Mais de 160.000 mortes no mundo provocadas pelo coronavírus

A pandemia do novo coronavírus provocou a morte de pelo menos 160.685 pessoas no mundo desde que surgiu na China em dezembro, segundo um balanço estabelecido às 09H00 GMT (6H00 de Brasília) pela AFP com base em dados de fontes oficiais.

Desde o início da epidemia foram registrados mais de 2.334.130 casos de contágio em 193 países ou territórios. O número de casos positivos diagnosticados reflete apenas, no entanto, uma parte do número total de infecções devido às políticas díspares dos países para diagnosticar casos (alguns incluem apenas os hospitalizados). As autoridades acreditam que até o momento pelo menos 518.900 pessoas foram curadas da doença.

O número de mortos nos Estados Unidos, que registraram a primeira morte vinculada ao vírus no fim de fevereiro, chegou a 39.090. O país registrou 735.287 contágios. As autoridades consideram que 66.819 foram curadas.

Depois dos Estados Unidos, os países mais afetados são Itália, com 23.227 mortos e 175.925 casos, Espanha (20.453 mortos e 195.944 casos), França (19.323 mortos e 151.793 casos) e Reino Unido (15.464 mortos e 114.217 casos).

A China continental (sem contar Hong Kong e Macau), onde a epidemia teve início em dezembro, registra 82.735 pessoas contagiadas, com 4.632 mortos e 77.062 curados. Nas últimas 24 horas o país teve 16 novos casos e nenhuma vítima fatal.

AFP

Crise expõe 81% da força de trabalho a riscos

Oito de cada dez trabalhadores brasileiros correm o risco de perder o emprego ou parte da renda por causa do impacto da epidemia do coronavírus na atividade econômica, segundo um novo estudo realizado por um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP).

A análise do grupo indica que mesmo trabalhadores com vínculo formal, e que atuam em atividades consideradas essenciais que podem continuar sendo exercidas apesar das medidas de isolamento impostas pelas autoridades para conter a transmissão do vírus, tornaram-se vulneráveis diante da crise.

Segundo os cálculos dos pesquisadores, o grupo mais frágil reúne cerca de um quarto da força de trabalho, ou 24 milhões de pessoas. São em geral informais empregados em atividades não essenciais e que, portanto, foram mais afetados pela paralisia da economia na quarentena.

Outro grupo, correspondente a 55% do pessoal ocupado, e que reúne 52 milhões de trabalhadores, se mostra vulnerável apesar de ter vínculo formal, ou mesmo trabalhando em atividades consideradas essenciais, segundo o estudo. Juntos, os grupos representam 81% da força de trabalho.

“Pessoas que teriam melhores condições de enfrentar crises econômicas no passado estão desprotegidas diante da epidemia”, diz o sociólogo Rogério Barbosa, um dos coordenadores do grupo, parte de uma rede multidisciplinar que começou a estudar o impacto das políticas de combate ao coronavírus.

Para avaliar o grau de vulnerabilidade da força de trabalho, o estudo analisou sua composição antes da epidemia, de acordo com o vínculo com o empregador e o setor de atividade, conforme os últimos dados publicados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), referentes a dezembro.

Informações do Google sobre a mobilidade nas grandes cidades, dados da Cielo sobre transações com cartões de crédito e pesquisas do Sebrae foram usados para avaliar os efeitos da epidemia nos diferentes setores de atividade econômica.

Entre os trabalhadores ameaçados mesmo com vínculo formal em atividades essenciais estão funcionários de bares, restaurantes e comércio de alimentos, que, embora continuem trabalhando, foram afetados pela queda de movimento provocada pelas políticas de isolamento social adotadas pelos estados.

O governo lançou nas últimas semanas várias medidas desenhadas com o objetivo de proteger a renda dos mais vulneráveis e preservar empregos, incluindo um auxílio emergencial de R$ 600 para trabalhadores do setor informal e compensações para os que tiverem redução de jornada e salário no setor formal.

