Ex-candidato tucano à Presidência da República, o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) disse em entrevista ao Globo estar “de alma lavada” com a decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) que, nesta quinta-feira, o absolveu da acusação de corrupção passiva desencadeada a partir das gravações do empresário Joesley Batista, em 2017. Agora, Aécio diz ter “disposição é absoluta para reorganizar e reestabelecer o PSDB como uma alternativa nesse centro” e defende que o partido se posicione claramente como oposição ao governo Lula.
O TRF-3 inocentou o tucano da acusação de ter recebido R$ 2 milhões de propina do empresário Joesley Batista, um dos controladores da gigante J&F, dona da JBS. Joesley gravou conversas que teve com Aécio e as entregou ao Ministério Público Federal no âmbito de um acordo de delação premiada.
Ex-governador de Minas Gerais e uma das poucas lideranças históricas do PSDB a permanecer no partido, Aécio afirma que sofreu perseguição política por parte de integrantes do MPF, mais especificamente do ex-procurador-geral Rodrigo Janot e de sua equipe.
— A farsa foi desmascarada, mas ninguém vai apagar o prejuízo que houve no Brasil. Abortaram ali um projeto de centro reformista que estava em curso, que havia sido apresentado ao país em 2014 porque esse grupo tinha um projeto de poder no qual eu não me encaixava — afirmou ao GLOBO.
O político vê a decisão como uma oportunidade para “construir um projeto” político de centro e retomar protagonismo político.
— Essa decisão da Justiça me dá fôlego para ajudar a construir um novo caminho. O Brasil não merece viver definitivamente dessa dicotomia do bem e do mal. Minha disposição é absoluta de reorganizar e reestabelecer o PSDB como uma alternativa de centro. Não vou desistir de ajudar o Brasil a construir um projeto reformista ousado que nos tire dessa armadilha do radicalismo dos extremos. Hoje nós temos dois campos que se retroalimentam, o bolsonarismo e o lulismo. Um precisado outro para sobreviver. Existe vida inteligente fora dos extremos — afirma.
Apesar de elogiar o atual presidente do partido, o governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB), que tem pretensões de disputar a Presidência pelo PSDB, Aécio não descarta ser candidato. À frente do PSDB, Leite vem sofrendo críticas internas já por falta de um posicionamento de oposição mais efetivo, dizem tucanos.
— Não penso individualmente no momento (em ser candidato a presidente). A decisão definitiva da Justiça me coloca em condições de contribuir para um projeto de centro no Brasil. No ano passado, infelizmente o PSDB cometeu equívocos muito graves que nos impediram de ter uma candidatura presidencial. Vou trabalhar para que isso não ocorra novamente. Quem vai ser (o candidato) é o tempo e as circunstâncias que vão dizer, mas estou determinado, agora com mais ênfase e mais vigor, a unir as cabeças pensantes do Brasil, como fiz em 2014, para construirmos uma alternativa ao petismo e ao bolsonarismo — afirma Aécio Neves.
O tucano reitera que Leite, a quem apoiou como candidato à presidência do partido, “é um quadro extraordinário da política brasileira”, mas defende ajustes de rumo na gestão do partido.
— O que vamos discutir internamente é de que forma ele (Leite) pode contribuir mais com o partido, porque eu acho que o PSDB deve assumir com clareza o papel de oposição ao governo do PT, sem adjetivos. Uma oposição que não se nega a votar a reforma tributária, os avanços do Bolsa Família, que se contraponha às posições absurdas do presidente Lula em relação a ditaduras amigas, a essa gastança extraordinária do governo — disse Aécio.
Apesar de comandar uma ala do PSDB que demonstrou proximidade com o bolsonarismo durante o governo anterior, Aécio afirma que o ex-presidente cometeu “equívocos grandes”. Apesar do discurso crítico à operação Lava-Jato ser similar ao de Lula, Aécio diz ver diferenças em seu caso na comparação com os processos do petista.
— Eu fui absolvido das as acusações, é diferente (da situação de Lula). Mas que nós tivemos no Brasil setores do MPF e da Justiça agindo com objetivos políticos é muito claro. Três dos nomes que provavelmente disputaram as eleições em 2018 eram o presidente Lula, o então presidente Temer e eu, como candidato que havia disputado em 2014 e era natural que disputasse. Curiosamente, os três foram atacados por setores do Ministério Público e quem perdeu com isso foi o Brasil. A história ainda vai registrar isso — diz Aécio.
O Globo