativa agora é de que os empregos voltem a aparecer num volume maior somente no segundo semestre”, concluiu.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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