Muitos trabalhadores que perderam renda abruptamente por causa da paralisia de suas atividades levarão mais tempo para conseguir o auxílio emergencial porque não faziam parte do cadastro dos programas sociais do governo antes da epidemia e entrarão depois na fila dos benefícios.

O grupo da USP pretende examinar nas próximas semanas o impacto da crise econômica sobre as famílias. O pressuposto é que famílias mais numerosas com vários integrantes entre os grupos vulneráveis sofrerão mais durante o período de isolamento e deveriam receber maior atenção das autoridades.

Nas famílias mais pobres, no máximo duas pessoas em cada domicílio podem receber o auxílio emergencial. Mulheres solteiras que são as principais responsáveis pelo sustento de suas famílias têm direito a R$ 1.200 se preencherem os requisitos do programa.

Os pesquisadores da USP incluíram entre os grupos mais frágeis microempreendedores e funcionários de empresas com menos de cinco trabalhadores, que reuniam metade da força de trabalho ocupada antes da crise.

“Muitas dessas empresas não conseguirão sobreviver e preservar os empregos dessas pessoas se não tiverem acesso a crédito durante a crise”, diz Barbosa. “Isso significa que as políticas de garantia da renda desses trabalhadores podem se revelar insuficientes depois que o pior da crise passar.”

Folhapress

Confederação Nacional de Municípios lança campanha

Com a pandemia do novo coronavírus, o isolamento social é necessário, mas tem preocupado o movimento municipalista, principalmente em relação ao cenário econômico das cidades.

Por esse motivo, a Confederação Nacional de Municípios (CNM) lançou uma campanha para engajar prefeitos, empresários e entidades sobre a importância de conscientizar a população a valorizar o turismo nacional, assim que as atividades voltarem à normalidade.

A campanha, denominada “Municípios juntos pelo Turismo”, inclui um plano estratégico direcionado ao lazer e aos eventos. O objetivo da CNM é orientar os prefeitos para que preparem estruturas e planos para a retomada de visitas turísticas em breve.

Na avaliação da entidade, o gestor que definir bem as ações antecipadamente conseguirá superar a crise atual com mais facilidade. A campanha prevê ainda o incentivo para que turistas e empresas remarquem viagens e solenidades agendadas antes do surgimento do novo coronavírus.

Na mesma linha, o Ministério do Turismo também defende a remarcação de viagens afetadas pela pandemia. Entre as ações, está o alinhamento de estratégias para orientar turistas e empresários sobre a importância da utilização da plataforma consumidor.gov.br para reagendamentos de passagens e hospedagem, por exemplo.

Governo Federal cria comitê para impulsionar a economia no período pós-pandemia

Com o objetivo de diminuir os impactos econômicos causados pelo coronavírus, o Governo Federal criou um grupo de trabalho para definir estratégias de recuperação financeira pós-pandemia. O Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19 vai desenvolver ações e estratégias para salvar vidas e impulsionar a criação de empregos e investimentos no Brasil. É o que informa o ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto.

“O Governo Federal continua firme no propósito de salvar vidas e manter empregos e, atendendo à determinação do presidente, criou um grupo de trabalho de coordenação de ações estruturantes e estratégicas de recuperação, já prevendo as ações pós-pandemia”.

Segundo o Governo Federal, foram destinados R$ 284 bilhões para o combate ao coronavírus, o que equivale a 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB). Para o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, os programas de concessão realizados pelo Ministério da Infraestrutura são fundamentais para a retomada do crescimento do país.

“Estamos percebendo o investidor estrangeiro interessado nos nossos projetos. O interesse não caiu; pelo contrário, aumentou. E a gente está vendo o seguinte: o programa de concessão vai prosperar e vai ser uma alavanca importante de retomada, de recuperação de emprego e de investimento na infraestrutura”.

