Missa e lançamento marcam início da Quaresma

Pedro Augusto

Assim como dita a tradição, tão logo o Carnaval se despediu do calendário 2018, o período da Quaresma foi iniciado. Na Quarta-feira de Cinzas (14), a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, no Centro, comportou um extenso número de fiéis, que esteve acompanhando atentamente à Missa de Cinzas, presidida pelo bispo dom Bernardino Marchió. Em paralelo a ela, a data ainda serviu para que a Diocese de Caruaru lançasse, oficialmente no território local, a Campanha da Fraternidade deste ano. Em 2018, a CF, como também é conhecida, possui como tema “Fraternidade e Superação da Violência” e o lema “Em Cristo, somos todos irmãos”.

Durante a celebração, dom Bernardino Marchió reforçou a importância dos dois atos. “A vida é maravilhosa, mas ela é passageira. Hoje estamos aqui, mas quem sabe se estaremos no próximo ano? As Cinzas da Quarta-feira representam justamente esta simbologia da vida, que deve ser dotada de bastante alegria, otimismo e caridade. Encontramos-nos aqui hoje (última quarta-feira) neste ato de fé para ressaltarmos a toda comunidade católica de Caruaru e da região que a vida passa e sempre devemos fazer o bem. Ainda mais nos tempos de hoje, onde a violência, infelizmente, vem imperando.”

Em relação ao segundo ato posto em prática na data, ou seja, o lançamento da Campanha da Fraternidade 2018, o bispo de Caruaru realçou que o combate à violência inicia no seio familiar. “Através desta campanha, convidaremos todas as famílias a cultivar o amor ao próximo, a tolerância, a fraternidade e a paz, haja vista que é a partir de dentro de casa que a violência é deixada para trás. As escolas, os órgãos públicos e as demais instituições também precisam se engajar cada vez mais para modificar essa realidade cruel e difícil, que estamos tendo de encarar devido à criminalidade. Durante esse período de campanha, estaremos atuando em conjunto com a Polícia Militar para aplicarmos as medidas necessárias”, afirmou.

Outro representante da Igreja Católica em Caruaru, o padre da Paróquia de Nossa Senhora das Dores, Zenilson Tibúrcio, também comentou sobre o tema da CF deste ano. “A proposta da campanha é justamente tentar superar a violência, com a certeza de que todos nós somos irmãos. Primeiramente, precisamos cultivar a nossa paz interior para que possamos expandi-la no cotidiano. Em seguida, devemos praticar gestos de cordialidade, seja por palavras ou por ações, até porque, atualmente, temos observado uma intolerância e uma impaciência muito grande no que diz respeito às relações humanas”, disse.

Quaresma

O Tempo da Quaresma é o período do ano litúrgico que antecede a Páscoa cristã, sendo celebrado por algumas igrejas cristãs, dentre as quais a Católica, a Ortodoxa, a Anglicana e a Luterana. Os serviços religiosos desse tempo intentam a preparação da comunidade de fiéis para a celebração da festa pascal, que comemora a ressurreição e a vitória de Cristo depois dos seus sofrimentos e morte, conforme narrados nos Evangelhos. Esta preparação é feita por meio de jejum, abstinência de carne, mortificações, caridade e orações.

CNBB

Durante o lançamento nacional da Campanha da Fraternidade 2018, ocorrido também na quarta, em Brasília, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) apontou formas e tipos de violência no Brasil, dando destaque às praticadas contra os negros, os jovens e as mulheres. “Os grupos sociais vulneráveis são as maiores vítimas da violência”, disse o presidente da entidade, cardeal Sérgio da Rocha.

“A Igreja sempre tem alertado sobre a perda de direitos sociais. Não podemos admitir que os mais pobres arquem com sacrifícios maiores. Precisamos de políticas públicas para nos ajudar a superar e a assegurar os direitos fundamentais que as pessoas têm”, defendeu o cardeal.

No evento, o presidente da CNBB listou, também como prática violenta, a corrupção. “A corrupção é uma forma de violência, e ela mata”, disse o cardeal. Segundo ele, “ao desviar recursos que deveriam ser usados em favor da população, os políticos acabam promovendo outra forma de violência contra o ser humano, a miséria”.

“Queremos superar também formas de violência como as representadas pela miséria e pela falta de vida digna”, argumentou o religioso, que criticou também os políticos que vêm adotando em seu discurso o uso da violência como forma de combate à violência. Segundo o cardeal, a Igreja Católica vem atuando no sentido de esclarecer seus seguidores sobre o risco desse tipo de política. “É um equívoco achar que superaremos a violência, recorrendo a mais violência. Nesse sentido, a igreja está orientando os eleitores, ajudando-os a formar sua consciência e a identificar quais candidatos estão comprometidos com a paz”, disse.

Ainda pontuando as formas de violência, ele citou o uso das redes sociais, onde, segundo ele, identifica-se “um triste crescimento da agressividade”. O cardeal disse, ainda, que os meios de comunicação “são vitais para a superação da violência”. Ele, no entanto, criticou as programações violentas em busca de audiência. “Quanto mais filmes violentos assistirmos, mas violentos nós seremos”.

A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, em declaração durante o lançamento da campanha, disse que a iniciativa dá a “tônica à imperativa mudança que se impõe, de que o irmão é um aliado”. “Precisamos caminhar de mãos dadas, e não de punhos cerrados. Essa é a melhor forma de lidarmos com essa campanha. Minha mãe dizia, quando eu era criança, que se tivesse algum problema era para eu procurar um adulto por perto. Hoje vejo mães e professores desconfiarem e temerem adultos que chegam próximo às escolas. Quem se aproxima pode ser inimigo. Estamos fazendo do outro não um irmão, mas um inimigo a se combater”, argumentou a magistrada.

O coordenador da Frente Parlamentar pela Prevenção à Violência e Redução dos Homicídios, deputado Alexandre Molón (Rede-RJ), disse que a campanha da CNBB aborda uma das grandes preocupações do país, em função do enorme número de homicídios aqui praticados. “Foram mais de 60 mil homicídios em 2017, e foram 61 mil em 2016. Se considerarmos que a bomba de Nagasaki (explodida no Japão pelos norte-americanos ao fim da 2ª Guerra Mundial) matou instantaneamente 80 mil (pessoas), podemos dizer que a cada ano morre, no Brasil, o equivalente a uma bomba de Nagasaki”, disse o deputado.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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