Na avaliação de integrantes do Governo Federal, o auxílio emergencial de R$ 600, que já começou a ser entregue a milhões de famílias brasileiras, também é importante para impulsionar a economia. O Ministério da Economia afirma que os gastos feitos pelo governo durante a pandemia colocam o Brasil entre as Nações que mais investem para combater a Covid-19.

Benefício emergencial já preservou quase 2 milhões de empregos

Mais de 1,7 milhão de empregos foram preservados pelo Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, instituído pelo Ministério da Economia por meio da Medida Provisória 936. Os dados foram processados pela Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência, a Dataprev, até a tarde da última quarta-feira (15).

Segundo o Programa, trabalhadores que tiveram jornada reduzida ou contrato suspenso têm direito ao Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda. Já aqueles trabalhadores intermitentes com contrato de trabalho formalizado tem direito a auxílio emergencial.

O secretário de Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Dalcomo, ressaltou a importância da rapidez com que as medidas foram implementadas.

“Esse é um arcabouço, ferramental, um conjunto de instrumentos dedicados à preservação do emprego que foram entregues em um momento ainda precoce da crise, de maneira a maximizar a preservação dos empregos. O Brasil agiu rápido. É logico que todo mundo sempre quer que as medidas sejam ainda mais rápidas mas nós conseguimos colocar na rua esse conjunto de medidas antes que houvesse uma espiral de desemprego, como já acontece em outros países do mundo.”

O benefício aos trabalhadores é calculado baseado no valor mensal do seguro-desemprego a que o empregado teria direito. O percentual do seguro-desemprego será proporcional à redução para os casos de diminuição da jornada de trabalho e de salário.

A compensação será paga independente do cumprimento de período aquisitivo, de tempo de vínculo empregatício ou do número de salários recebidos. A estimativa é que o valor total do investimento seja de cerca de R$51,2 bilhões oriundos de recursos da União.

O Secretário de Trabalho, Bruno Dalcomo, comemorou o número de 1,7 milhão de empregos preservados, seguindo a intenção do Ministério de poupar os trabalhadores.

“O objetivo principal é evitar o rompimento das relações trabalhistas ao longo desse prazo, até porque isso poderia engendrar um volume de judicialização trabalhista posterior muito grande, dado que as empresas, muitas vezes, não teriam a capacidade financeira de, nesse momento, honrar com as verbas rescisórias.”

Mais informações sobre o Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda estão disponíveis no site gov.br/economia.

Secretaria de Riacho bate meta de imunização contra a gripe

A Secretaria de Saúde de Riacho das Almas está comemorando os resultados da primeira etapa da campanha de vacinação contra a gripe. Na primeira fase, a campanha imunizou profissionais de saúde e idosos. A meta era imunizar 95% de cada público alvo. Dos profissionais de saúde, a meta de 95% foi alcançada. Já em relação aos idosos, 100% do público-alvo foi atingido.

Para a segunda etapa da imunização, iniciada nesta quinta-feira (16), o público alvo são os motoristas do transporte público e caminhoneiros, profissionais das forças de segurança e ligados ao sistema prisional, população privada de liberdade e pessoas com doenças crônicas.

A segunda etapa da campanha de vacinação contra a gripe segue até o dia 08 de maio. As doses da vacina estão disponíveis em todas as Unidades Básicas de Saúde do município.

Espanha supera 20.000 mortes por coronavírus

A Espanha superou neste sábado a marca de 20.000 mortes provocadas pela pandemia de coronavírus, com 565 vítimas fatais nas últimas 24 horas, 20 a menos que o número registrado na sexta-feira, anunciou o governo.

Em seu balanço diário, o ministério da Saúde informou um total de 20.043 mortes até o momento no país, o terceiro mais afetado do mundo em número de vítimas fatais, atrás dos Estados Unidos e da Itália.

Os casos confirmados subiram para 191.726, após uma desaceleração do avanço da doença nos últimos dias, e os curados a 74.662, quase 1.700 a mais que na sexta-feira.

“O nível de transmissão atual é muito menor”, disse Fernando Simón, diretor do Centro de Emergências Sanitárias.

A Espanha completa neste sábado cinco semanas de confinamento da população, determinado pelo governo do primeiro-ministro Pedro Sánchez para impedir o avanço da pandemia.

O confinamento deve prosseguir pelo menos até 25 de abril, mas o governo já advertiu que pode anunciar uma nova prorrogação da medida.

Simón destacou que o comitê científico que assessora o governo “entende que as medidas de controle devem ser prorrogadas”.

Porém, em meio a uma crescente pressão social para, por exemplo, permitir a prática de esportes por um período do dia ou sair às ruas com as crianças, o especialista admitiu que as medidas “podem ser adaptadas”.

O ministério da Saúde anunciou na sexta-feira uma mudança na metodologia de seu balanço, que agora também passa a incluir os testes sorológicos, ou seja, exames que permitem detectar se uma pessoa superou a doença e desenvolveu anticorpos.

Estes exames estão apenas começando no país (até o momento 1.194 pessoas apresentaram resultado positivo no teste de anticorpos, segundo o governo) e serão fundamentais para saber, mais à frente, qual o percentual da população que desenvolveu defesas contra o coronavírus.

Os dados servirão para organizar a saída do confinamento e a retomada das atividades sociais e econômicas, segundo um plano que o governo prevê que será escalonado e que pode ser organizado até o fim do ano.

Várias administrações regionais passaram a questionar o dado oficial de mortos divulgado pelo governo central, já que milhares de pessoas faleceram vítimas do coronavírus sem ter acesso a um teste que confirme a presença da doença no organismo.

O governo da Catalunha, que citou informações divulgadas por funerárias, afirmou que até o momento morreram 7.881 pessoas por coronavírus, enquanto o balanço oficial do ministério da Saúde neste sábado para a região cita 3.879 óbitos.

A região de Madri, a mais afetada com 7.132 mortos, oficialmente, também afirmou que o número real pode ser consideravelmente maior.

AFP

Governo prorroga fechamento do comércio e atividades não essenciais até 30 de abril

Seguindo as orientações de isolamento social da Secretaria Estadual de Saúde, em consonância com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e buscando a redução do avanço do novo coronavírus em Pernambuco, o governador Paulo Câmara anunciou, nesta sexta-feira (17), a prorrogação do fechamento do comércio e das demais atividades não classificadas como essenciais durante a pandemia do novo Coronavírus. A nova medida é válida até 30 de abril.

Continuam abertos, entre outros, serviços relacionados à alimentação, como supermercados, padarias mercadinhos; casas de ração animal; farmácias e depósitos de água mineral e gás; além de hospitais e serviços de abastecimento de água, gás, energia e internet.

Oficinas mecânicas, lojas de assistência técnicas, lojas de defensivo e insumos agrícolas, bancos e serviços financeiros, lavanderias, serviços urgentes de manutenção predial e prevenção de incêndio, atividades decorrentes de contratos de obras particulares que estejam relacionadas à situação de emergência e atividades prestadas por concessionários de serviços públicos também podem seguir funcionando.

Na sexta-feira, a Secretaria Estadual de Saúde confirmou 323 novos casos da Covid-19 em Pernambuco, totalizando 2006 casos registrados da doença. Também foram confirmados laboratorialmente 26 novos óbitos, elevando para 186 o número de mortes relacionada ao novo Coronavírus.

Folhape

Isolamento social torna avanço do coronavírus mais lento em Pernambuco e outros estados

Quem acompanha, desde o início, as notícias sobre o novo coronavírus dificilmente ouviu ou leu constatação mais comum do que o fato de que se sabe muito pouco sobre o agente infeccioso que parou o mundo na cibernética e globalizada década de 20 do século 21. E essa incerteza é a tônica do debate sobre questões diversas que influenciam as decisões políticas e impactam o dia a dia em meio à crise.

Entre elas, a extensão do isolamento social, a forma e o momento em que será viável retomar as atividades econômicas e até que ponto o sistema de saúde será capaz de garantir o atendimento à população e evitar o colapso da falta de leitos, em que o pior cenário seria a equipe médica ter de escolher quem deve ser atendido e quem deve morrer.

Para que essas questões sejam analisadas, é preciso entender, primeiro, o comportamento do vírus. Estima-se que o número de reprodução básica, o R0, do Sars-Cov-2 fique entre 2 e 3, o que significa dizer que uma pessoa infectada contamina, em geral, outras duas ou três. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa de letalidade é dez vezes maior que a do H1N1.

A velocidade com que a doença se espalha é maior do que a capacidade de distribuição e realização de testes no País, que é insuficiente para o tamanho da população. Mas, para mapear de forma mais precisa a expansão do vírus pelo território, é necessário mais do que notificar os casos graves, como tem sido feito. Os assintomáticos, isto é, os pacientes que não apresentam sintomas, também deveriam ser contabilizados.

Além disso, falta compreender a própria gravidade da Covid-19 e as implicações que isso acarreta: de onde vem essa capacidade de transmissão tão alta; por que ela afeta algumas pessoas mais do que outras, ainda que as condições de saúde e qualidade de vida sejam parecidas; se é capaz de infectar o mesmo paciente mais de uma vez; e, principalmente, qual o medicamento mais eficaz. Fora isso tudo, estuda-se a possibilidade de produção de uma vacina que imunize as pessoas contra a doença.

Diante de tantas dúvidas, outra constatação muito comum é a necessidade de “achatar a curva” de crescimento da pandemia. Isso significa retardar o aparecimento de novos casos para que, em vez de atingir todo mundo de uma vez só, o vírus tenha uma expansão mais prolongada, dando tempo para a abertura de vagas no sistema de saúde.
Por isso, as medidas de incentivo ao isolamento social.

“Nós estamos subindo uma montanha no escuro e a nossa lanterna, que é a quantidade de testes, é muito fraquinha. Quando você está no escuro e não sabe para onde está andando, o que você faz? Para e vai tateando. Estamos nessa situação. Fazer mais testes é como colocar mais velas na casa”, compara Jones Albuquerque, pesquisador do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Descrito o cenário atual, cientistas tentam descobrir por onde e de que forma a Covid-19 deverá se expandir nos próximos dias. Outra questão que fica é: qual o impacto real das medidas de isolamento social sobre a evolução dos casos? A Folha de Pernambuco conversou com pesquisadores locais e de outros estados para compreender melhor esse panorama. E, em todos esses lugares, a boa notícia é que o avanço da infecção está mais lento do que antes das ações restritivas.

Projeções
A nova pandemia mobiliza a comunidade científica de todo o mundo em busca de soluções para os impactos que a doença causa em cada sociedade. Em Pernambuco, universidades e instituições como as fundações Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Joaquim Nabuco (Fundaj) reúnem dados estatísticos que acompanham a contagem diária de casos e mortes, considerando a realidade dos locais onde as notificações são feitas.

Professor do Departamento de Estatística e Informática da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Jones Albuquerque observa que a curva do gráfico no Estado começou a se achatar depois dos decretos que restringem a circulação de pessoas e estabelecem o distanciamento social. Com base nos números que tem monitorado, ele estima que o número de mortes seria cerca de dez vezes maior do que o atual caso as medidas não tivessem sido tomadas. “Se estávamos numa ordem de grandeza de milhares, caímos para centenas. Se hoje estamos em mais de cem mortos, se não tivéssemos feito nada, estaríamos com mais de mil”, explica.

O levantamento realizado pelo professor considera o ritmo de crescimento da Covid-19 na Itália comparado com o início do contágio em Pernambuco. “Até 29 de março, estávamos acompanhando a Itália, na mesma velocidade. Então, a gente muda isso e cai para outra curva”, afirma Albuquerque, que toma como referencial o número de mortes registradas. “No dia 10 de abril, tínhamos 32 óbitos, quando as projeções apontavam para cerca de 300. E eu atribuo isso às campanhas de isolamento social”, conclui. Com relação ao número total de casos confirmados, as projeções indicam que, neste fim de semana, o Estado pode chegar a 2.196 notificações até o domingo, 19 de abril.

Embora por metodologias de pesquisa diferentes, essa diferença entre os casos projetados e os que se confirmaram na realidade também foi observada em outros estados. Um estudo realizado pelos departamentos de Física e Epidemiologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) mostra que, por lá, os registros de confirmações para Covid-19 apresentaram um ritmo mais lento poucos dias após os decretos.

“Há um crescimento exponencial que Fortaleza teria se não houvesse a contenção, enquanto a curva de casos confirmados continua com outra inclinação, muito mais linear. E a diferença entre essas duas curvas seria a quantidade de casos a mais. A partir do dia 26 ou 27 de março, a primeira tem um crescimento tão grande que a outra vai ficar tão achatada que fica próximo a zero e a escala das duas não fica mais compatível”, explica o professor de Física e coordenador da pesquisa, José Soares.

Por isso, o cientista acredita que, se as regras de distanciamento social forem flexibilizadas agora, o aumento no número de casos voltará a crescer vertiginosamente. Para continuar acompanhando o avanço da doença e fazer novas projeções, ele adotará um modelo estatístico mais complexo. “O modelo que usamos é bom para pequenos tempos iniciais. Mas o que sabemos pelo próprio comportamento da pandemia na China é que devemos levar em conta as pessoas que têm sintomas leves, moderados e graves e os assintomáticos, que seriam na ordem de 84% das pessoas contaminadas. E o epidemiologista, o físico e o matemático não sabem quantas dessas pessoas são”, diz.

Ao se deparar com resultados semelhantes, o professor de Física José Fernando Diniz Chubaci, da Universidade de São Paulo (USP), ressalta a rapidez com que as medidas de isolamento tiveram efeito sobre a evolução dos casos. “No começo da pandemia, São Paulo tinha mais casos que o Brasil, e isso foi crescendo. E todo dia eu ia registrando. Aí eu percebi que São Paulo estava diminuindo o ritmo de crescimento, e o Brasil estava muito rápido. Os governos tomando a iniciativa de fazer a política pública de isolamento social, rapidamente você tem a resposta”, comenta.

Com uma propagação muito rápida, a capacidade de transmissão do coronavírus constitui um desafio para os estudiosos, que esbarram em diversas variáveis. “Quando eu olho que alguém está infectado, é porque ele fez o exame. Quando começou a infecção dele? Pode colocar uma semana para trás. Ou seja, o que a gente vê agora é sempre olhando o passado”, explica Jones Albuquerque.

Mapeamento
Apesar da falta de informações mais completas que seriam viabilizadas pela testagem em massa, pesquisadores da Fundaj põem no mapa os números oficiais registrados até o momento. No painel disponível no site da instituição, é possível visualizar quais os locais mais afetados e para onde o vírus está se expandindo. De acordo com o coordenador do Centro Integrado de Estudos Georreferenciados para Pesquisa Social (Cieg) da instituição, Neison Freire, as áreas com a maior probabilidade de contaminação coincidem com as de maior adensamento populacional.

“[O coronavírus] está indo em todas as direções, mas existe uma principal. O eixo de dispersão, como a gente tecnicamente se expressa, é onde temos o maior número de contaminados e tem uma direção nordeste-sudoeste. Ele vai de Fernando de Noronha, passando pela Região Metropolitana do Recife, em direção a Palmares, na Mata Sul”, detalha. “Em cada local, o vírus vai se adaptando às condições geográficas e à ocupação urbana, se ela é mais densa, mais precária. Então, ele está procurando as áreas mais populosas e onde as pessoas não estão cumprindo como deveria o isolamento social”.

Na última sexta-feira (17), durante coletiva de imprensa virtual, o secretário de Saúde do Estado, André Longo, reafirmou a necessidade de manter a política de distanciamento, citando um “pequeno” estudo desenvolvido no Recife que indica que mais de 200 vidas chegaram a ser poupadas. “Isso já faz um tempo atrás, acho que até tem que atualizar”, informou. O gestor ponderou, no entanto, a taxa de isolamento, que hoje varia entre 50% e 60% da população, precisa aumentar. “Se tivéssemos praticado um isolamento na casa dos 70%, 75%, estaríamos [numa situação] muito melhor do que estamos hoje”, ressaltou.

Folhape

Demissão de Mandetta por Bolsonaro é reprovada por 64%, diz Datafolha

A demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde pelo presidente Jair Bolsonaro, em meio à crise da pandemia do novo coronavírus, foi reprovada por 64% dos brasileiros, mostra pesquisa do Datafolha feita nesta sexta-feira (17).

O levantamento aponta um empate técnico entre aqueles que acreditam que a condução da emergência sanitária pelo Ministério da Saúde sem Mandetta irá piorar (36%) ou melhorar (32%). O ex-ministro foi demitido na quinta (16), e passou o cargo para o médico Nelson Teich.

O Datafolha ouviu 1.606 pessoas por telefone, para evitar contato pessoal, e sua margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou menos. A pesquisa mostrou um estancamento na erosão da imagem do presidente como gestor da maior crise de saúde pública deste século. Sua aprovação oscilou positivamente, dentro da margem de erro, de 33% no levantamento feito de 1º a 3 de abril para 36% agora.

Assim, os satisfeitos empatam tecnicamente com os descontentes, que eram 39% e agora são 38%. O patamar de quem acha o desempenho presidencial ruim ou péssimo estabilizou-se em patamar acima do registrado na primeira pesquisa sobre a crise, feita de 18 a 20 de março: 33%.

Para 23%, o trabalho do presidente é regular, o mesmo nível (25%) da rodada anterior. Os parâmetros de desaprovação e aprovação do presidente seguem semelhantes. Ele é mais reprovado por mulheres (41%), mais ricos (acima de dez salários mínimos, 48%) e instruídos (com curso superior, 46%).

Perguntados se Bolsonaro tem capacidade para continuar liderando o país, 52% acham que sim e 44%, que não. Novamente, homens são mais favoráveis ao mandatário, com 58% de “sim”, número igual ao registrado entre moradores da região Sul, seu reduto eleitoral.

Embora não seja comparável metodologicamente com levantamentos presenciais anteriores, o índice de apoio a Bolsonaro se assemelha ao verificado na população em geral, o que tem determinado a atitude intransigente do presidente em relação às suas visões acerca da crise, contrárias à prática internacional no combate ao novo coronavírus.

Mandetta foi demitido na quinta (16), após um processo de fritura que demorou cerca de um mês devido ao fato de ele não concordar com as diretrizes defendidas por Bolsonaro.

O ex-ministro sempre foi claro acerca da defesa do isolamento social como instrumento de contenção de propagação do patógeno e se mostrou cauteloso, quando não cético, ao uso indiscriminado de cloroquina e hidroxicloroquina para tratar doentes.

Com efeito, o trabalho do Ministério da Saúde era aprovado por 76% no levantamento anterior, ante 33% do presidente. Ex-ministro, Mandetta registra na nova pesquisa uma avaliação positiva de seu trabalho de 70% dos ouvidos, ante 18% dos que o acharam regular e 7%, que o reprovaram.

Já Bolsonaro encampou uma disputa figadal com governadores de estado, o presidenciável João Doria (PSDB-SP) à frente, na qual a crítica às quarentenas e fechamento de comércio tomou lugar central. Para ele, que antes negava a gravidade da crise, o foco principal tem sido em tentar manter a economia funcionando.

Após dispensar Mandetta, ele voltou a subir o tom nesse sentido na posse de Teich. Além disso, o presidente vem propagandeando os medicamentos, que são alvo de estudos não conclusivos e apresentam contraindicações importantes, como uma provável panaceia para a Covid-19.

No campo da imagem, os governadores seguem à frente de Bolsonaro em aprovação, com 54% de ótimo ou bom. O índice, contudo, oscilou negativamente dentro da margem em relação à pesquisa anterior (58%). Rejeitam o trabalho dos estados 20% e 24%, o consideram regular.

Estão mais satisfeitos com seus governadores os moradores da região Sul (60%), Nordeste (60%) e Norte/Centro-Oeste (57%). Habitantes do Sudeste aprovam menos: 49% consideram os chefes locais bons ou ótimos no manejo da pandemia.

O corte estadual, quando aplicado a Bolsonaro, reflete a divisão política que marca o país desde a campanha eleitoral de 2018 -que, por sua vez, atravessou os anos do PT no poder, só que com o PSDB como antípoda do partido de Luiz Inácio Lula da Silva.

Assim, o Sul é o principal ponto de apoio ao trabalho do presidente, com 44% de aprovação, enquanto o Nordeste se mantém como castelo oposicionista: 46% acham que ele ruim ou péssimo. Igualmente, enquanto 58% dos sulistas veem Bolsonaro em plena capacidade de liderança, 53% dos nordestinos acham o contrário.

A troca do ministro é uma inflexão ainda incerta na crise. Por um lado, Teich representa uma escolha mais ponderada, ante as opções mais radicalmente bolsonaristas, quando não negacionistas abertos do vírus como o ex-ministro Osmar Terra, que estavam colocadas.

Introduziu a necessidade de olhar para aspectos econômicos da pandemia no discurso, alinhando-se a Bolsonaro, mas evitou declarações polêmicas. Ao defender a reabertura do comércio, ainda que admita o risco para as pessoas, Bolsonaro tem concentrado sua ação no ataque aos governadores. Mas não repetiu a minimização da crise, que teve seu auge num discurso em 24 de março e que levou a um maior isolamento político do presidente.

Por isso, apesar de aproximadamente 90% dos brasileiros possuírem acesso pelo menos à telefonia celular, o Datafolha não adota o método em pesquisas eleitorais, por exemplo.

O método telefônico exige questionários rápidos, sem utilização de estímulos visuais, como cartão com nomes de candidatos. Além disso, torna mais difícil o contato com os que não podem atender ligações durante determinados períodos do dia, especialmente os de estratos de baixa classificação econômica.

Assim, mesmo com a distribuição da amostra seguindo cotas de sexo e idade dentro de cada macrorregião, e da posterior ponderação dos resultados segundo escolaridade, os dados devem ser analisados com alguma cautela.

Na pesquisa divulgada nesta sexta-feira, feita dessa forma para evitar o contato pessoal entre pesquisadores e respondentes, o Datafolha adotou as recomendações técnicas necessárias para que os resultados se aproximem ao máximo do universo que se pretende representar.

Todos os profissionais do Datafolha trabalharam em casa, incluídos os entrevistadores, que aplicaram os questionários de suas casas através de central telefônica remota. Os limites impostos pela técnica telefônica não prejudicam as conclusões pela amplitude dos resultados apurados e pelos cuidados adotados.

Foram entrevistados 1.606 brasileiros adultos que possuem telefone celular em todas as regiões e estados do país. A margem de erro é de três pontos percentuais. A coleta de dados aconteceu nesta sexta (17).